Capítulo 1 🍎

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✧༺ Dominic ༻✧




A descoberta sobre quem você é as vezes se torna algo impossível, ou distante. Sentimentos confusos, se questionar o tempo todo, não aceitar de fato o que sente ou deseja.

Pensar que tudo não passa de sua imaginação, o medo de não ser aceito por aqueles que ama, admirar, sente, deseja e várias outras coisas. Mas percebemos que de nada adianta ter medo se não vivemos, ou amamos como queremos, ansiamos.

Deslizo meu dedo pelo vidro da janela acompanhando as gostas de chuva que escorregam por ali. Olho para cima no momento exato que um raio cruza o céu, a divisão entre um e o outro causando uma pequena explosão de luz, iluminando meu rosto por causa do vidro, mas segundos depois volta ao escuro novamente. Sempre gostei de admirar a chuva, sentir o frio, dormir escutando a canção das gostas entre o céu e o chão, sentir o calor ao mesmo tempo debaixo do edredom.

Meus pais se conheceram no verão de 1990 em uma lanchonete, dois opostos que derrepente se atraíram como um imã, em uma noite de outono. Um café caindo no chão e uma jaqueta suja com o líquido, dois olhares brilhantes e um sorriso de lado em dos lábios, e nesse momento perceberam que ali começaria um longa e perfeita história de amor.

Sarah Evans era somente uma garçonete meio período na pequena lanchonete ao norte da Califórnia, vivia com seus pais e vários irmãos, uma família grande podemos resumir, acordava todos os dias para trabalhar e a tarde ia para a escola. Minha mãe era querida por todos, apaixonante e chamativa, não somente por sua beleza, mas também por sua inteligência e carisma. Já meu pai, Christopher Adams era um play boyzinho rico, adorava exibir tudo que tinha e conseguia, não fazia esforço para ter nada, capitão do time da escola e se achava melhor que todos, mas tudo isso mudou quando ele conheceu minha mãe, e ela o odiava.

Esse ódio se prolongou por um ano e meio, até que em uma de suas milhares de idas para o trabalho ela acabou aceitando sair com ele, depois disso não se largaram, cada dia mais  apaixonados um pelo outro. Foram para a faculdade juntos e depois de formados resolveram se casar, bêbados em um cassino, emocionante.

Minha irmã nasceu dois anos depois desse casamento e eu vim no ano seguinte, mas com Gabe as coisas foram mais demoradas, meu irmão nasceu quando eu já tinha quinze anos, e eles finalmente decidiram parar por ali. Devido os negócios da família do meu pai nós mudamos da Califórnia quando eu tinha apenas seis meses de vida, e eu realmente deveria agradece-lo por isso.

No último verão no entanto algo ruim aconteceu, sofrir um acidente de carro enquanto vinha para casa de uma festa em comemoração, logo após a vitória do meu time. Pelo menos o é o que me contaram, já que eu não me lembro de absolutamente nada, somente o primeiro dia em que coloquei meus pés na escola logo após o retorno das férias, isso a um ano.

Minha cabeça doía e em certos momentos algumas lembranças vinham, mas nada do que aconteceu em 2017, esse ano simplesmente não existia para mim e isso me agonizava. Escuto a porta do meu quarto ranger devagar e desvio minha atenção para minha mãe, ela entra sorrindo para mim e fecha a porta atrás de si, sentando a minha frente, olhando-me como se eu fosse a coisa mais interessante do mundo.

— Têm certeza que deseja voltar esse ano? Podemos esperar mais um pouco — Pergunta baixo e eu abro um singelo sorriso afirmando. Seus cabelos longos negros e lisos caíam atrás de si, o sorriso singelo, mas ao mesmo tempo preocupado jamais deixava seus lábios desde o dia em que acordei, e eu sou complemente sua cópia, sem colocar e tirar nada.

— Eu estou bem mãe, não sinto dores a algumas semanas, minha cabeça está ótima — A tranquilizo. Por causa do acidente fiquei com algumas sequelas; dores, desconfortos, perda de memória e a parte do meu cabelo lateral se foi junto com a operação.

— Seus amigos ligaram de novo, Andrea está me deixando maluca, eu não suporto mais aquele garoto, por Deus — Ela revia os olhos sem paciência e eu solto uma risada divertida.

— Tenho certeza que essa ligação é para saber se pode vim me buscar, não é? — Questiono e ela afirma.

— Sim, e eu já neguei. Você só anda de carro agora comigo ou com seu pai, nada além disso, esteja avisado — Ela bate em meu joelho e eu afirmo sentindo seus lábios beijarem minha testa com carinho, fecho meus olhos com isso.

— Eu fiquei com tanto medo de perder você, por favor não faça mais isso, nunca mais — Pede e abro meus olhos, olhando-a em cima.

— Não vou, eu prometo — Falo ainda sorrindo e ela me deseja uma boa noite antes de sair, deixando-me sozinho novamente.

Observo seu corpo sumir após a porta ser fechada e volto à olhar para fora, sentindo algo diferente bater em meu peito, pensei que seria ansiedade ou medo por amanhã, já que eu seria um dos maiores assuntos por meses, mas havia algo estranho no ar, eu só não sei descrever o que seria. Busco meu novo celular em meu bolso, o antigo havia sido destruído pelo acidente, mas meu pai tinha o levado para o concerto, já que minhas composições estavam ali e eu precisava recupera-las.

Digito a nova senha e entro em minhas redes sociais, a sorte era que eu não trocava minhas senhas a dois anos e felizmente sabia todas. Me ajeito na poltrona e passo meus olhos por cada foto, comentário, curtida, havia até mesmo uma foto postada uma hora antes do acidente e outra com Adelle dois dias antes. Andrea abraçava meu pescoço junto a alguns outros jogadores e havia uma garrafa de bebida em minha mão esquerda.

Adelle é minha namorada desde o primeiro ano, algo clichê, capitão e lider de torcida, mas o estranho que durante todo esse tempo ela nunca havia vindo me visitar, sempre por mensagens, nunca pessoalmente, mas Andrea dizia que ela tinha ficado em choque depois de tudo que ocorreu. Passo meu dedo sobre a tela novamente e uma foto chama minha atenção, mas especificamente alguém, estava arquivada entre tantas outras. Havia uma pessoa sentada em uma moto, mas a fotografia tinha sido tirada somente da cintura para baixo, assim como as outras que estavam em meu perfil.

Deixo o aparelho ao lado e caminho até minha caveta de livros, eu não tinha tocado ali desde minha chegada a algumas semanas, até porque minha mãe fazia questão de que eu ficasse deitado a cada segundo e foi por essa razão que eu havia decidido voltar para a escola. Abro-a e franzo o cenho com tantos papéis guardados ali, retiro um por um e quando puxo um caderno algo caí de dentro dele, um pequeno cartão branco.

— "Me encontre sexta a noite no terraço da casa de Andrea, tomei uma decisão de uma vez por todas, H." — Susurro aquelas palavras e um gosto amargo assume minha boca, mas que porra?

Viro aquele cartão diversas vezes e não havia mais nada ali, somente um X enorme no verso anterior. Mas qual seria essa decisão? O que eu havia feito? Realmente não consigo me lembrar de nada e quando qualquer esforço vinha minha cabeça doía, decido deixar aquilo de lado e coloco algumas coisas em minha mochila. Deixo tudo pronto e deito em minha cama, a chuva não tinha parado e a cada minuto ficava mais forte, com isso os galhos batiam com certa força em minha janela fechada.

Fecho meus olhos e franzo o cenho quando minha cabeça começa a latejar após alguns segundos, luzes brancas aparecem com alguns flexes como todas as vezes. Com isso surge uma mão cheia de anéis com vários formatos e toca em meu rosto, mas preciso meus lábios, contornado eles e acariciando-os de forma lenta, seu dedo brinca com a carne ali e em seguida se afasta bruscamente, como se estivesse com medo de algo, ou de ser visto por alguém.

Um Motivo Para Amar | GayWhere stories live. Discover now