M: Tá bom, tá bom, Bianca! Deu! – Cortou, ainda aos risos – Agora você imagina se aquele povo tudo do twitter tivesse te grampeado? A gente não teria um dia de paz até 2030.

B: Isso é... – Gargalhou – Posso fazer nada se eu sou mais influenciável do que influenciadora, super comprei os edits Bicela, tudo pra mim!

M: Eu que odeio dançar junto, sou obrigada a me ver dançando junto com você umas 10x por dia na minha timeline, eu que lute!

B: Ah.... Você é biscoiteira, isso que você é! Dança super... – Engasgou na conclusão da frase.

M: Bi? – Marcela percebeu, tentou retomar a atenção, mas não foi capaz nos próximos segundos.

Segundos nos quais, ao colocar o primeiro pé na faixa de pedestres para atravessar a rua, Bianca percebeu flutuando na direção oposta a figura alta, o cabelo dourado ressaltado pelos discretos raios de sol daquela tarde e, enfim, a voz que sempre lhe perturbaria:

– Boa tarde, Bia!

B: Boa tarde, Rafaella! – Respondeu no susto, mas o suave aceno de cabeça que recebeu de volta e o passo que não se deteve deram a Bianca a confirmação de que não precisaria parar.

E ela continuou andando...

Sem fôlego.

M: Rafaella?

[silêncio]

Bianca terminou de atravessar aquela faixa de pedestre que nunca lhe pareceu tão longa, girou o corpo e por mais alguns segundos observou Rafa caminhando já do outro lado, carregando com ela a tranquilidade que provavelmente ela tinha sugado de Bia ali, no ponto exato em que se cruzaram.

Sim, porque só isso explicava a súbita inquietação e falta de fôlego que lhe invadiram.

M: Bi? – Tentou novamente e finalmente conseguiu.

B: Má, oi... – Tentou se recompor e continuar caminhando – Desculpa!

M: Imagina, tudo bem! Aconteceu alguma coisa?

B: Só me distraí aqui, é... – Chegou ao portão de seu prédio. Entrou, fechou-o e, uma vez mais, parou para observar Rafaella também entrando no prédio dela. Percebeu que ela estava vestida de roupa de academia, e pensou que talvez a loira tivesse ido caminhar... Percebendo-se já perdida novamente na conversa que tentava estabelecer com Marcela, puxou de volta o assunto – Na verdade, Má, se eu te contar você não acredita!

M: Me conta e eu te digo se acredito, ué!

B: Adivinha com quem eu acabei de cruzar? – Soltou, assim que entrou no elevador.

M: Rafaella. – O tom absolutamente óbvio fez Bianca se perder novamente.

B: Co-Como? – Saiu do elevador – Como é que você...

M: Eu ouvi, né, cabeçuda! – Abreviou o sofrimento da pessoa lerda.

B: Ah, claro, eu esqueci que você tava na linha – Gargalhou já entrando em casa – Mas só isso? Não tem nenhum comentário a mais para fazer?

M: Que comentário a mais eu teria, Bianca? Você cumprimentou uma vizinha, e daí? Eu lá sou obrigada a adivinhar que você pegou ela também?

B: É só essa a imagem que você tem de mim? Puta que pariu! – gargalhou – Cumprimentei uma vizinha, sim, Marcela. Vizinha Rafaella Kalimann.

[silêncio]

M: Você foi no mercado comprar mais bebida, fala a verdade! – Ainda não tinha entendido qual era a pegadinha, Bianca só podia estar bêbada.

Cinco Dias (RABIA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora