Capítulo 1

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Trriiim...

Acordei na madrugada com um barulho.

Aos poucos meus olhos se acostumam à repentina luz que vinha do meu celular, me dizendo que eu tinha uma nova mensagem. Era El, que mais me lembrava uma coruja, pois nunca dormia.

-Sabe que não tem mais volta né?

Por uns cinco segundos, me peguei completamente confusa sobre o assunto. E como se fosse um flash, a noite passada voltou com força à minha memória.

Um circo, muita pipoca, meu converse estragado, e uma bebedeira disfarçada de luau na pista de skate. Era tudo o que eu não precisava...

Vou me lembrando de cada copo que virei, cada tombo que levei... ah, já entendi o porquê de a tela do celular estar me incomodando tanto.

Levando minhas mãos à cabeça e apertando meus cachinhos nada definidos, apenas uma palavra me vem à mente.

Ressaca...

Jura? Por que eu tinha que beber tanto? Eu não podia apenas... parar?

De repente percebo que ainda não respondi El.

-Estou viva, ainda bem. E pare de dizer que não tem volta, eu nem cheguei a vomitar!

Olho no relógio, e me surpreendo. Cinco e meia da manhã. Jura que só dormi pouco mais de duas horas? Acabei chegando em casa às três da madrugada, mas não faço ideia de como destranquei a porta.

A porta! Meus pais! Merda, será que me viram bêbada? Eu não consigo me lembrar...

Se me viram, estou ferrada. Afinal, tenho dezessete anos, não posso beber. Ai, vão perguntar quem me deu a bebida. Vou ficar de castigo para sempre. Era uma vez vida social.

Em questão de segundos, outro trriiim me tira de transe.

-Achei que fosse precisar chamar uma ambulância para te socorrer, ainda bem que está melhor. Mas... espera. Não estou falando sobre dar "petê". Amiga, tô falando do seu vídeo.

Meus olhos quase saltaram do rosto de tanto que ficaram arregalados. Meu Deus!

E então, um turbilhão de imagens insistiam em rodopiar ao redor da minha cabeça. Cálculo.

Um vídeo no qual, eu – visivelmente bêbada – rodopiava com uma long neck, em meu converse com a sola solta, dizendo palavras obscenas ao meu professor de cálculo. Se tem alguém pior que eu nesse momento, meu mais sincero "eu duvido".

Vi meu mundo desabar. Passo longe de ser uma princesa, mas cada pedra do meu castelinho se espatifava no chão.

-Mel? Tá aí?

Ellen me chamava mais uma vez, percebendo que já fazia dez minutos que eu não a respondia. Ela não podia me culpar, afinal, estava em choque de lembrar de algo tão vergonhoso.

-Eu tô sim, desculpa, eu estava só recolhendo cada pedaço da minha dignidade que deixei cair.

-Para de ser boba, não foi tão ruim assim. Mas não pode chegar nas mãos do Faro.

Chamamos meu professor de Faro, não só porque ele tem o nariz mais avantajado da galáxia, mas também porque ele se chama Rodrigo. Inclusive, agora me lembrei... também o chamei de "Senhor Faro" no vídeo. Que vergonha.

E eu juro que não sou assim. Sou uma aluna "cheira-giz", aquela que se senta na primeira carteira, bem na cara do professor. Não dorme, não descansa. Só anota, copia a lousa, e ainda de quebra, responde às perguntas que fazem.

Me Lembre da Noite PassadaDonde viven las historias. Descúbrelo ahora