Como eu pude me esquecer disso!? Os sinais estavam lá e eu não vi! Enquanto eu sonhava com a historias contadas, meu irmão estava mergulhado no inferno. Fomos adotados e eu levei a vida como se nada tivesse acontecido, como se eu não tivesse vagado na rua, como se aquele monstro não tivesse me vendido. COMO EU PUDE ESQUECER DISSO PORRA!? Agora tudo volta na minha cabeça, me vejo no carro parado no transito, me vejo correndo para fugir dos homens para qual fui vendida, ouço os planos deles para mim! Eles me chamavam de putinha suja e não é que é verdade? Suja por que minha alegria só foi salva através da infelicidade e sofrimento do meu irmão. Me lembro de vasculhar os lixos atrás de algo para comer, a moça da lanchonete me dando comida, as noites dormidas na rua em baixo de chuva, meus pés machucados. TUDO, tudo vem a tona e me inclino para fora e vomito tudo o que tinha no estomago. Me sento e começo a balançar meu corpo para frente e para trás, me sinto vazia, sem vontade alguma de permanecer de pé, sem coragem de encarar o dia.

Fecho meu olhos e ouço sua voz contando em detalhes, vários! Vários homens abusaram do meu irmão e ninguém fez nada. ONDE ESTAVA DEUS QUE NÃO FEZ NADA!? Eu o odeio com todas as minhas forças...

- Aaaaaaah! Calem a boca, parem de falar na minha cabeça! -Grito em desespero e levo minhas mãos em meu rosto, mas antes de tocar vejo meus dedos vermelhos.

É sangue!

Olho para minhas pernas e vejo que tem um corte em minha coxa direita e esta saindo muito sangue, olho para o chão e vejo a pedra suja também. Eu me cortei e nem se que senti! Inconscientemente pego a pedra e olho para o machucado e depois para ela, lentamente levo a ponta mais afiada e cutuco o rasgo com ela e agora eu sinto a dor. Isso acalma as vozes na minha cabeça, me dá um alivio, uma paz que não estava nem perto de sentir. Meu corpo está pesado, minhas pálpebras pesam uma tonelada, meus pés queimam de tanto que andei e corri, arrumo minha mochila e deito minha cabeça nela. Fecho meus olhos cansada e começo a fazer uma oração, mas paro rapidamente. NÃO! Nunca mais rezarei, nunca mais pedirei nada a esse farsante, se ele precisa de orações para brincar de mestre mandou com as pessoas, ele que procure em outro lugar! De mim não sai nem um fica com Deus.

Não sei quanto tempo passa, mas acordo com um raio de sol batendo no meu rosto. O sol nasce alegre, não combinando em nada com meu estado de espirito. Me levanto e com a minha mochila em punhos, saio da manilha encarando o dia. Preciso me decidir para aonde eu irei, sei que essa hora meus pais devem estar loucos atrás de mim, mas não tenho coragem de encara-los, posso estar parecendo ingrata depois de tudo o que eles fizeram por mim e sei que a minha atitude vai magoa-los demais, mas isso é o melhor a se fazer. Minha barriga protesta com fome, minha boca está seca, preciso encontrar alguma coisa para comer, algum lugar mais distante daqui, acho que consigo esperar até chegar a algum lugar.

Quando da oito horas da manhã, encontro uma padaria pequena e entro nela e peço um café com leite e um pão de queijo, me sento no canto e espero o senhor trazer o meu pedido.

- Aqui esta menina, você é nova por esses lados? -O senhor pergunta puxando assunto.

- Só estou de passagem.

- Entendi, bem... que você tenha um ótimo dia menina.

 Depois que ele sai, tomo meu café rapidamente e vou até o caixa pagar. O senhor ainda me olha desconfiado, por isso saio correndo assim que termino de pagar, só paro de correr quando chego a um ponto de ônibus. As vozes que estavam caladas até esse momento, voltam a discutir em minha cabeça.

Pegue um ônibus e vá o mais longe daqui.

Não faça isso, sua família está preocupada com você!  Essa voz é nova, eu ainda não tinha escutado ela.

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