1985

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Nasci...

Meus pais eram jovens, apaixonados e mantinham um relacionamento sério e sob vigilância constante dos meus avós. Naquele tempo era bem difícil um casal jovem ficar "á vontade", então, qualquer segundo de liberdade era aproveitado ao máximo. Numa dessas, eu fui feita. A vida não era fácil pra minha mãe, criada com madrasta e um pai que passava a maior parte do tempo na rua trabalhando e bebendo, ela e meus tios foram obrigados a se virar para conseguir sobreviver. Minha mãe relata muita coisa ruim, mas não convém citar, já que a história é mais sobre mim do que sobre ela. Meu pai com 18 e minha mão com 19 anos, se viram diante de um desafio gigante. Criar e manter uma família. Minha mãe trabalhava de faxineira em uma casa de família, onde dormia de segunda á sexta-feira. Essa parte até que foi boa, pois diferente da casa do meu avô, no serviço minha mãe era bem tratada pela patroa e se alimentava muito bem, o que ajudou no meu bom desenvolvimento durante a gestação. Como naquele tempo, era um escândalo mulher ficar grávida sem ser casada, minha mãe, que tinha o porte físico bem mirradinho, escondeu o quanto pode a gravidez das demais pessoas. Usava roupas largas, apertava a barriga com faixas, sentia enjoo e salivação constante, mas conseguia disfarçar bem pelo fato de passar mais tempo no trabalho do que em casa. Meu pai trabalhava com meu tio, era visivelmente explorado, mal remunerado, mas não reclamava, precisava ser o homem que daria suporte pra minha mãe. E minha mãe seguia a vida como dava, um dia por vez, lutando pra conseguir trabalhar e manter a saúde na medida do possível. Amanheceu o dia 3 de dezembro, uma terça feira aparentemente normal, minha mãe acordou cedo como de costume e começou as atividades corriqueiras, com um certo incomodo na barriga, que ela não deu muita importância. No final da tarde, minha mãe foi pra casa, e meu pai foi encontrá-la como de costume, o caminho que ela fazia era uma subida e no meio dela, minha mãe precisou se sentar para ver se o tal incomodo passava. Meu pai, vendo a situação nada comum, saiu correndo pra encontrar minha mãe e saber o que estava acontecendo. Após explicar a situação, foram á passos curtos pra casa, na cabeça da minha mãe ela só precisava descansar do longo dia de trabalho. Já em casa, após ser "avaliada" por sua madrasta, minha mãe soube que estava tendo contrações e que eu podia nascer a qualquer momento. Meu pai, em um salto, disparou pelo bairro, pegou tênis e agasalho, foi na casa de um amigo que tinha carro, passaram em casa e buscaram minha mãe, praticamente invadiram um posto de combustível (que já estava no final do expediente) e seguiram rumo a maternidade. Naquele tempo não era permitido acompanhante para gestante que não fosse do grupo de risco e meu pai teve que ir embora. Mas no outro dia cedo ele estava lá, ansioso pra conhecer a filha dele que havia vindo ao mundo durante as primeiras horas do dia 4 de dezembro. Meu pai me escreveu um lindo poema em um rascunho, em uma nota promissória que guardo até hoje comigo. Ali, nascia um milagre da vida!


Perdida de mim.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora