As Virgens de Belenof

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                               I

Era madrugada e uma corrente de ar frio entrava pelos corredores do Castelo de Börguir também conhecido como castelo negro  em  Aikar, um lugar lúgubre e melancólico, silencioso como uma tumba. Não se ouvia nada além do som da chuva que caía lá fora e o vento forte agitava os galhos das árvores em volta do castelo.

Entre os corredores sinistros um homem baixo e negro de kaftan  estampado, com sapatos pontudos e macios, caminhava lentamente ouvindo atrás das portas como se procurasse algo oculto nos salões com maciças portas de bronze. Pelas vestes parecia ser um eunuco.

Sentiu um calafrio percorrer a sua espinha e ao se aproximar da última porta do corredor que ficava ao lado de uma enorme estátua esculpida em um estranho metal escuro, a imagem de uma criatura soturna com uma bocarra devassada repleta de dentes, uma face escarnecida e asas de corvo, chifres exuberantes como os dos Bodes das montanhas.

O eunuco ficou paralisado diante da figura horrenda, mas seu sangue gelou com o som vindo do interior do salão, parecia ouvir gemidos baixos, sussurros com timbres suaves e juvenis. Ao adentrar o salão com bastante cautela observou com admiração e espanto. A imensidão além da porta pareceu estar em outro plano mais frio e escuro, maior do que o salão aparentava ser. Longe das dependências do castelo de Aikar e do Reino de Belenof; ele nunca havia entrado no salão misterioso no final do corredor.

Seu corpo ficou imóvel por algum tempo ao ver no centro do salão um enorme altar erguido com pilares de  mármore negro. Próximos da monumental estrutura estavam cinco homens encapuzados de corpo esguio, dos quais só era possível ver parte das bocas afiladas de tom carmesim, suas mãos delgadas e brancas como osso. Os homens formavam um círculo em volta de uma bela jovem de pele clara e cabelos cor de fogo, que parecia estar em um tipo de transe com os olhos cerrados, seu corpo desnudo  diante daquele ritual vil.

O eunuco ao contemplar a cena só conseguiu lembrar-se do aço quente mutilando seu órgão e tirando- lhe a virilidade e, porque não dizer, sua dignidade. A mesma sensação de pavor e dor das feridas do passado tomam conta dele.

Uma voz vinda de onde estavam os homens encapuzados aumenta seu desespero. Sem crer nos seus ouvidos ou em seus olhos, porque não havia forma alguma diante dos homens, só uma densa névoa negra que se movia sinuosamente em sua direção. A voz ecoava dentro de sua mente e tomava conta de seus pensamentos, uma voz de tom gutural falou com o Eunuco:

- A carne e o sangue são alimento para os Deuses! Vivemos de sacrifício.

A morte e a luxúria dos homens nos fortalecem. - Eu te conheço Kalius, tu és meu filho agora. Não há o que temer, eu sou Angys o filho da escuridão e do caos. Senhor dos condenados, que foi banido do mundo para vagar nas terras mais escuras, perdido nos séculos, adormecido pelas eras e esquecido pelos Homens, mas sempre ouvi os seus lamentos e sempre regresso quando sou chamado.

                           II

Nas primeiras horas da manhã duas crianças brincavam as   margens do Rio Vallur, no afluente Sul da floresta dos espinhos, elas atendiam  pelo nome de Rendya e Hellker, eram filhos do ferreiro da cidadela. Hellker ao puxar seu barquinho feito de troncos secos, que estava preso em algo na beira do rio, a primeiro momento parecia ser alguma rocha ou animal morto coberto de folhas, ao retirar as folhas que ocultavam  seu barco Hellker toca algo frio e de cor branca, rígido como uma estátua de gesso. Mas aquilo não era arte.

Ali estava um corpo de uma bela jovem de cabelos ruivos cor de fogo e não tão distante dali um homem de porte atarracado e pele escura jazia sobre um velho carvalho de galhos retorcidos, as crianças correm assustadas pela floresta em  direção a cidadela e  vislumbram  o cadáver de  Kalius, estava  inderte a investida das aves carniceiras, seus membros cravados no tronco grosso, os galhos secos se agitavam com a brisa fria do norte, erguido do chão encharcado com seu sangue, seu semblante era de um horror inigualável. O homem tinha o  olhar atônito e desesperado dos enforcados, revelavam o quão dolorosas foram suas últimas horas. Que destino obscuro e terrível ele teve? Esteve diante do próprio mal encarnado?

Ele viu o mais antigo e lascivo dos seres. Angys, o Deus sombrio, a deidade  proscrita, o Senhor dos Desgraçados.

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⏰ Última atualização: Dec 23, 2020 ⏰

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