Aniversário

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Capítulo comprido para começar a história! Enjoy it :)


Rafaella P.O.V – noite de sábado, Leblon, Rio de Janeiro.

Definitivamente era um dos lugares mais bonitos que já presenciei no Rio, e quiçá até no Brasil. A lua cheia pairava imponente sobre o mar carioca e a noite estava mais iluminada do que nunca. O Deck Beach Bar, no alto do morro no Leblon, estava preenchido com luzes amarelas, penduradas por lustres redondos, e por pessoas nas quais eu não fazia a menor ideia de quem eram – e ainda bem. Escolhi o ambiente certo para me desvincular da minha patética e robótica realidade. Também torcia para que ninguém me reconhecesse, porque tudo o que eu menos queria era acordar com manchetes do tipo "Rafaella Kalimann passa o seu aniversário sozinha no Rio de Janeiro".

 Felizmente sozinha, meu bem. — Sussurrei para mim mesma ao dar mais um gole do meu drink.

Desliguei-me do meu devaneio ao ouvir o meu celular tocar. Era a décima mensagem da Manu, acompanhada de pelo menos mais cinco mensagens do meu pai. — Céus. Por que não entendem que eu simplesmente não quero responder? — Desativei as notificações do meu WhatsApp, assim como fiz com todos os outros aplicativos. — Se não vão me dar um break por bem, vai ter que ser por mal.

Beberiquei mais uma vez meu Sex On The Beach e permiti sentir a brisa salina do mar, que estava há alguns metros abaixo do bar. As ondas batiam nas pedras e o vento frio não me incomodava, pelo contrário; a música alta da Dua Lipa preenchia os meus ouvidos e nada além daquilo me importava. Meus 27 anos chegaram e estou finalmente longe de toda aquela merda corporativa e falsa felicidade. Que maravilha.

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Bianca P.O.V – noite de sábado, 02 de abril, Leblon, Rio de Janeiro.

Mais uma vez a Mariana conseguiu me arrastar para fora de casa, mesmo eu não tendo um puto no bolso. E pior: a gata resolve ir para o Leblon, pelo amor de Deus, onde uma cerveja long neck custa pelo menos 25 reais. — E vamos de passar a noite sóbria num lugar cheio de hétero, para acompanhar a amiga que vai encontrar mais um boy no qual ela vai cansar na manhã seguinte. Eu vou para o céu mesmo. 

— Olha, Mariana, na próxima tu me leva para a Lapa, tá? Pelo menos lá eu tenho onde sentar sem deixar um rim. — Bufei irritada no Uber, deslizando o feed do Instagram.

— Além do mais, o que eu vou ficar fazendo enquanto tu fica de beijo? Aqui não tem ninguém que seja do meu nível, se é que me entende.

— Larga de ser ranzinza, Bianca. Já falei que tuas bebidas eu pago. E outra, já vi que hoje lá no Deck é double caipirinha, muito melhor! Você precisa urgentemente parar de beber só cerveja e começar a experimentar outras coisas na vida, ser menos metódica. Já pensou em beber destilado? Beijar sei lá, HOMENS? — Perguntou debochando, pois sabia muito bem da minha orientação sexual. – Completou com um beijo estalado na minha bochecha.

— Eu só vou dar um oi para o Gustavo. — Continuou. — Não vou ficar de caso com ele a noite toda. Já disse, hoje é girls night.

— Minha filha, para eu voltar a essa vida de bissexual só se eu estiver à beira da loucura. E vou fingir que acredito que você não vai beijar o cara a noite toda. – Revirei os olhos. – Tu tá ouvindo né, tio? — Rebati rindo para o motorista do Uber, que entrou na onda e também ria incansavelmente da nossa conversa desde que saímos de casa. 

— Ela tá me devendo double caipirinha e um beijo na boca, depois dessa. — Pisquei para a Mari, que mostrava o dedo do meio para mim.

Saímos do carro e subimos as escadas da ladeira em direção ao Deck Beach Bar, no qual nunca estive presente, só via de longe ao topo do morro, sempre iluminado. O ambiente é incrivelmente bonito e requintado, todo projetado em tons de madeira e luz quente, dando jus à classe social que costuma atender – de ricos aos muito ricos. Nunca pensei que pisaria ali, ainda mais numa noite qualquer, sem grandes comemorações.

Sinestesia | RabiaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora