Chai Latte

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Chai Latte


O jantar de Melissa acabou cedo, significando que antes das dez ela já estava de volta ao seu apartamento, ajudando Tainá a testar cachos com o seu novo babyliss, porém as duas apenas falhavam. O cabelo dela era liso e elas tinham que aceitar aquilo da melhor maneira que podiam antes que iniciassem um incêndio.

— Eu queria que ele ficasse do jeito que o seu fica quando você seca natural, sabe? Desarrumado, mas com classe? — Tainá comentou, olhando o pequeno ondulado dos fios se desfazer em poucos segundos.

— Anos de prática. Você não tem potencial capilar para isso — Mel deu de ombros, desligando o babyliss e olhando para sua amiga.

— Vai, fala mais. Você está com essa cara de quem acabou de receber uma promoção e não se aguenta por dentro! — sua amiga pediu, compartilhando o sorriso dela.

Tainá e Melissa eram amigas de trabalho, odiando a mesma chefe por meses até que Tainá foi transferida de setor. Elas mantiveram contato, então quando Tainá disse que estava com um quarto vago em seu apartamento, Mel não pensou duas vezes em aceitar a oferta. Seus pais ficaram animados por ela, mas ela sabia que eles prefeririam que ela continuasse com eles — os filhos tinham que sair do ninho uma hora, não é?

Desde então as duas viviam em perfeita harmonia até o dia que tinham que trocar o lixo orgânico da cozinha ou usar a máquina de lavar — o que acontecia aproximadamente duas vezes por semana.

Mel sorriu ainda mais, olhando para sua amiga com todo o carinho que possuía em seu coração. Tainá era incrível. Ela era totalmente diferente de Gabriella — Gabriella vivia a vida como se todo dia fosse o mais importante de todos, e ela sempre colocava seus amigos primeiro, não importava a situação em que se encontrasse. Já Tainá gostava de rotinas, do dia a dia que a maior parte das pessoas achava tedioso, da maneira como as coisas simplesmente caíam na normalidade da vida sem que ela ao menos percebesse, porém tinha a língua mais afiada que ela já havia conhecido.

— Tai, eu nem acredito que... — Melissa começou, porém ela se interrompeu quando a campainha tocou e as duas se entreolharam — você chamou o Zé?

Zé era o atual namorado de Tainá, um enrolo de mais ou menos um ano e meio que estava durando mais do que as expectativas populares conseguiam acreditar — ninguém suspeitaria que um advogado conseguiria ao menos entender a função dela de analista de experiência do usuário. Depois do primeiro encontro, ela havia sido fisgada.

— Não, ele disse que ia participar de um campeonato de LOL e Deus que me free atrapalhar isso — Tainá respondeu com um olhar engraçado na direção da porta — será que é o Ricardo? Ele percebeu que você é o amor da vida dele e veio se declarar?

— Tai...

— Com flores e um anel e um felizes para sempre? — a outra continuou, andando na direção da porta, abrindo-a com o maior sorriso que conseguiu encontrar, apenas para desfazê-lo ao ver quem estava ali — ah, você.

Gabriella entrou no apartamento com a mesma cara de desdém — as duas não se gostavam desde que foram a uma festa com o exato mesmo vestido. A única coisa que as unia era Melissa e ela não sabia se sua cola era tão forte assim para superar uma tragédia daquelas — sarcasmo implícito.

— Suas raízes estão aparecendo — Gabriella comentou, como se aquele fosse o cumprimento natural da sua pessoa, apontando para a raiz morena contra o Cobre Ruivo número 8.4 que Tainá retocava quinzenalmente.

— Bem, seu cabelo tem uma linha dividindo o moreno do loiro. Eu processava meu cabeleireiro depois de um erro desses — a ruiva retrucou, olhando a outra dos pés à cabeça.

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