Trinta e Sete: Aniversário

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— Olha só! Estou gostando de ver. — Ele empurrou meu ombro com leveza. — Mabel tem sorte de ter uma mãe sábia assim.

Revirei os olhos e reparei em Vic se preparando para levantar.

— Eu não sou nada. Preciso receber muitos puxões de orelha até poder aconselhar alguém sobre alguma coisa. Só consegui com Luana porque a questão era a saúde dela e seu filho. — Fiz alguns instantes de silêncio refletindo em tudo aquilo. — Por falar nisso, pensei de irmos visitá-la no Instituto. Estamos perto, o que acha? Talvez ela já tenha o resultado em mãos.

Um pouco contrariado, Vic mordeu o lábio.

— É, bem, tenho outros planos. — Ele sacudiu a cabeça e notei sua hesitação. — Preciso conversar com o Coelho com urgência e como ele e sua família moram por aqui, pensei em passar lá. Não posso adiar.

Cruzei meus braços e estranhei a atitude de nervosismo dele.

— O que é tão urgente que não pode esperar até amanhã? — argui atenta ao modo como ele se levantou rápido. — Pensei que passaríamos o dia juntos e sem querer fazer chantagem, é meu aniversário.

— Bem, e eu não adiei nossos planos. Depois de passarmos no Coelho, podemos, quem sabe,  comer em algum restaurante. — Deu de ombros. — Não se preocupe, você não conheceu a mãe do Coelho nessa semana? Enquanto levo um papinho com ele, você pode ficar conversando com ela. 

— Ok, se você insiste... — Umedeci os lábios e após me levantar, planejei começar a ajudar Vic a guardar tudo, mas ele parou e então segurou em meu braço. — O que foi?

Um pouco desanimado com minha resposta, ele deixou os ombros caírem.

— O que foi? Você aceitou, mas vai ficar emburrada? Não é justo, hein, aniversariante — ele perguntou em tom de zombaria e me fez rir quando imitou minha expressão. Depois ergueu Mabel para que olhasse em direção ao seu rosto. — Está vendo, filha? Nós trouxemos sua mãe para um baita de um piquenique, cantamos parabéns e ela nem quer nos acompanhar na casa do Tio Coelho. — Para minha surpresa, a bebê entrou no jogo dele quando murmurou e choramingou. — Pois é! Exatamente isso! Como pode uma mulher ser tão bela e tão cri-cri?

— Victor! — Acertei um murro no bíceps dele. — Quer que a nossa filha pense na mãe como uma cri-cri? Aliás, o que é ser cri-cri?

Ele riu e para me provocar, bagunçou meu cabelo exatamente como fazia em nossos tempos de namoro.

— Sabe, estudos comprovam que entre os pais das crianças, sempre haverá um cri-cri, ou seja, um chato e o outro super maneiro? — ele brincou e me fez cócegas quando tentei erguer os braços para ajeitar minhas madeixas no lugar. — Adivinha quem eu sou? 

— Você? É o pai que pensa ser maneiro, mas na verdade é aquele que as crianças enganam com mais facilidade. — Numa estratégia rápida eu me abaixei e peguei umas uvas da tigela e tentei acertá-lo várias vezes. Como punição, ele se aproximou e me fez mais cócegas na barriga, me fazendo gargalhar enquanto lutava para me afastar. — Chega! As pessoas estão olhando.

— Olhando nossa família louca? — Ele virou-se para trás e analisou, antes de gritar: — É isso aí! Somos loucos mesmo!

Por instinto, adiantei-me até ele e tapei sua boca, enquato sorria com aquela divertida situação. Afastei-me com cautela e fiquei um pouco sem jeito com nossa proximidade. 

— Se comporta, Vic — e apertei o nariz dele com força.

— Tá bom, mas só estou me divertindo, oras — Ele riu.

Ensina-me amarWhere stories live. Discover now