— Se isso significa alguma coisa, posso ter sua palavra de que não serei ferida?

— Você tem minha palavra. — Seu tom era muito sério, e então ele colocou a mão sobre o coração. — Eu não sou nada além de um cavalheiro.

Soltei uma risada.

— Você é um pirata!

— Não sou apenas isso, minha querida.

— O nome é Lenna — menti. Eu não estava disposta a dar a ele meu nome verdadeiro.

— Tudo bem. Lenna. Eu sou Callum. Você vai dormir na minha cabine até chegarmos ao nosso destino.

— Obrigada, mas eu prefiro dormir na sala de navegação. — Olhei em volta. — Acredito que não é usada durante a noite, certo?

— Normalmente, não. Mas qualquer um pode entrar aqui à noite e, embora minha equipe seja leal e obediente, alguns são difíceis de controlar quando bebem demais. Não estarei lá para detê-los.

Um arrepio percorreu minha espinha mais uma vez. Eu poderia ficar sozinha aqui com a possibilidade de alguém entrar – incluindo aquele grandalhão que me encontrou – ou eu poderia ficar no quarto dele. Pelo menos eu teria apenas uma pessoa com quem me preocupar. A última não parecia uma opção tão ruim. Embora invasivo e arrogante, Callum também foi educado.

— Tudo bem, então... mas não me toque — exigi.

— Vou guardar minhas mãos para mim. — Ele riu e ergueu as mãos inocentemente. — E sim, é claro, você é de um povo rico, exige exatamente como eles... — Ele abriu a porta. — Bem, então deixe-me mostrar meu navio. — Ele estendeu o braço como um nobre cavalheiro faria. Simplesmente não desperdiçaria a chance de zombar de mim! Eu ignorei o gesto e saí sozinha. Ele também saiu da sala de navegação e começou a me levar para um pequeno passeio pelo navio.

Não era tão diferente de outros navios de Galeão em que eu já estive, havia o convés principal com o castelo de proa na frente – onde eu tinha me escondido com muitos barris de alimentos e bebidas pelos dois dias e onde minha trouxa ainda esperava por mim. Nos fundos, havia o castelo de popa, com espaço para os aposentos dos oficiais e, é claro, os aposentos do capitão. Acima, havia o leme e a sala de navegação.

Descemos as escadas para o convés das armas e dos dormitórios, onde muitos canhões eram exibidos perto das escotilhas e os homens dormiam em redes ou camas improvisadas no chão. Na parte da frente, havia uma sala para enfermaria e estoque de pólvora. Na parte de trás, havia a cozinha com dois cozinheiros trabalhando. Havia outro nível no andar de baixo para o estoque de alimentos e o que eu presumi serem os tesouros deles, pois ele me disse que eu não deveria ir mais longe. Não me importei.

— Agora, é hora de apresentá-la à tripulação — disse Callum, olhando para um homem ruivo que se aproximava de nós.

— Natan me contou sobre nossa convidada inesperada. — Ele se virou para mim. — Prazer em conhecê-la, senhorita. — O homem se curvou por um segundo, mas eu não sabia dizer se ele estava sendo sincero ou se estava apenas me provocando.

— Este é meu melhor amigo e o segundo no comando, Felix. — Callum colocou a mão no ombro dele.

— Sou Lenna.

— Então é verdade? — Outra voz chegou aos meus ouvidos antes que eu pudesse ver outro tripulante vindo em nossa direção. Ele vestia uma camisa vermelha, e tinha um leve sorriso quando agarrou minha mão para beijá-la. Eu rapidamente me afastei. — É como um sonho ter uma linda flor como você a bordo. Um colírio para os olhos!

— Sou obrigada. — Dei um passo para trás.

— A propósito, sou Enric, mas você pode me chamar de Ric, ou o homem dos seus sonhos, se quiser. — Ele se inclinou para mais perto. Tinha uma pele de cobre interessante e cabelos cacheados escuros. Parecia o oposto de Felix.

Callum empurrou Enric para longe de mim, mas o ruivo foi quem falou:

— Peço minhas humildes desculpas pelo meu amigo, ele raramente sabe como agir com mulheres.

— Acho que devo lavar a louça, você não concorda, capitão?

Felix abafou uma risada, trocando olhares com Enric, acho que como se dissesse que não teve chance comigo dessa vez. Callum reprimiu o sorriso e assentiu, levando-me para a cozinha e me apresentando aos homens de lá. Depois que me deram comida, meu trabalho de lavar louça começou.

Quando todos os pratos estavam dentro dos armários que os cozinheiros me mostraram, dei uma volta pelo navio. Foi bom finalmente esticar minhas pernas depois de passar dois dias escondida atrás daqueles barris.

Eu já esperava que os olhos de todos me seguiriam o tempo todo, no entanto, a sensação de ser observada ainda era irritante. Atravessei o convés das armas e subi as escadas. O convés principal estava menos cheio, o que foi um alívio. Não havia nada além do lindo oceano e céu azul em todos os lugares que eu olhava. Eu ainda precisava me acostumar com o movimento do navio, embora não estivesse me deixando enjoada. Andando por ali, esbarrei em alguém. O homem alto olhou para mim. Tinha barba e cabelos castanhos claros na altura dos ombros.

— Lenna — pronunciou ele.

Eu estava prestes a perguntar como ele sabia meu nome já que não tínhamos sido apresentados, mas não precisava. Nesse ponto, Callum devia ter contado a toda a tripulação e, como eu era a única garota a bordo, não era difícil saber meu nome.

— Sim. E você é?

— Alastair. — Então ele se afastou, esbarrando em meu ombro enquanto saía mostrando que não se importava. Que rude! Ele era mais parecido com a imagem que eu tinha de um pirata. De qualquer forma, fiquei feliz que ele parecia ser o único a bordo que não me olhava com olhos famintos. Eu preferia que todos fizessem o mesmo, ficando longe e me ignorando até chegarmos ao nosso destino.

Tentando me afastar de todos os olhares, fui para o único lugar em que podia estar em compartimentos fechados neste navio: a sala de navegação. Felizmente, estava vazia. Fiquei lá até a hora do jantar, então comi e comecei a lavar a louça mais uma vez, ignorando o nojo dos restos de comida.

Quando minha tarefa finalmente terminou, o capitão me acompanhou até seu quarto no castelo de popa. A cabine dele era a última e para chegar lá, passamos por um pequeno corredor com quatro portas, os aposentos dos oficiais. Aposto que pelo menos o melhor amigo dele, Felix, estava em um desses.

— Por favor, sinta-se em casa — disse Callum. Essa era a última coisa que eu queria, mas permaneci em silêncio quando entrei.

O quarto tinha aproximadamente o mesmo tamanho da sala de navegação, ambos tinham uma pequena varanda na parte de trás e uma pequena porta que dava para lá também. Grandes janelas me permitiram olhar para o horizonte, mas ele fechou as cortinas. Havia também alguns armários na parede, debaixo das janelas. A cama estava do lado direito, era grande, com gavetas embaixo e uma prateleira ao lado, presa à parede.

No lado oposto, um enorme gaveteiro se erguia com uma jarra de água e coisas de banho espalhadas. Pelo menos ele tinha alguns hábitos de higiene, ou assim parecia. Perto da janela, havia um sofá comprido. Uma pequena mesa estava no meio da sala com uma cadeira. Callum abriu uma gaveta debaixo da cama e pegou alguns cobertores, entregando-os para mim.

— Aproveite sua estadia. — Ele apontou para o sofá.

Fiquei feliz por ser muito mais confortável do que o chão atrás dos barris no castelo de proa. Deixei minha trouxa debaixo do sofá com as poucas roupas que tinha e tirei minhas botas antes de me deitar no sofá, usando um cobertor dobrado como travesseiro e o outro para me cobrir. Callum apagou o fogo da lâmpada sobre a mesa. A fraca luz da lua ao redor das cortinas mal me permitia vê-lo enquanto ele trocava de roupa antes de se deitar em sua cama.

— Você não vai se trocar, senhorita?

— Estou bem assim.

— Tudo bem então. — Ele encolheu os ombros. — Mais uma coisa, se você se assustar à noite, tudo o que precisa fazer é atravessar a sala — ele zombou de mim.

Eu fiz uma careta e me virei para encarar o lado oposto. Meu tom saiu mais sarcástico do que eu pretendia:

— Sou grata pela sua oferta, embora seja completamente desnecessária.

Ele riu, mas não disse mais nada. E então a sala ficou em silêncio, a não ser pelo ruído da madeira estalando de tempos em tempos e da água do mar contra o navio.

A Duquesa ao MarWhere stories live. Discover now