Quando o abraço se desfez, a garota tinha o rosto lavado de lágrimas e segurava firmemente a mão da Alta Sacerdotisa, que como resposta aos olhares inquisidores dos outros elfos, apenas sorriu e disse:

"Vamos, meus irmãos, há comida e medicamentos. Vocês precisam descansar o corpo e a mente."

E seguiu para o interior do Templo de Eluna, segurando a mão da pequena.

Mais tarde, os cinco druidas do Gadanho que voltavam da guerra se reuniram com Omnuron e Tyrande para relatar o que se passara naqueles negros meses de luta. Ao final, porém, eles não puderam se poupar de questioná-la sobre a criança selvagem.

"Sieglinde está bem. Sim, este é o nome dela. Ou melhor: é o que mais se aproxima do nome dela. Eu não pude definir qual é o idioma que ela fala, portanto não sei como deve ser seu nome verdadeiro. Ele soa como o nome élfico Sieglinde, então é assim que a estamos chamando. Ela não parece ter se incomodado. Ela ainda está muito fraca, seus ferimentos foram graves. Eu estou honrada de ter comigo homens de tanto valor. Meus irmãos, se não fosse pelo esforço de vocês, ela jamais teria sobrevivido. Estou ciente do quanto custou a vocês salvar essa criança. Em cada cicatriz eu pude sentir, além da dor dela, a dor de cada um que dispôs das poucas energias que tinha para curá-la. Omnuron, meu amigo, você guiou seus homens admiravelmente."

O Senhor Celeste sorriu e agradeceu, abaixando a cabeça.

"Acredito que o melhor agora seja mantê-la aqui."

Os druidas a olhavam, sem coragem e sem argumentos para contestá-la.

"Estamos acostumadas a cuidar das crianças das sacerdotisas..." - Ela percebera a dúvida no rosto dos rapazes. - "Vamos ensiná-la a falar o darnassiano e o comum, assim ela poderá esclarecer nossas dúvidas... E, quando estiver pronta, ela decidirá por ficar ou partir."

Lahal, porém, sentia um incômodo em seu peito ao sair do tempo naquela noite. Ele sabia que a Alta Sacerdotisa tomara a decisão mais correta sobre o destino da garota... Sieglinde... 

As noites se arrastaram como que por entre uma densa bruma para Lahal. Ele se sentia vazio, alquebrado e enfermo. Seu corpo se curava rapidamente dos ferimentos causados pelas garras envenenadas dos silitídeos, mas sua alma parecia estar irremediavelmente moribunda. Os pesadelos causados pelo veneno estavam se esvaindo rapidamente com a cura de seu corpo, mas as visões da guerra, a morte e a crueldade indiscriminada, o terror em cada grito, a dor em cada rosto, o horror no ruído de corpos caindo, no guinchado dos malditos insetos... Aquilo - ele sabia - aquilo ele carregaria por toda a eternidade, se não como a ferida aberta que era naquele momento, mas como uma cicatriz que o acompanharia por toda a existência, nunca deixando-o esquecer-se da existência de um verdadeiro Mal, da destruição, da dor, do medo e do sofrimento sem propósito outro que si mesmos.

A cada pôr do sol ele descia a trilha até a queda d'água formada pela Nascente da Eternidade, andando descalço, sentindo o chão de seu lar, a umidade da terra e a frieza das rochas, respirando o ar puro da noite, sentindo-o invadir seu corpo e, pouco a pouco acalmar a ansiedade em seu peito. Ele não saberia dizer qual era a razão daquele sentimento que dificultava sua respiração e parecia pesar como cadáver sobre seus ombros. O druida poderia dizer que havia sido a guerra - a mais cruel que ele jamais tomara parte - mas, no fundo, ele sabia que havia mais. Sozinho defronte as místicas águas que caíam, ele chorava, noite após noite, a morte de um futuro que nunca fora, a promessa que nunca se cumprira e a criança que nunca nascera. Há muito tempo ele havia perdido as esperanças de que Mayan voltasse. Em seu sono ele soubera que algo terrível acontecera às batedoras, mas ele continuava sentindo uma presença viva. Quando os druidas finalmente foram acordados, Lahal estava sobressaltado e a primeira coisa que fez foi buscar notícias.

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⏰ Last updated: Apr 10, 2020 ⏰

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Augúrios da NoiteWhere stories live. Discover now