Capítulo 3

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Depois de tudo o que aconteceu, voltamos cada um para suas respectivas casas. Na realidade, eu tinha ido para a minha casa e os outros para a casa de Leo. Eu dormi meio mal nessa noite. Estava com medo de ter sido visto ou reconhecido por alguém naquela região.

Me preocupei demais.

Queria ser católico, às vezes. Ter um padre, uma pessoa, para quem eu possa contar meus segredos mais íntimos e sem medo de julgamento... Na realidade, haveria o julgamento sim, né, afinal, estaríamos numa igreja. Mas enfim, cá estou eu, com meus pais, entrando na nossa igreja evangélica. Eu estava bem distraído graças ao dia anterior. Estava extasiado por conta do que fizemos. Ao mesmo tempo feliz e com medo, eu seguia por aquele espaço.

Nossa igreja não era grande. Tava mais para uma casa onde a maior parte das paredes haviam sido demolidas para dar espaço às cadeiras para um culto maior. Eu e meus pais nos sentamos numa das fileiras do meio e lá ficamos.

Nossa igreja era das mais tradicionais: odiávamos gays e éramos silenciosos, mulheres mal falavam e pastores eram soberania. Assim que entramos o pastor começou a falar. Não prestei atenção, entretanto, parecia mais do mesmo. Nunca entendi muito o que os pastores diziam, não sei se minha cabeça não era formada, mas tudo parecia que era latim, como era antigamente, sabe? Os padres rezavam a missa em latim há muitos anos, antes da reforma. Ignora isso, foram somente devaneios de uma mente que não está focada. Foco.

Controle.

O pastor falava coisas sobre depressão. Ele disse várias coisas aleatórias, mas, em dado momento, deixou claro que pensava que depressivos eram loucos que não criam em deus e por isso ele os deixou na merda. Perdão pela palavra. Droga, não deveria ter dito palavrão na igreja, de todos os lugares. Falando em droga, o pastor cria na mesma coisa sobre pessoas que usavam entorpecentes ilícitos, falara disso semanas antes.

Eu não conseguia prestar atenção. Sentia que algo estava errado. Meu pai percebeu e rispidamente mandou que eu me comportasse ou me deixaria de castigo. Não discuti e tentei prestar atenção nas palavras vazias que saíam da boca do pastor.

Era engraçado, pensei, como a igreja era cheia de senhores e senhoras e, por isso, era bem silenciosa, mas, por outro lado, o pastor gritava. Será que era para fazer os velhinhos ouvirem bem? Ri dessa piada idiota e meu pai virou-se para mim com raiva e deu-me um tapa na nuca. Mandou-me calar a boca, senão eu ia sair daquele lugar roxo. Calei-me.

Melhor momento impossível para meu celular tocar, entretanto. Eu havia, por burrice, tirado do mudo para ouvir no banho, no dia anterior, e, agora, ele decidiu tocar. Meu pai pegou meu pescoço e sussurrou em meu ouvido, bem baixinho:

―Vá para casa.

Eu apenas me levantei, enquanto abaixava o som do celular, e saí da igreja. Após sair me dei conta que quem me ligava era Leo. Como de costume, Leo virando minha vida do avesso. Agora eu podia xingar. Soltei um "Merda", quando estava fora da igreja. Retornei para Leo e ele atendeu com uma voz um tanto alterada.

―Oi, João. ―Ele disse. Provavelmente estava bêbado, pelo tom.

―Você me ferrou cara! ―Eu disse, com raiva. Iria apanhar por culpa dele.

―Te ferrei nada. Você tava numa igreja. Eu te salvei.

―Como sabe que eu tava numa igreja?

―Não importa.

―Claro que importa! ―Dei um grito. ―Desde que te conheci minha vida tá virada do avesso!

―Mas está muito melhor, não?

―Cale a boca!

―Ok, você quer respostas. Venha para minha casa.

Desliguei o telefone. Não sabia o que fazer. Ficar em casa e esperar apanhar, ou ir para a casa de Leo e apanhar depois. Decidi prolongar o inevitável e ir para a casa de Leo.

Ollygon e o Perigo da Evolução TecnológicaWhere stories live. Discover now