Após aquela noite, as semanas passaram rapidamente e como um borrão. Sebastian havia se tornado exatamente o que Jasmine lembrava de quando era menor: uma presença constante. A rotina no orfanato ia se ajeitando e aos poucos o local ia melhorando, com novos funcionários para auxiliá-los no que fosse necessário. A resposta àquele desejo que Jasmine havia feito no telhado não chegou tão rápido quanto a doação ao orfanato, e ela voltou ao mesmo estado que estava antes: sem acreditar em sortes e desejos para estrelas cadentes.
Um mês havia se passado desde então e, como já havia se tornado costume todas as sextas-feiras, substituindo a saída com as amigas, Sebastian a esperava no portão do prédio onde ela morava. Dessa vez, entretanto, ele carregava consigo uma sacola feita de papel pardo, impossibilitando Jasmine de ver o que havia dentro. A mulher sorriu e conferiu o relógio, se espantando por ser tão cedo. Ela havia saído antes de seu horário habitual do orfanato, pois tinha a intenção de dar uma organizada na casa antes da chegada do rapaz, mas ele não lhe daria aquela oportunidade.
- Você está adiantado – disse ela, buscando a chave dentro da bolsa.
- Assim como você – devolveu ele.
- Sextas são mais tranquilas, e eu queria organizar o apartamento antes de você chegar – revelou ela, abrindo o portão e permitindo que ele passasse. Jazz tentou espiar o que havia dentro da sacola, mas falhou miseravelmente.
- Se quiser espero aqui embaixo até você terminar de afofar duas almofadas – zombou ele, sabendo que a mulher tinha tendência a exagerar.
Jasmine apenas deu a língua e acompanhou o rapaz pelo hall de entrada até o elevador. Ele a perguntou sobre o dia e ela deu a mesma resposta vaga de sempre, e depois devolveu a pergunta, recebendo uma resposta quase igual à que havia dado.
- Ok, eu retiro o que eu disse – afirmou Sebastian, quando entraram no apartamento e ele viu a bagunça que havia se instalado na sala e cozinha. – Passou um tornado aqui?
- Eu avisei – disse ela, após fechar a porta. – Tive que procurar uns documentos de Winifred e depois quis ver se ainda tinha uma sapatilha que ela me deu anos atrás.
- Achou?
- Sim.
- E por que não arrumou tudo?
- Preguiça? – Jasmine deu de ombros.
Na verdade, havia mentido, ela vinha procurando qualquer pista que Winifred poderia ter escondido sobre a tal lâmpada mágica, no processo havia encontrado sua sapatilha, mas fora a única coisa. Ela vinha tendo alguns sonhos estranhos envolvendo aquela lâmpada e a figura animada do gênio, que sempre aparecia rindo dela e de seus desejos patéticos. Intrigada e irritada pelas noites de sono que havia perdido, a mulher finalmente havia cedido e decidira fuçar aquelas caixas que tinha no sótão.
- Se quiser, posso te ajudar – ofereceu Sebastian, já se sentindo em casa e ocupando a cozinha dela.
- Não se preocupe – disse ela, finalmente se virando em direção ao visitante e arregalando os olhos ao vê-lo abrindo os armários em busca de algo. – O que você está fazendo?
- Nossa janta – respondeu, sem se virar para ela.
- Na minha cozinha? – perguntou ela, dessa vez atraindo o olhar dele.
Sebastian se virou para ela com um sorriso que beirava o envergonhado, mas que ela sabia ser puro ato. A mulher cruzou os braços, tentando ignorar o que aquele sorriso havia provocado nela, e arqueou uma sobrancelha. Era a regra muito clara (e única) que havia no apartamento: ninguém mexia na cozinha dela. E Sebastian já estava careca de saber daquilo. Mas ele não parecia se importar, já que logo voltou ao que fazia e apenas prometeu que tudo ficaria como estava antes.
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The Legend of the Lamp
FantasyHá uma lenda que data de milênios atrás, ninguém sabe o ano em que se originou exatamente. É uma lenda passada por gerações para poucas famílias. Era comum, antes das crianças irem dormir, elas ouvirem uma história sobre um ser especial e mágico que...