Capítulo 6

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Katsukiyo garantiu que ele e Mei tivessem uma cerimônia com a presença dos mais íntimos e que eles dormissem juntos por cinco noites consecutivas. Isso foi uma conquista, já que o casamento com uma concubina só garantia que eles dividissem o mesmo quarto por duas noites seguidas.

A vida de Mei mudou drasticamente. Não precisava se preocupar com a limpeza ou com a cozinha, não tinha realmente uma obrigação, o que fez com que se dedicasse aos arranjos florais.

No castelo era muito tranquilo. Era de se imaginar que a convivência com a esposa oficial e a primeira concubina fosse difícil, mas eram ambas muito boas. Colocavam sempre para Mei, no intuito de despreocupá- la, que o dever delas é de respeitar as decisões do marido, incusive a de ter outros casamentos.

Sempre que Mei desejava se comunicar com Aiko-san e com as outras, podia pedir para que um mensageiro lhes enviasse sua carta. Katsukiyo não a impediria de visitá-las, mas as mulheres preferiam que elas mesmas lhes fizesse uma visita, pois aproveitavam todas as oportunidades de entrar no castelo.

Quanto ao marido, não podia ser melhor. Mesmo que eles não podessem dividir o quarto, todos os dias ele a encontrava, fosse nos corredores, fosse no jardim ou nas visitas que ele fazia ao seu quarto. Embora ele seja um homem muito ocupado, Mei nunca se setiu só ou infeliz. Não havia quem duvidasse do amor que ele lhe tinha e suas declarações diárias não permitia que ela esquecesse do carinho dele. Às vezes Katsukiyo recebia reclamações dos conselheiros por dar atenção demais a apenas uma das esposas.

Para Mei, aqueles dias eram os melhores da sua vida.

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- Mei, você não vai acreditar.

Katsukiyo atravessou o jardim e se sentou ao lado de Mei, que fazia os seus arranjos de flores, mas que parou e colocou as plantas de lado ao ver o sorriso que seu marido trazia de orelha a orelha.

- O que aconteceu?

- Eu vou ser pai! Dá para acreditar?- sua voz repassava sua animação.

- É mesmo? Meus parabéns!

- Oinu descobriu hoje que está grávida- ele repousou a cabeça no colo de Mei- Acabei de voltar de lá. Eu estou muito feliz porque vou ter meu primeiro filho. Quando o médico me contou, eu quis logo te encontrar e dividir esta felicidade com você.

- Eu fico feliz por você pensar em mim, mas o normal não seria ficar com a mãe do seu filho neste momento?

- Eu passei a manhã toda com ela- disse com uma expressão de cansaço- É com você que eu divido minhas maiores alegrias.

Mei estava realmente alegre por ele. A felicidade dele era contagiante. Mas quanto mais Katsukiyo falava e sorria, maior era o desejo de Mei de também dar a ele seu próprio filho.

- Mas há uma notícia ruim- disse ele, sem sorrir- Essa criança será meu primogênito, filho da esposa oficial, por isso a família dela e os conselheiros exigiram que eu atendesse a um pedido dela e Oinu pediu que eu não passesse muito tempo com nenhuma das minhas outras esposas durante os nove meses da gestação. Eu não pude negar.

- Eu entendo- respondeu Mei.

E assim se passaram três meses. Mei via as servas do castelo andarem de um lado a outro trazendo alimentos e objetos que diziam fazer bem às grávidas. Tudo isso fazia Mei desejar ansiosamente que sua vez também chegasse.

De fato, a pior parte daqueles meses foi a falta de Katsukiyo. Eles ainda se viam nos corredores e no jardim, mas as conversas eram sempre rápidas. Muitas vezes, antes da gravidez da esposa oficial, ele estava ocupado o dia inteiro e só podia visitá-la já de noite; agora era impossível se encontrarem. Katsukiyo sempre dizia como a distância era dura para ele, mas mantinha firme sua palavra à primeira esposa.

Logo, Mei percebeu que não havia nada para ela no castelo. Era silencioso e vazio. Sua maior diversão passou a ser as cartas que enviava à okiya. Com o casamento, o fudai-daimyō dera uma quantia enorme, talvez o equivalente ao que ganhavam em um ano todo, para compensar a ausência de alguém para os serviços que incumbiam à Mei. Com o dinheiro, a okiya foi totalmente consertada, mais duas mulheres passaram a trabalhar lá e uma estrada foi construída no declínio que leva à casa, possibilitando a percepção e a chegada de mais clientes.

Então, ela se decidiu. Falaria com Katsukiyo e pediria a ele que deixasse ela passar esses seis meses restantes na okiya para voltar às suas antigas atividades, onde se sentiria útil. Ele permitiu e, antes que ela partisse, deu a Mei roupas caras, leques caros, um anel, sinal de que ela era protegida pelo fudai-daimyō, e um prendedor de cabelo, símbolo do casamento. Ele ainda a fez chegar ao lugar numa carruagem.

O reencontro animou a mulher. Estar de volta fazia se sentir bem, usar roupas simples era relaxante, até cozinhar era divertido. Mei não chegou a usar nada do que seu marido lhe dera, com exceção do prendedor de cabelo. Não era mais necessário fugir, pois todos viam que ela era casada, e pelo tipo do prendedor, sabiam que era com um homem rico. O anel lhe servia como um paliativo para a saudade, ela olhava para ele todas as noites antes de dormir.

Com a compainha das mulheres, os dias eram divertidos e passaram mais depressa. Quando recebeu uma carta de Katsukiyo dizendo que o bebê havia nascido, percebeu que era hora de voltar.

A recepção de Mei no palácio foi Katsukiyo com a criança nos braços. Quando ela estendeu os braços para pegar o pequeno bebê de três dias, sua mente imaginava a empolgação de segurar seu próprio filho, dela e de seu amado.

The ConcubineWhere stories live. Discover now