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Trabalho em dupla

Algumas cabeças se viraram sobressaltadas na direção da porta da sala de aula ao ouvir um estrondo, mas ao perceberem que era só o Bakugou entrando de mal humor, uns deram de ombros, enquanto outros voltaram a fazer o que estavam fazendo. Exceto por Shouto, que sentiu seu coração pular uma batida, abstraindo completamente do que Midoriya estava lhe dizendo.

Ele seguiu Bakugou com os olhos. O garoto, como sempre, sequer olhou ao redor, ignorando propositalmente todos os seus colegas de classe, enquanto marchava até o seu lugar em seus passos confiantes, largando sua bolsa no chão, revirando os olhos, jogando os pés em cima da carteira e cruzando os braços.

Quando Iida trotou na direção de Bakugou para censurá-lo, enquanto movia os braços em todas as direções, um sorriso se formou no canto dos lábios de Shouto ao observar a cena de longe. Era sempre engraçado presenciar a insolência do loiro explosivo, mas nem Iida, nem Bakugou tiveram tempo de continuar sua pequena discórdia, quando um forte cheiro do perfume extremamente doce invadiu as narinas de todos, deixando Shouto ligeiramente enjoado.

— Muito bem, jovens! Todos sentados! — Midnight entrou na sala, fechando a porta atrás de si com um sorriso doentio nos lábios, o chicote nas mãos e aquela expressão sádica de quando ela estava prestes a punir seus alunos – não com o chicote, é claro, o acessório apenas adicionava ênfase a sua estética.

— Bakugou, pés fora da mesa! Midoriya, Iida, em seus lugares!

Iida e Midoriya fizeram uma reverência antes de retornarem aos seus lugares. Já Bakugou resmungou alguma coisa e lançou um olhar venenoso para a professora, antes de realmente fazer o que ela havia mandado.

— Present Mic pediu para que eu assumisse a aula de literatura de hoje — começou a explicar, parecendo extremamente empolgada com a ideia — Então, eu estou aqui — continuou, tentando fazer uma imitação engraçadinha da frase icônica de All Might.

Nem todas as aulas do curso de heróis da U.A. eram feitas de adrenalina, treinos e combates. As aulas regulares eram tão chatas quanto em qualquer outra escola, muitos achavam que elas pareciam designadas a entediá-los até a morte.

A U.A. tentava transmitir uma ideia de que todos precisavam trabalhar com diversidades, o que era verdade. Era esperado que eles desenvolvessem a capacidade de trabalhar com diferentes pares, minimizando diferenças, arranjando formas de explorar qualidades e lidando com eventuais fraquezas, tanto próprias quanto as de outras pessoas. Esse tipo de coisa era capaz de salvar vidas em situações de perigo.

Bem lá no fundo, Shouto gostava dessas aulas mais tranquilas. Era como estar em uma escola comum, sem a pressão de treinos intermináveis e assuntos sobre heróis, rankings de popularidade, tornar-se o número um, superar uns aos outros, competir incessantemente. Ele já ouvia o suficiente disso em casa.

Por isso, quando Midnight anunciou a atividade que o outro professor havia deixado – um trabalho que visava utilizar alguns contos de fadas, envolvendo alguma criatividade como uma pequena atuação ou coisa do tipo, para que eles entrassem em contato com alguns valores – Shouto não se surpreendeu muito. Na verdade, era a cara de algo que o Present Mic faria com eles. A parte assustadora era ter a Midnight conduzindo essa atividade em seu lugar.

A professora informou que iria escrever as duplas no quadro e assim que acabou, lançou o chicote no ar de forma dramática, concedendo-lhes a permissão para que se juntassem aos seus parceiros, dando início a um pequeno alvoroço de carteiras rangendo ao serem arrastadas de um lado para o outro.

Shouto prendeu a respiração por um instante, mordendo o próprio lábio ao encarar o nome que estava bem ao lado do seu. Midoriya olhou para trás, com os olhos arregalados, mas o garoto apenas deu de ombros, como se lhe dissesse que estava tudo bem e o esverdeado não teve outra escolha senão olhar para a frente, quando a professora começou a dar mais algumas orientações.