Capítulo 5 - Sobre festejos e maldições

Start from the beginning
                                    

– Se você quiser, no caso – Bisca deu de ombros – Talvez seja a primeira mulher da sua idade que você pergunte sobre a vida mesmo.

Belman e o restante dos amigos gargalharam mediante ao comentário durante o tempo em que a porta da sala de Tantom não se abriu. Quando ela o fez, o corpanzil do taberneiro deu as caras carregando uma grande caixa de madeira e com esforço, pousou-a no balcão do bar.

– Quer ajuda Tantom? – ofereceu Andros, já se adiantando até o bar.

– Se você tiver bondade no coração, Andros, tem mais duas dessas que eu preciso trazer.

– O que é isso, afinal? – perguntou Belman, franzindo o cenho.

– Vocês vão ver – disse o homem, ofegante, voltando a sua sala junto com Andros.

Eles fizeram o trajeto mais duas vezes, trazendo a cada retorno mais uma caixa de mesmo tamanho da primeira, que sacolejavam qualquer coisa de vidro que estivesse dentro. No pousar da última, Tantom enxugou as gotas de suor que já começavam a surgir na têmpora. Apanhou detrás do balcão um pé-de-cabra que muitos não sabiam que ficava ali e fincou-o na junta da tampa de uma delas.

– Meus amigos! – exclamou, fitando a todos no salão teatralmente. – Hoje é dia de apreciar a mais exótica bebida de Velbelar.

Com um empurrão, a barra de ferro estourou os pregos da caixa e a tampa soltou, caindo no chão com um baque seco. Todos estenderam as cabeças e notaram que dentro haviam várias garrafas de vidro com um líquido roxo. Belman, que já estava em pé, disparou com passos longos em direção ao invólucro de madeira e deixou sua visão cascatear melhor sobre o produto.

– Tantom, isso é... – disse o garoto, gaguejando.

– Vinho Nobre de Velbelar – o taberneiro o cortou, também aparentando deleite. – A bebida mais requisitada em toda a região da corte de Faélia. Chegou hoje de madrugada pelo meu fornecedor. Não foi uma surpresa para mim, é claro, mas eu quis que fosse para vocês. Esperei durante um mês inteiro, mas finalmente ela chegou.

Belman apanhou uma das garrafas, segurando-a com tanto cuidado quanto um bebê e rodou-a teatralmente para que seus amigos a vissem.

– Tantom... isso é caro, isso é caro para cacete.

– Caro e bom, meu rapaz. Sabe, para essa Noite de Míria eu tive planos de recompensar o trabalho árduo dos meus funcionários com um certo agrado.

– Não vai ser para os clientes? – indagou Frida, levantando junto com todos os outros para se aproximar do balcão.

– Clientes? – riu Tantom. – Eles que viagem para Velbelar e gastem o salário para conseguir meia dúzia dessas. Hoje à noite será dia de comemoração apenas para nós e amigos próximos.

– Pela boa mãe! – exclamou Edbert, se aproximando mais do que os outros, com o olhar vidrado.

– Chamei-os mais cedo para que tenham tempo de trabalhar um pouco antes de saírem para se arrumar. Afinal, mesmo que não a noite, as pessoas ainda vêm aos montes em dias de Míria e vai ser bom para tirar boas lascas desse povo. Nesse caso, trabalhem até o quinto sino, e então sumam da minha frente e só voltem lá pelo nono, com suas melhores roupas.

Os funcionários, muito animados, trocaram palavras de previsão sobre a noite que se aproximava. Músicos tiveram sido contratados, assim como cozinheiros, garçons e faxineiros, e eles teriam um momento para apenas se deleitar, uma noite para ser lembrada.

– Lifa, quer acompanhar Frida e eu até em casa mais tarde? – sugeriu Tuda, catando a garota pelos ombros e fitando-a emocionalmente de cima a baixo. – Posso lhe emprestar algum vestido, inclusive eu tenho um lindo que lhe caberá perfeitamente.

A Caveira de LuzWhere stories live. Discover now