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Sarah

A luz do sol invade a janela, batendo em meus olhos enquanto sofro pra acordar às 6 da manhã de um domingo. Às 7 em ponto eu teria que estar na igreja, onde vou todos os domingos assistir à missa. Por um momento penso em dizer que estou doente, mas lembro em seguida de que já dei essa desculpa na semana passada.

Desde pequena sou levada à igreja todos os domingos, instruída em uma das escolas mais conservadoras de Los Angeles, convivendo com uma das famílias consideradas cidadãs de bem. Vivo de aparências, de devoção, de divindade. Mas na verdade, em minha cabeça ronda os pensamentos mais profanos possíveis. Eu vivia sob duas vidas completamente diferentes, que se contrastam entre si. Hoje eu seria a boa moça, assim como todo domingo eu seria.

Me arrumo depressa e desço as escadas para comer e vejo que Nicole já está na sala me esperando. Como minha amiga de infância, ela já passou por várias situações comigo, sendo a única em que eu posso contar nessa cidade totalmente conservadora. Minha mãe a acha o melhor exemplo para mim, mal ela sabe da namorada gostosa que ela encontra escondida dos pais, todos os sábados em outra cidade.

A igreja fica à 15 minutos a pé da minha casa. Enquanto caminho, lembro do histórico de polêmicas que envolvem a Saint Cecilia, o mais recente deles envolvendo a saída do atual padre, por suspeita de desvio de dinheiro do dízimo dos fiéis.

O padre novo já está na cidade.

Que rápido. — digo, indiferente — Eu aposto que ele sai em 6 meses, a Saint Cecilia não é para amadores. Você chegou a vê-lo?

Que nada, só sei que ele veio de Las Vegas.

Las Vegas? A capital mais pecaminosa dos Estados Unidos? Ah, a quem estou querendo enganar, vai ser apenas mais um velho de 70 anos. Quem aguenta?

Rimos, enquanto adentramos a igreja, a missa não havia começado ainda. Faço o sinal da cruz de praxe e vou até o meu lugar de sempre. De repente o tal padre novo entra e nem em meus sonhos mais pesados eu poderia imaginar aquilo na minha frente.

Um homem que eu chutaria ter uns 25 anos no máximo adentra a igreja, indo preparar o altar para iniciar a missa. Suspiro forte e involuntariamente assim que reparo nós detalhes. Cabelos negros, olhos castanhos como mel, a barba por fazer em um maxilar incrivelmente bem desenhado. Desço o olhar até a sua boca, a imaginando em todos os locais possíveis do meu corpo. Mordo o lábio em resposta, já pedindo perdão à Deus pelos pensamentos profanos, mas o xingando mentalmente por ter colocado essa tentação em meu caminho.

Sarah? — Nicole me chama de repente e tomo um susto — Você tá bem? Tu tá pálida.

Nicole, eu tô delirando?

Ah, entendi. — Nicole ri — Você também reparou que o padre novo é um gostoso do caralho.

Isso vai ser muito interessante.

O tal homem inicia a missa se apresentando. Brendon Urie. O sobrenome ressoa em meus ouvidos, naquela voz grossa e rouca e sinto um arrepio percorrendo a minha espinha. Um típico homem de Las Vegas está ali em minha frente, vestindo uma túnica branca enquanto recita ensinamentos para os hipócritas presentes aqui nesta igreja. Fico totalmente absorta nas palavras dele e sinto minha boca secar, percebendo o quanto é sexy vê-lo proferindo os salmos. A missa termina, mas a minha curiosidade não.

Nicole, eu vou ao confessionário.

— Mas você já se confessou semana passada.

Não com o padre novo.

Coitado dele. Vai sair correndo ao ouvir os seus pecados semanais. Não quero ir hoje, vou indo à lanchonete, te espero lá.

Ela sai e eu vou em direção contrária, seguindo o corredor que dá até a sala do confessionário. Rotineiramente faço isso todo mês, apesar de eu não me arrepender de nada do que eu faço ou fiz. Mas dessa vez seria diferente. Era uma desculpa para me aproximar de Brendon. Cheguei lá e não havia ninguém esperando, para a minha sorte. Ou azar. Respiro fundo e vou até ele, que se esconde por trás da parede quadriculada de madeira.

Bom dia, padre Brendon. 

Bom dia, saiba que nada que você dirá para mim sairá desse confessionário. — Sinto a voz vibrar em meu corpo inteiro, me deixando fraca perante aquela autoridade. Pelos espaços quadriculados o vejo já sem a batina, usando um terno vinho que de certa forma realçava o seu corpo. Que desperdício.

Certo. Padre, eu pequei...

Conte-me qual a gravidade de seu pecado e se você se arrepende do que fez.

Aquela pergunta me desconcerta por inteira. Ele olha em meus olhos e o arrepio volta com força. Eu estava desejando aquele homem por inteira, uma blasfêmia que eu estava tendo o maior prazer de cometer.

Essa é a questão padre, eu pequei contra a Igreja e não me arrependo.

Qual foi o seu pecado, Sarah?

Desejar que você me foda até que eu esqueça meu nome.

Hallelujah • THE URIE'SOnde histórias criam vida. Descubra agora