2

29 1 2
                                    

Riley

É em meio ao caos que nos descobrimos, a nossa percepção sobre a realidade nos torna quem somos, Saint Falls foi o lugar em que me reconstitui inúmeras vezes. 

Mas foi Nova York que me transformou em quem sou hoje. 

890 dias longe de casa foram suficientes para provar o quanto a liberdade é deliciosa e assustadora, porque você percebe que quando não há ninguém que se importe com você, até em meio a multidões você estará sozinho. 

- MÃE, A RILEY CHEGOU - Escuto os gritos da minha irmã enquanto atravesso a porta de entrada. 

- Por que a casa está azul? - Ela ri e se joga em meus braços - Também senti sua falta Aisha. 

- Você não pode sumir por dois anos !- Ela soluça como uma criança de cinco anos. 

Mas não foi o que eu fiz ?

Escuto minha mãe correndo escadaria abaixo

- Quer dizer que a minha filha ingrata voltou para casa? - Ela diz assim que me vê 

- É ótimo te ver novamente mãe. - Ela ri e me da um abraço apertado 

- Senti sua falta filha - Ela sussurra

- E eu a sua mãe. 

Em situações normais não estaríamos tão melodramáticas.  Na realidade, com exceção do meu pai, que fazia questão de repetir todos os dias o quanto nos amava, a tão famosa frase "eu te amo" fôra dita poucas vezes entre nós. 

- Agora suba tomar um banho, você está imunda!- Ela me olha com nojo 

Eu estava tão exausta que as únicas coisas que eu queria era um banho quente e talvez algumas doses de Whisky.

- Senti tanto a sua falta - Olho para minha banheira - Os banhos em Nova York não são divertidos sem você querida. - Digo enchendo-a e me despindo 

- Precisamos conversar - Minha irmã  invade o banheiro assim que entro em meu santuário 

-Agora? - Ela suspira trancando a porta atrás de si - Uma perguntinha, você conhece uma coisa mágica chamada, camisinha ? Ela previne inúmeras doenças sexualmente transmissíveis e até gravidez. 

Ela senta na ponta da banheira 

- Eu não vou aguentar Riley, eu tenho dezoito anos!- Seu tom de voz era cansado - Eu nem sei se sou capaz de continuar chorando, parece que tudo em mim está errado. - Suspiro 

- A vida não é um conto de fadas Aisha, você fez uma ação e está sofrendo as consequências, e está tudo bem, não é o fim do mundo. Sim é muito cedo, mas essa criança não vai te privar de realizar seus sonhos - Aliso sua barriga- Depois de tudo que essa família passou, acha que não vamos superar isso?

- Eu estou com medo 

- E eu estou com você - A abracei

Eu não era a pessoa ideal para ensina-la a lidar com isso, com o medo, o julgamento, a dor. Mas, ela era a minha família, e eu mataria e morreria para protege-los contra o mundo. 

Ali ficamos durante algum tempo conversando sobre bobagens e experiências , como a muitos meses não fazíamos.

Situações fora do nosso controle nos apavoram, Aisha estava apavorada, eu a entendia, mas não podia ajuda-la. 

E talvez isso me apavorasse, eu precisava sair dali. 

E foi assim que horas mais tarde eu me encontrava em um lugar que a muito tempo não frequentava. O clube do Bill.

- Ora, ora, ora uma boa filha a casa retorna - Sorrio ao ver o Bill 

- Achou que nunca mais me veria Bill pai ? - O velho ri

Bill era um homem gentil, dono do único pub da cidade e amigo pessoal do papai. 

- Você nunca mais deu noticias, achei que Nova York havia acabado com você - Só pude rir com suas caretas 

- Lamento decepciona-lo meu velho, agora um Whisky com gelo, por favor. 

- Algumas coisas nunca mudam pequena Riley - Ri, preparando minha bebida. 

- Onde Jerry está ?- Passei minha infância ao lado de Jerry, eu sentia sua falta. Acontece que conforme fomos crescendo Jerry tinha outras coisas em sua cabeça, como basquete e saias curtas. 

- Está bem, ele volta este fim de semana da faculdade, vocês poderiam sair!- Disse animado 

- Seria um sonho para você e papai, não é ?

- Vocês estão solteiros, são jovens com muita disposição, e formariam um belo casal - Dou o primeiro gole em minha bebida 

- Seriamos felizes durante algum tempo, passariam-se meses, talvez anos, o amor aos poucos se desgastaria e ele me trairia, ai nossa amizade chegaria ao fim, e acabaríamos decepcionando Elisa e com dois corações partidos- Viro o resto da bebida e Bill me abastece

- E quem seria a Elisa?

- Sua neta!

- São possibilidades, não vai saber se não tentar! - Era a minha vez de rir - Quando foi que perdeu a fé no amor? - Sinto seu olhar pesando sobre mim 

Viro o resto da bebida em meu copo. 

-  Quando a vida me mostrou que o "felizes para sempre" não existe - Ele me serve outra dose 

- Não seja dramática, aviso quando Jerry chegar - Apenas concordo 

- Me avise se tiver uma vaga aqui também- Ele ri 

- Para você sempre tem, comece amanhã as oito - avisa me deixando sozinha com a garrafa de Whisky

O clube era conhecido e badalado pelos mais jovens, a música ao vivo  e a bebida atraiam os solteiros que não tinham outras opções, e por isso, como todas as noites a casa estava cheia. 

Bom, ao menos eu já tinha um emprego. 

- Somos só eu e você querida - Digo abastecendo meu copo 

- Vai com calma Davies, sabemos o que acontece quando bebe demais- Sinto um frio preencher meu estômago 

- Agradável como sempre Dylan - O conquistador de Saint Falls senta ao meu lado - Me diga, o que exatamente acontece quando eu bebo demais?

- Você dorme com um dos Fosters - Diz como se fosse óbvio e não pude deixar de gargalhar 

- Então me explica, por que eu nunca dormi com você? - Encaro Dylan Foster.

- Eu nunca te quis - Diz cínico

Dylan era o primo de James que morava na propriedade dos Foster, o sujeito nunca me agradou e em todas as oportunidades que me via não poupava recursos para me levar pra cama. 

- Não é essa a versão que me lembro - Coloco a mão em sua perna e me aproximo de seu ouvido, vejo os pelos de sua nuca arrepiarem ao meu toque e sorrio - Nós dois sabemos que eu só dormi com um dos Foster Dylan, e deus sabe o quanto você queria que esse fosse você. - Me aproximo mais e vejo sua respiração pesar - Pense um pouco antes de falar e tenha uma boa noite. 

Alcanço minhas chaves no balcão e me despeço de Bill. 

Antes de atravessar a saída nossos olhares se cruzam, é como se todo ar em meu peito perdessem o rumo e se esvaísse de meu corpo. 

Lá estava ele. 

James Foster. 

Destinada a vocêWhere stories live. Discover now