Capítulo 1 - Seus Lábios

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Eu mastigava e engolia uma série de ursinhos de gelatina enquanto o avião pousava. O pior lado das viagens para mim é que eu tinha sérios problemas quando o assunto era pousos de avião. Sentia forte pressão no ouvido e achava que minha cabeça iria explodir.

Geralmente, quando isso acontecia, eu colocava a cabeça sobre o colo da minha mãe e deixava a dor diminuir enquanto pousávamos, mas, eu não tinha mamãe naquele momento. Eu tinha um homem de terno, até bastante bonito e atraente ao meu lado, mas, a ideia de me jogar em cima dele não me parecia agradável. Na verdade, soava meio maluca.

Aquela viagem estar acontecendo comigo era quase um milagre, há um mês e meio atrás eu estaria lamentando o fato de ter que arranjar algum emprego pelo resto do ano que eu desperdiçara com falsas promessas de uma viagem de um ano para a Romênia.

Durante seis meses eu e meus pais planejamos tudo. Eu iria, ficaria na casa das minhas tias em Bucareste, capital da Romênia, e tudo que eu precisava estaria ali: alimento, casa e aprendizado.. Só que a sorte não me sorriu em um dia em que a casa onde elas moravam pegou fogo e todas elas morreram. Nunca tive muito contato com elas e na verdade, fiquei mais triste porque não iria mais para a Europa do que pela morte delas. Afinal, eu as vi apenas três vezes na minha vida: No meu aniversário de quinze anos, no natal de quando eu tinha sete anos e no falecimento da minha avó.

Quando eu achei que estava tudo perdido e já estava preparando meu próprio funeral recebi uma mensagem no Facebook do meu primo de segundo, ou seria terceiro grau, eu não sabia ao certo. O tal cara se chamava Sebastian, que, de alguma forma, soube que eu não estava lá muito bem e que eu perderia tempo, dinheiro e tudo mais, coisa que pra ele como empresário era um crime. Portanto, ele se ofereceu para que eu pudesse passar esse mesmo tempo no apartamento dele, o que me deixou muito feliz, feliz pra caramba, e rezei para que o apartamento dele não pegasse fogo. E realmente, não ocorreu incidente algum.

Pelo menos, não antes de eu pegar o voo. Respirei fundo e suspirei "graças a Deus" quando o avião colocou suas rodas no solo. Eu havia dormido bastante, lido bastante, comido bastante. Até bati um papinho com o coroa gato de terno, mas, eu já estava entediada e, devido à viagem, estressada a um ponto que me deixava pronta para mandar o Sebastian tomar no cu sem motivo algum. Irritação é normal, pelo menos, para mim. Então, não era surpreendente o fato de eu querer descontar a raiva e a tensão do voo numa pessoa que eu ainda não havia conhecido pessoalmente. Assim, em minha mente irritadiça eu queria fazer aquilo sem motivo. Era algo como um stress pós-viagem.

Eu não sabia muito sobre ele além das coisas nós já havíamos conversado. Sabia que ele era um cara muito gato, era inegável com seus olhos azuis, cabelos escuros e uma barba para fazer! As fotos não deixavam mentir, principalmente, quando eu havia passado horas olhando uma por uma. Ouvi dizer que tinha uma noiva, mas se veio da boca da minha mãe, com certeza, não era. Talvez, uma namorada de dois meses ou um relacionamento sem compromisso. Sebastian não tinha cara de quem namorava.

Ele era CEO numa empresa, o pai dele era muito rico e deixou uma fortuna pra ele. Deve chover muita mulher em cima dele. Então, realmente, duvidava de que ele tivesse algum compromisso sério como um noivado. Ele morava sozinho num apartamento de dois quartos, mas, mandou avisar que só tinha um disponível, já que no outro ele deixava os "hobbies" dele. Algo como: uma paixão exasperada por pôquer. Dividir a cama com ele? Não me parecia muito incômodo, muito pelo contrário, seria um prazer.

O avião, lentamente, parou e eu me apressei em soltar o cinto, pegar minha bagagem de mão e ficar em pé pronta para sair. Estava ansiosa, sentia meu coração palpitando. Eu imaginava centenas de coisas, mas, tinha medo do que pudesse vir a acontecer, na realidade. Eu nunca havia ido para lugar nenhum sem minha família. Já havia ficado em casa sem meus pais, porém, nunca havia ficado sem ninguém assim. Naquele momento, não pude evitar de me sentir meio desolada, o que era um contraste, já que ao mesmo tempo eu estava tão animada com todas as oportunidades que pudessem vir a acontecer. Era tanta coisa desconhecida junta que minha mão suava e deixava a superfície da alça da bolsa escorregadia. Sebastian trabalharia o dia inteiro e eu teria tempo de sobra para vagabundear, beber as bebidas dele e fazer tudo o que eu quisesse. Essa ideia de liberdade me agradava tanto, pois, eu mal tinha momentos para mim mesma em casa.

Sebastian - [EM ANDAMENTO]Donde viven las historias. Descúbrelo ahora