Ansel ergue as sobrancelhas em surpresa, talvez não estivesse esperando meu pedido. Então ele apenas acena e fecha o porta malas.

Não falamos nada durante a caminho, o único som era do motor do carro que vibrava aos meus pés. Chegamos no shopping, e pensei que Ansel só me deixaria ali, mas quando ele saiu e disse que iria comigo não reclamei.

O Manhattan Mall estava lotado. Perambulei por muitas lojas de crianças. Comprei macacões em tonalidades neutras, touquinhas de crescimento variadas, eu também pensava que iria ser um menino, então comprei alguns sapatinhos azuis. Ansel era quem levava as sacolas, ele não falava muito.

Parei de frente para a vitrine de uma loja de vestidos de luxo, peças incríveis que eu com certeza compraria. Mas aos pensar que não teria onde usar, deixei para lá.

— Você nunca me dará o divórcio, não é? — falo para Ansel ao pararmos na praça de alimentação. Deixando as sacolas sobre a mesa ele nega com a cabeça.

— Não posso deixar você ir. Becca ainda precisa de você, eu preciso de você.

A emoção na voz dele não passa despercebida.

Seguro na mão de Ansel.

— Não consigo perdoar você, nem sei se algum dia vou conseguir. Mas também não consigo viver nessa situação, pela Becca e por nós, tentarei fazer que nossa convivência seja melhor.

— Obrigado.

Sorrio para ele e ele faz o mesmo, um sorriso verdadeiro, de ambos.

Não quero viver em guerra, não quero ser o próximo alvo dos momentos ruins dele. Se podemos ter uma amizade, que seja isso.

Peço dois fast food. Comemos em silêncio, vez ou outra falamos algo. Agora sei que a cor preferida dele é vermelho, quando perguntei o porquê ele disse ser por causa do sangue. Isso com certeza deixou o lanche menos apetitoso. A banda favorita é Scorpions, ele achou legal quando falei que também era uma das minhas.

Discordamos sobre nossos filmes favoritos. Ele chamou Dirty Dancing - Ritmo Quente, de filme chato. E o dele, que era O iluminado, eu chamei de filme fracassado.

Isso nos fez sorrir como adolescentes.

Pensando bem, eu não queria que os momentos ruins dele nunca voltassem.

***
Ansel

Vê-la sorrindo era a melhor coisa que existia, o modo como os cantos dos olhos enrugam, o movimento com os dedos quando não gosta de algo.

Estou perdido. Com essa trégua que temos, tentarei não fazer nada de errado.

— Acho que devemos voltar. — ela diz. Concordo e pego várias das sacolas. O bebê nem nasceu e já está dando esse trabalho todo. Nunca vi meu irmão tão radiante como agora, isso me deixa feliz por ele.

Um burburinho começa. Pessoas gritam sobre um homem armado. E eu o vejo quando a arma toca minha cabeça.

O tal médico que Danielle tinha um caso. Ele está fora de si, olhos vermelhos e respiração agitada. Eu o desarmaria aqui mesmo, e até mesmo o mataria. Mas há muitas pessoas ao redor.

Os seguranças se aglomeram ao nosso redor.

Levanto minhas mãos.

Danielle está paralisada no lugar.

— Ela é minha! Só minha! — ele grita.

Os seguranças do shopping afastam as pessoas para longe, um tenta convencer Antony a abaixar a arma.

— Antony, por favor! Não faça isso.

Ele move sua atenção para ela, mas a arma continua no meu rosto. O dedo vacila no gatilho, meu corpo gela.

— Eu vou fazer! Você é só minha, não vê isso porra, você é minha.

— Antony, você está louco!

Ele se afasta para trás e aponta a arma para ela. Dou dois passo para frente.

— Estou louco por você! Se não posso ter você, ninguém pode.

Um dos seguranças vendo que não terá outra saída a não ser atirar, ele tira a arma do coldre e atira duas vezes em Antony, que cai no chão.

— Chamem uma ambulância!

Uma senhora grita. Vou até Danielle e a seguro em meus braços, seu corpo treme.

— Ele ia me matar...

— Você está bem. É o que importa.

Antony foi detido e levado para o hospital, a família foi avisada. A mãe disse que ele não aparecia em casa há dias, e que no apartamento dele havia diversas fotos de Danielle.

Por falar em Danielle, ela ainda estava abalada. Pedi para que minha mãe fosse cuidar dela.

Eu tinha um assunto para resolver, Daryl tinha informações sobre o mandante da explosão na floricultura.

Eu iria matar alguém.

***

Desconhecido

A troca de turnos entre os policiais tinha começado. Com um capuz escuro boa parte do rosto do homem ficou escondido. Ele abaixou a cabeça ao passar por um médico.

Entrou no quarto silenciosamente. A mulher dormia na poltrona, isso não o incomodou. Observou o rosto abatido do homem deitado. O ódio borbulhou em suas veias. O estúpido quase tinha colocado tudo a perder.

Foi fácil colocar um travesseiro no rosto dele e o sufocar até a morte.

As máquinas apitaram e ele saiu rapidamente do quarto.

Com as mãos enluvadas dentro do casaco ele seguiu pelo corredor, ouviu o grito da mulher, deixando um sorriso curto escapar.

Ninguém mataria Ansel, a não ser ele mesmo. E faltava bem pouco. A essa hora ele e a família deveriam estar no avião rumo a Aspen.

O show começaria.


Beijoca e até sábado 😚😍

Se preparem, os próximos quatro ou cinco capítulos serão os últimos. Terá muitas lágrimas, e minhas também. 💔💔

Ansel - Trilogia Sombras da Noite #1 ✔️Where stories live. Discover now