Trinta e Cinco: Voltar?

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— Fique tranquila, Sarah. — Sorriu Gabi tentando me passar tranquilidade. — Você tem total liberdade de falar o que quiser para a sua família.

A emoção foi ganhando espaço em meu peito e nos meus olhos.

— E toda sua experiência maternal é bem-vinda para uma inexperiente mãe de um menininho agitado. — Dani beijou minha cabeça. — Podemos falar mais após o jantar. Aliás, porque não vai chamar os meninos? Eles estão se divertindo, tentando fazer a bebezinha gostar deles

Concordei e ainda com a mente trabalhando para processar todas aqueles acontecimentos, segui até a sala onde papai, meus irmãos e Victor conversavam tranquilamente sentado no sofá de estofado bege, todos assistindo a um programa infantil.

— Ah, então é assim que vocês conseguiram fazê-la parar de chorar? — questionei e sorri ao ver a bebê sentada no colo de Davi, mordendo sua própria mão e prestando atenção ao colorido desenho na tela a sua frente.

— Bebês são instáveis. Muito instáveis — Jonas comentou um pouco perplexo.

— E logo você experimentará na pele, meu filho. — Papai tentou chamar a atenção de Mabel balançando um brinquedinho na frente dela e se derreteu todo quando a viu esboçar um sorrisinho. — Logo está casa será pequena para os meus netos, se Deus quiser.

— Deus abençoe para que Mabel tenha muitos primos para brincar com ela por aí — Victor comentou e me alegrou ver seu esforço para manter a comunhão com minha família.

— Mas me diga uma coisa doutor, você tem certeza que essa bebê é sua filha? — Jonas interrogou e eu senti meu coração errar um compasso.

Que tipo de questão era aquela, pelo amor de Deus?

— Sim, absoluta! — Vic riu e respondeu sem se alterar e eu estranhei.

— Ah, não, não é possível — Jonas bateu nas costas de Vic e em seguida acariciou a cabeça de Mabel. — Ela é bonita demais para ser sua filha, meu irmão.

Uma onda de alívio percorreu meu corpo ao perceber que era tudo brincadeira.

— Quanto a isso não há discussão, os genes da beleza vieram da nossa parte. — Davi piscou com charme. — E ela é bem espertinha, deve ter puxado isso do tio. Não é, princesinha?

— Ou do avô — papai entrou na brincadeira.

— Ou do pai! — Vic também contribuiu.

— Ou da sua mãe faminta que não aguenta mais esperar pelos bonitos se levantarem para irmos jantar — interferi, pegando Maria no colo e ri quando eles me fizeram uma careta. — Vamos comer, a mesa já está posta.

Seguindo minhas ordens, os rapazes foram levantando e caminhando para a cozinha ao mesmo tempo que discutiam quem era o grande fornecedor de bons genes para a minha filha. Victor foi o último a se erguer do sofá e antes de acompanhar aos outros rapazes parou diante de mim.

— Você está se saindo muito bem — ele elogiou e eu senti o rosto esquentando.

— Obrigada por estar aqui comigo, sei que não deve estar sendo fácil pra você também. — Sorri um pouco afoita demais, ele retribuiu o gesto e me convidou com um gesto para nos juntamos ao restante do grupo.

— Antes de nos deliciarmos com as provisões que o Senhor nos dá, eu gostaria de dizer algumas coisas — Papai começou e seus olhos encontraram os meus. — Sou grato ao Senhor por este momento único e... — Ele fez uma pausa e não conseguiu resistir à emoção. — Eu... Eu, simplesmente, não tenho palavras para dizer o quanto louvo ao Deus da minha Salvação por ter trago minha menina de volta... — As lágrimas vieram para mim também e eu após deixar a bebê com o Vic, fui até meu herói e o abracei mais uma vez. — Ah, meu Jesus, meu Santo Jesus! Como Tu és exaltado! Esse momento de alegria não é somente para celebrar o retorno de Sarah, mas também para glorificar o Seu nome poderoso, pois não há impossíveis para ti, meu Pai! Não há!

A oração de gratidão foi feita e depois de tanto berreiro, nós tomamos lugares e nos deliciamos da graça do Senhor, revelada não somente através da provisão, como também na comunhão que estava sendo restaurada.

Enquanto comia, fiquei em silêncio, refletindo e observando tudo. A esfera tão boa, o clima de amor e as conversas contribuíram para que eu desejasse não querer sair daquela casa nunca mais. Contudo, uma voz em minha cabeça gritava que eu não era digna de voltar ou estar entre eles, me fazendo questionar até mesmo a veracidade do perdão oferecido a mim por todos depois dos meus atos escandalosos.

Meu coração estava angustiado e pesado. Eu precisava orar. Minha alma clamava por estar aos pés do Senhor, almejando sua direção naquele momento em que a dor terrível me abatia profundamente.

— O que há, Sarah? Por que ainda está chorando? — Victor sussurrou, chamando minha atenção para si. Eu nem mesmo havia tocado na comida em meu prato quando todos os outros, até Mabel, já estavam finalizando suas refeições.

— E-eu...  — Levantei-me chamando, sem querer, a atenção da minha família que até então conversavam distraídos. — Com licença.

No meio do caminho em direção a área externa da casa, eu fui acometida, mais uma vez, pelo choro compulsivo. Não foi minha intenção causar uma cena e ceder aos meus sebtimentos conturbados, mas foi impossível. Eu não planejava fugir outra vez, mas precisava de um tempo para pensar urgentemente.

Cheguei ao lado de fora, me sentei no promeiro degrau e escondi o rosto.

— Eu não sou digna de tanto amor, meu Deus — orei baixinho sentindo a voz e o corpo fraquejarem.. — Como o Senhor pode agraciar uma pecadora como eu com uma família dessas? Por que eles me receberam de volta? Por que me perdoaram depois que os feri tanto... Eu não entendo... Não mereço...

Fiquei ali durante algum tempo orando, meditando e me derramando aos pés do Senhor. Só de expor minhas dores, o fardo foi tornando-se mais leve.

— Se graça fosse questão de merecimento não seria graça, meu amor. Se apenas os perfeitos fossem dignos de perdão, perdoar não seria necessário. — Senti os braços quentes de papai me acolherem. — Você precisa lançar sua culpa sobre os pés de Cristo, filha. Precisa entender que os seus pecados foram perdoados e se o Santo não a condena, nós também não.

Eu olhei nos olhos daquele homem bondoso e não duvidei de suas palavras de amor.

— Oh, meu pai...

Antes de me dar a oportunidade de expressar mais uma vez meu profundo arrependimento, ele levantou-se e ofereceu sua mão.

— Venha comigo, Sarah.

Hesitei por alguns instantes, mas acabei aceitando depois dele garantir que não havia porquê eu me preocupar. Sem medo, nós fomos de mãos dadas de volta ao interior da casa e seguimos até um corredor que eu conhecia bem. Paramos diante da porta do meu antigo quarto e eu ri um pouco ao notar os adesivos colocados e mantidos intactos desde minha saída e não só isso. Quando meu pai abriu a porta e me deu passagem, eu levei um grande susto com o que estava diante de mim.

— Tudo foi conservado no mesmo estado em que você deixou quando saiu. Nós esperávamos o seu retorno — informou e eu comprovei suas palavras ao ver aquele quarto cor de rosa, com inúmeros quadros, pôsteres  na parede, o tapete em forma de uma margarida e até na cama os travesseiros estavam dispostos do jeito que costumava deixá-los. Senti a mão quente do meu progenitor tocar meus ombros. — Volte para casa, Sarah. Volte para nós. 

Aquilo me serviu de sinal.

Então eu assenti e aos prantos abracei papai, decidida que não passaria nem mais um dia sequer longe de sua proteção.

NOTA:

Estou vencendo meu bloqueio ❤🤝🏻
Vamos acabar esse livro logo! ❤

Ensina-me amarWhere stories live. Discover now