II

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E podíamos ter sido tanto. Mas éramos tão novos. E tão inocentes. E sem saber o que era a vida. Ainda hoje não sei. Mas já não sou aquela menina frágil que só tu conhecias. Eras o único que conseguias ver que por detrás da minha máscara de racionalidade existia alguém. Alguém com um coração de ouro. Mas foste o único que, um dia, conseguiu ver isso. E até essa humanidade eu sinto que perdi.

Nunca mais consegui olhar para ninguém da mesma forma que olhava para ti. Nunca mais apareceu na minha vida ninguém tão fascinante como tu. Talvez até tenha aparecido mas não eras tu, por isso descartei logo à partida.

Sempre vivi em função de ti e talvez por isso, hoje, me sinta tão perdida. Ninguém é capaz de ver este meu vazio interior. Apesar de ter alcançado o que sempre quis, o mestrado em engenharia mecânica, o emprego fixo das nove às cinco, um bom salário, não me sinto completa. Nem pouco nem mais ou menos.

Falta-me a estabilidade que só tu me conseguias dar. Tenho tanto mas tão pouco ao mesmo tempo. E sabes o que é mais irónico? Apesar de me sentir vazia voltaria a fazer tudo igual. Voltaria a pôr a minha racionalidade à frente de tudo e a fazer o que era "certo". E é num universo de antíteses que perco o rumo todos os dias. Deambulo por aí sem sentido ou destino.

Sinto falta das tuas palavras reconfortantes depois de um teste onde tinha tirado menos de 18.5. Eras tu quem tirava notas péssimas na maior parte das vezes mas quem se sentia mal era sempre eu. E lá ias tu, com essa tua paciência infinita, dizer-me que a vida não acabava ali e que no próximo certamente correria melhor.

Foram grandes tempos, os nossos. Ficaram as memórias. E os retratos na parede. No coração. E sorríamos, de mãos dadas. Sabíamos lá o que era o amor.

Na Tua SombraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora