CAPÍTULO 1

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Antes eu acreditava que as pessoas decidiam suas próprias vidas. Que estávamos no controle. Comandando o nosso futuro. Escolhendo nossa faculdade, a nossa profissão, nosso cônjuge e a hora de ter filhos. Responsáveis pelas decisões que dão forma ao curso da nossa vida. Mas há uma força mais poderosa do que o livre arbítrio. Nosso inconsciente. Por baixo dos ternos caros, dos vestidos deslumbrantes, atrás das portas fechadas, somos todos comandados pelos mesmos desejos, e, esses desejos podem ser impróprios, sombrios e profundamente indecentes.
Pensando agora, não é que eu não soubesse, mas era excitante demais, inebriante demais, eu não conseguia parar e de repente eu estava tão perdida que não reconhecia mais nada, principalmente a mim mesma.

3 ANOS ANTES...

Encarava o mapa que eu sempre carregava comigo repleto de pequenas estrelinhas vermelhas, coladas sobre lugares que já visitei.
Posso deixar a modéstia de lado e dizer que já fui à muitos lugares. Nem todos são mundialmente conhecidos, mas são igualmente incríveis. Eu tenho certa preferência por lugares mais exóticos e desconhecidos, geralmente são bem mais baratos de se sobreviver e tem muitas surpresas. Não é exatamente um estilo de vida fácil, mas, é o único em que me encaixo. Ser uma viajante, faz de mim uma mulher mais confiante e segura. No fundo, eu penso nisso como liberdade, nunca saberemos qual é o real significado desta palavra, mas, gosto de imaginar que seja isso. Viajar, sentir aquele friozinho na barriga quando o avião está decolando, sentir o vento em seu rosto quando está no alto de uma montanha, sorrir com pessoas novas que nunca imaginou conhecer, explorar culturas, línguas e costumes totalmente diferentes dos seus , deixar sua marca e ser marcado por onde passa. Essas pequenas coisas fazem eu me sentir livre. Estar longe das rotinas infernais em que as pessoas "normais" costumam viver me traz uma tranquilidade e paz de espírito que não é possível descrever. Desde a adolescência eu odiava a idéia de ter um emprego fixo, trabalhar oito horas por dia, ter uma família e um casamento que não é tão bom assim, obrigações de final de ano, viajar para a casa da vovó no natal, levar as crianças na disney, etc. Apenas de mencionar tais coisas eu já me arrepiava em agonia. Por isso eu batalhei muito durante toda a minha adolescência, sempre trabalhando no que dava, fazendo algumas coisas para vender por conta própria e, quando ganhei minha primeira câmera fotográfica do meu padrasto Bill, estudei o máximo que podia sobre fotografia, literalmente virava noites estudando, testando e conhecendo para depois começar a trabalhar em pequenos eventos na cidade. Foi uma época muito difícil dentro de casa, minha mãe literalmente abominava a idéia de me ver viajando por ai, coisa que eu sempre deixei claro que faria assim que tivesse condição, então ela implicava com tudo que eu fazia, todo trabalho que eu arrumava e sempre inventava alguma coisa urgente para pedir dinheiro emprestado para mim. A gente brigava muito e isso apenas reforçava a minha vontade de sumir daquele lugar, eu sempre disse isso para ela e ela apenas não me dava ouvidos. Então quando completei 19 anos, eu finalmente tinha tudo que precisava para começar a minha jornada
Hoje, como passo pouco tempo com eles, sinto bastante falta. Particularmente, sinto uma saudade especial da minha irmã mais velha, sempre fomos muito ligadas e nos demos muito bem. Compartilhamos das mesmas idéias e sempre sonhamos em viajar juntas, mas, por um pequeno descuido ela ficou grávida um pouco antes deu embarcar na minha aventura. Foi um pouco duro para nós duas termos que aceitar que a partir daquele momento era mais do que óbvio que seguiríamos caminhos diferentes, mas o nosso pequeno Téo acabou sendo uma verdadeira benção em nossas vidas e não atrapalhou a mãe em nada, ela continua doidinha da cabeça e sempre procura se aventurar com ele. Afinal, ela precisa suprir a falta que o pai dele faz. Eu queria verdadeiramente dizer que o pai dele morreu e que ele era um cara muito legal, mas a história é clássica, ele se mandou assim que soube da gravidez. Então tivemos que nos unir muito naquela época para apoiá-la e fazer com que o Téo chegasse sem que não faltasse absolutamente nada.
Bem, como eu disse a vida de andarilha não é fácil e eu preciso me manter como todas as outras pessoas. Então resolvi juntar minhas duas paixões e viver apenas com o que eu gosto de fazer. Me especializei ainda mais em fotografia e também em marketing digital, criei uma conta no instagram para compartilhar minhas experiências e também dar dicas e expor minhas fotografias. Foi algo que deu muito certo e hoje a conta tem muito reconhecimento e é assim que sobrevivo. Basicamente entro em contato com o hostel onde vou ficar e proponho de fazer divulgação, algumas vezes reformar sites ou até criar algum, fazer fotos do lugar para suas devias páginas na internet e etc. em troca ganho algum desconto, alguns dias sem ter que pagar a diária, um quarto um pouco mais vip, refeições gratuitas, entre outras coisas. Em alguns casos vou por meio de serviço voluntário, que geralmente é arrumar quartos, ficar na recepção ou servir em alguma festa. E é sempre muito bom, essa coisa de contato com as pessoas, dessa troca de experiências e vivências é do que realmente gosto.

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⏰ Last updated: Feb 17, 2020 ⏰

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