4: Neve e calor.

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Mas, o inevitável um dia irá chegar: acabarei tropeçando, sozinho, preso na mente de um adolescente sem futuro. Uma caixa escura e sufocante.

- Trevor - A voz suave de Melanie me assustou. Encarei seu corpo magro no vão da porta, rindo ao observar suas pantufas de melancia. - Vamos no Candy's hoje. - Avisou.

Juntei as sobrancelhas.

- Você mal consegue respirar. - Esclareci negando com a cabeça. - Podemos ir dep...

- Não. - Me cortou rapidamente. - Lory e Din vão embora. Não quero perder tempo. - Observei ela entrar no quarto e começar a mexer no quarda-roupa. - Se mexe. Vamos sair.

Me joguei em seu colchão, encarando o teto. Posso sentir cheiro de pêssego; tem tantos ursos aqui, além de fotos dela com todos no dia da praia. Meu coração bateu com força ao lembrar no dia na praia. Melanie parecia mais livre naquele dia, como se as ondas que batiam em seu corpo, tivessem levado seus pequenos, porém intensos, medos.

Mar. Maire. Ao fechar os olhos com calma, o rosto de minha mãe invadiu minha mente. Seu sorriso suave, seus cabelos ondulados e loiros, e até pude respirar, sentindo o cheiro de maresia que mamãe tinha. Entrei em êxtase quando me lembrei de seu abraço apertado. E, naquele momento, me senti uma pena, afundando no colchão, indo parar em um mar escuro e sem saída.

- Mãe - Murmurei com o nome rasgando minha garganta.

Controlei minha respiração, voltando a mim. Abri os olhos, buscando desesperadamente por ar. Melanie parou de mexer nas roupas e me observou com preocupação. Me sentei na cama com rapidez, atordoado ao olhar ao meu redor.

- Trevor - Melanie se aproximou, sentando ao meu lado na cama e tocando meu braço. Me acalmei com seu calor sereno e bem vindo.

Seu olhar procurou o meu, e pude ver a piedade e dor neles.

- Você está pálido. O que foi? - Indagou suavemente.

Segurei sua mão, a acariciando com calma e me acalmando.

- Não é nada. Estou bem agora. - Senti a maciez de sua pele na ponta dos dedos. Ela ainda estava quente. - V-você pode me abraçar? - Indaguei com o coração acelerado.

Sempre foi fácil tocar em alguma garota, mas com Melanie, é diferente. Tenho hesitação em tocá-la, tenho medo de sua reação e o que pode acontecer se eu fizer isso. Mas mesmo assim, a nossa intimidade está crescendo. E toda vez que a beijo, sinto fogos de artifício brilharem no céu escuro dentro de mim.

Levantei o olhar com seu silêncio, encontrando uma expressão surpresa em seu rosto. Engoli em seco, me sentindo envergonhado e idiota.

Algo acertou meu peito quando seus braços cobriram meu corpo. Foi como a maresia quente que mamãe era, estivesse me abraçando novamente. Pisquei várias vezes, não controlando uma lágrima solitária que rolou por meu rosto. Retribui o abraço. E, como uma pedra que acerta um vidro frágil, a imagem de Melanie escapando por meus dedos, foi quebrada.

Sorri, com o peito trêmulo. E, com os olhos bem fechados, apreciei aquele abraço carinhoso, que me puxava para cima.

O "eu te amo" coçou em minha garganta novamente, mas, de novo, se prendeu em uma teia de inseguranças. Insegurança essa, que estava começando a sumir por culpa de seu calor.

Eu gostei disso.

...*...*...

Melanie

Esperei com calma, lembrando de tudo que havia estudado hoje. As memórias ainda estão frescas em minha mente, e farei um resumo quando chegar em casa. Funguei, meu nariz está terrivelmente entupido.

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