A volta do expresso polar

Parte 2 A caixa de engraxar

Era pouco mais de oito horas da manha quando Bernardo acabou de tomar o seu ralo e frio café da manhã, pegou sua velha e pesado caixa de engraxar sapatos e saiu em direção à estação de trem onde trocava seus serviços por alguns poucos trocados.

__ Bom dia menino Bernardo do não foi à aula hoje?__ cumprimentou dona Matilde, uma vizinha fofoqueira que morava a duas casas de Bernardo.

__ Não, não vou mais pra escola, estou indo pra estação mais cedo, preciso ganhar algum e de manhã se fatura bem mais __o menino fez sinal com os dedos insinuando dinheiro __ o gás lá de casa acabou e o dinheiro do mês também.

A estação de trem não era muito longe de sua casa e o menino podia fazer seu percurso andando assim poderia economizar alguns trocados e aproveitava pra poder olhar as vitrines das lojas por onde passava.

Como seria bom ter dinheiro pra poder comprar tudo isso pensou ao passar em frente a uma confeitaria, seus olhos até brilhavam ao ver tantos sonhos, bombas de chocolates e caramelos, via também crianças bem vestidas de diversas idades brincando por parques e praças em seu caminho e se imaginavas e ele mesmo não poderia algum dia fazer o mesmo e sempre reparava em seus pais ou simplesmente babas as puxando sempre que alguma fazia menção em chamá-lo para se juntar a elas.

__ Olha mamãe__ escutou ele uma vez, uma garotinha falando com sua mãe__ o que é aquilo com aquele menino?

__Aquilo filhinha e uma caixa de engraxate__ respondeu uma senhora bem vestida.

__Mas porque ele está carregando aquilo?

__ É porque ele vai trabalhar meu anjo.

__ Mas mamãe criança não pode trabalhar criança tem e que estudar.

__ Sim filhinha, pelo menos era pra ser assim, mas infelizmente as coisas não acontecem como deveriam, tem muitas crianças que não estudam e muitas ainda tem que trabalhar isso e muito triste, mas espero que um dia isso ainda vá acabar.

Por mais que tenta se não se abalar Bernardo sempre escutava isso e a cada dia se revoltava mais com toda aquela situação, passava por um bairro chique e via crianças brincando e se divertindo enquanto ele só trabalhava e via sua vida passar sem se quer conhecer o que era se divertir, trabalhar era a única coisa que conhecia e fazia.

__Oi! __ lhe cumprimentou outra garotinha de fitas no cabelo.

__ Oi __ respondeu ele meio sem graça.

__ Não é linda? __ perguntou a menina.

__ O que é linda? __ respondeu o menino

__ A arvore de natal __ a menina apontou para uma arvore de natal que enfeitava a vitrine de uma loja.

__ Eu não ligo, não tenho tempo pra isso __ respondeu Bernardo amarrando a cara.

__ Eu já adoro sabe __ a menina parecia não ter notado que Bernardo a encarava com cara de raiva __ afinal e natal e eu adoro o natal.

__ Pra mim não tem nada de mais __ Bernardo já estava quase indo embora quando ela continuou.

__ Como assim não tem nada de mais, estamos falando do natal, sabe o que isso quer dizer?

__ Não.

__ Quer dizer que tem peru, panetone, rabanada e o melhor de tudo tem o Papai Noel e um monte de presentes __ os olhos da pequena menina brilhavam enquanto ela falava.

__ Eu odeio o natal, nunca comi peru, não sei o que é rabanada e panetone e já sou grande demais pra acreditar em Papai Noel, na verdade eu nunca acreditei nele __ os pensamentos de Bernardo voltaram ao passado quando ele tinha não mais do que cinco anos e nunca por mais que se esforçasse e fosse um bom menino, nunca recebia os presentes que tanto desejava.

__ Você não acredita no Papai Noel, mas por quê?

__ Bom __ o menino parecia furioso __ pense bem, se ele existisse, eu jamais teria que carregar esse troço tão pesado __ e apontou par a caixa em sua costa __ e digo mais, se ele existir e mesmo, e mesmo assim me deixa-se assim, seria melhor ele nunca aparecer na minha frente e se você quer saber eu o odiaria com todas as minhas forças.

Bernardo não dera mais tempo pra que àquela menina continua-se e seguiu seu caminho ate a estação de trem onde com certeza faturaria alguns trocados e poderia enfim comprar o bujão de gás que acabara.