Capítulo 2 - A fazendeira

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Quando o primeiro galo cantou na manhã seguinte, nossa querida Paula já estava desperta. Maria, ainda sonolenta, se arrastava para fora da cama.

— Paula, se eu soubesse que você me tiraria da cama em plena madrugada, jamais teria te convidado para dormir aqui.

— Ah, vamos! Estou tão ansiosa, mal posso esperar! Eu quero conhecer tudo do "Caminho para o Céu". Aliás, que nome mais propício! Júlio me mostrou um pouco da casa ontem.

— Hum. — Maria ficou mais interessada na conversa da amiga e endireitou a coluna. — Júlio... — interrompeu o que Paula falava.

— O que tem ele? — Paula perguntou confusa.

— Nada. Só queria saber o que você achou dele.

— O que achei? Bom... — Paula ficou refletindo por um momento. — Arrogante. Sim, ele é arrogante à primeira vista.

Maria riu do comentário da amiga.

— Isso vai ser interessante!

— O quê? — Paula perguntou com a sobrancelha arqueada.

— Nada! Vamos tomar café e depois vamos em direção ao Caminho para o Céu — disse isso fazendo pose, como um navegador aponta para a terra à vista.

***

O dia amanheceu nublado, mas não o suficiente para impedir que o bom humor de Paula se dissipasse. Ela queria conhecer cada metro quadrado do sítio, gravar todos os cheiros e imaginar sua vida. Aliás, mais do que isso: ela queria viver. Ela tinha motivos de sobra para ser grata pela vida que levara em São Paulo: viagens, amigos, festas, compras e tudo o que qualquer garota no mundo amaria ter. Porém, para Paula, aquela vida era feita de solidão, de sorrisos falsos e gente interessada no dinheiro que ela tinha, ou melhor, que os pais tinham.

Ali, em sua nova casa ela teria a chance de mostrar que era uma pessoa muito além das roupas de grife que ostentava. Claro, sentiria falta de algumas mordomias, e talvez fosse difícil colocar a mão na massa, já que nunca desempenhou qualquer atividade, pois tudo lhe era entregue de bandeja. Você também sentiria falta, não é mesmo, caro leitor?

Bom, mas isso agora não importava, Paula seria responsável pela construção da sua nova vida. Os pais e amigos da antiga vida não teriam mais motivos para duvidar da capacidade dela.

— Paula, venha ver! — Maria a chamou, tirando a garota dos próprios devaneios.

Paula seguiu a voz da amiga e a encontrou debruçada sobre um arbusto próximo à figueira do balanço.

— Veja, é um ninho de beija-flor. Shhh! Faça silêncio a mãe pássaro está aí.

Paula se aproximou devagar e observou o ninho de comprimento inacreditável, parecendo uma meia enorme, iguais aquelas que costumava pendurar na janela na época de natal, só que essa tinha uma cor um tanto diferente. Espiou pela entrada no ninho e viu o pequeno pássaro no fundo, aquecendo os pequenos ovinhos.

— É tão lindo! — Suspirou.

— Eu sei. Amo beija-flor, é meu pássaro preferido. — Maria pegou a amiga pelo braço e ambas retornaram para a frente da casa.

— Amiga — Maria começou —, meus pais estão preocupados com você.

— Comigo? Por qual motivo?

— Com o fato de você ficar sozinha aqui nessa propriedade enorme. — Maria apontou com a mão, enfatizando.

— Escute — Paula tentou não perder a paciência —, não saí de São Paulo para vir até aqui e continuar ouvindo as pessoas duvidando de mim.

Memórias em papel timbrado (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora