Prólogo

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O tic-tac do relógio era a única coisa capaz de prender minha atenção naquele momento; em seguida, o barulho dos aparelhos hospitalares, a correria dos enfermeiros e médicos e o longínquo som de pessoas chorando e gritando.

- A F222 acordou! Chamem a doutora Pearl imediatamente! - um enfermeiro disse enquanto retirava os tubos antes presos à minha garganta.

Eu não conseguia falar, estava tão assustada como nunca estive antes, não me lembrava do ocorrido, o que me levara a estar naquele hospital e muito menos a quanto tempo eu estava lá. Todas as minhas experiências com filmes hollywoodianos contribuíram para que eu pensasse nas piores situações. Já imaginara naquele momento a minha médica contando-me que acabara de acordar de um coma após quinze anos; que sofri um acidente de carro em que toda a minha família faleceu e serei encaminhada a um internato; ou ainda, que após a morte dos meus entes queridos, um parente distante e milionário e abrigaria.

- Bom dia, Olívia! Bem vinda de volta, como está se sentido? - disse a médica que entrou no meu quarto, olhando-me diretamente com um sorriso no rosto pouco aparente.

Eu não me lembro de absolutamente nada, estou tremendamente confusa sobre toda essa situação mas não consigo transmitir isso em palavras, elas não saem da minha boca; como se eu não fosse capaz de falar.

- Querida, está tudo bem. O pior você já passou e agora vou chamar sua família para que todos saibam o resultado. - a Dr. Pearl disse saindo em seguida, deixando-me sozinha no quarto cinza em que me encontrava.

Observo o local em que estou, busco em minha memória algo que possa me transmitir alguma lembrança, qualquer uma; um esforço em vão, nada vem a minha mente. Os minutos passam e tornam-se horas, a doutora Pearl não retorna, nenhum enfermeiro vem checar o meu bem estar, ninguém da minha família está aqui. Em um súbito movimento, consigo retirar os equipamentos que me prendiam aquela cama e, ao sair do quarto vejo que não há nada pelo corredor, completamente vazio.

"Pode ser apenas uma coincidência, algo pode ter acontecido na emergência e todos os funcionários foram requisitados". Continuei andando pelo hospital e o silêncio acompanhava-me. Resolvo abrir as portas dos quartos a procura de alguém e tudo está vazio. Corro pelo hospital e não encontro ninguém mas, não desisto.

Tento gritar mas minha voz ainda não sai, continuo a abrir todas as portas e finalmente desisto. Encaminho-me até o posto dos enfermeiros no meu andar e, em cima do balcão vejo uma pasta com o meu nome.

"n o m e: Olivia Ashworth     / i d a d e: 22 anos    / p a s t a: F222

A paciente F222 deu entrada no Hospital de Breton às 14h37min do dia 12 de novembro de 2019, após sofrer um acidente doméstico. A paciente foi submetida a múltiplos procedimentos cirúrgicos devido a hemorragia interna causada por lesões de uma aparente agressão.

Foi declarado óbito às 03h22min do dia 13 de novembro de 2019; causa da morte: hemorragia interna e insuficiência respiratória grave "

Somente um pensamento passa pela minha mente: "Que tipo de brincadeira estúpida é essa?"

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⏰ Last updated: Jan 18, 2020 ⏰

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Olivia Ashworth está mortaWhere stories live. Discover now