broke;

294 50 6
                                    


“eu perdi o meu emprego no five guys.”

Não parece bom, apago.

“o Tony me demitiu semana passada.”

Ugh. Ainda pior. Apago.

“não vou almoçar hoje porque preciso procurar um emprego novo.”

Melhor?
Ah, mas ainda está ruim.
Apago.

“bom dia, renjun, quer almoçar hoje?”

Continuo encarando a tela do celular, o nome de contato cheio de corações e um emoji sorridente acompanhando o convite. Respiro fundo algumas vezes, tentando pensar em qualquer coisa para rejeitar o pedido sem dar a entender que eu estava desempregado. De novo.

“desculpa, nana, muito trabalho.”

“ah, certo, entendo. te vejo hoje a noite?”

Vai ser ruim ele me ver com barba por fazer e cheirando a pizza amanhecida – estou assim há alguns dias, porque meus motivos pra sair de casa depois de ser demitido caíram consideravelmente – mas estou morrendo de saudades e não tenho ideia do que fazer. Acho que vou sufocar até a morte em ansiedade.

“acho que sim.”

Jaemin deve estar me odiando nesse ponto, cansado das desculpas repentinas que ando inventando na última semana e do tempo exagerado que passo no meu sofá, porque não terminei de montar minha cama no quarto dos fundos.
Talvez se eu fosse sincero...?
Nah, ele provavelmente vai terminar comigo na mesma hora. Tenho absoluta certeza disso.
Ele deve estar só esperando alguma coisinha acontecer, qualquer coisa, pra ter um motivo válido pra me dar um pé na bunda, não é?
Acho que ele está certo.
Me diz, Jaemin, se eu não estivesse quebrado, você me daria mais um tempinho para consertar as coisas entre a gente?
Estou cansado.
Estou exausto.
Estou esgotado.
E isso me tira do sério.
Do que eu estou tão cansado assim?
De colocar pizza congelada no forno ou talvez de mudar os canais da televisão?
Eu estou cansado de mim? Ou de Jaemin? Ou de nós?
Com certeza não, como poderia cansar dele?
Se tudo o que eu preciso agora é continuar sendo amado por você.
Estou quase ligando o ps4 quando a campainha soa – parece um alarme de incêndio, desses perigosos – e um arrepio esquisito sobe minha espinha, me avisando para não abrir a porta do apartamento, mas eu ignoro do mesmo jeito.
Bem, eu posso ser muito burro às vezes.
Jaemin está parado do outro lado, os braços cruzados, o pezinho direito – é o meu pé favorito dele – batendo tão rápido no chão que não passa de um borrão para mim, e há aquela mesma decepção corriqueira nas suas sobrancelhas curvadas e olhar cínico.
Acho que é a expressão que menos gosto nele, mesmo sendo a mais comum.
- Por que não me falou que perdeu o emprego?
Puts. Donghyuck.
Minha estupidez cai com tanta força que sinto meus pulmões se esmagando contra o tórax e eu posso jurar que, nos trinta segundos de silêncio que se seguiram, eu não estava conseguindo respirar.
Deveria ter lembrado que o melhor amigo de Jaemin eventualmente falaria para ele sobre minha demissão, afinal estava lá quando o gerente me xingou de preguiçoso.
Merda.
- E isso aqui tá um puta chiqueiro – reclama, entrando no apartamento de uma vez e passando a recolher os copos de café e caixas de pizza espalhados pelo chão – Sabe, você não pode ficar o dia todo de cueca no sofá e esperar que as coisas simplesmente se resolvam, Junnie.
- Eu sei.
Preguiçoso.
Seu olhar está dizendo isso, bem na minha cara.
Não preciso perguntar pra ter certeza, eu apenas sei. Sei que ele está me julgando em silêncio enquanto lava a louça da semana passada na pia e coloca minhas roupas amontoadas na máquina de lavar. Sei que ele está se arrependendo do nosso namoro e pensando melhor sobre suas decisões na vida. Sei que Jaemin está desistindo de mim nesse momento, mesmo sem uma única palavra deixar sua boca.
Sei de tudo isso porque meu coração está doendo como o inferno e eu sinto o restinho de confiança deixando minhas mãos quando meus dedos começam a tremer.
Merda.
- Vem, me ajuda a limpar esse chão – chama, puxando meu braço até uma vassoura que eu nem sabia que tinha – Você vai conseguir um emprego melhor, eu sei disso.
- Provavelmente não.
Ele me encara, uma seriedade que eu não vejo muitas vezes no rostinho sorridente, e o mesmo arrepio esquisito está enrugando minha pele.
Não gosto muito de coisas esquisitas, porque não sei o que responder a elas.
- Eu sei que vai – insiste – Anda logo, ainda falta passar pano.
Por que ele está tão dedicado à limpeza da minha casa, no fim das contas?
Amanhã mesmo já vai estar tudo sujo de novo e eu não vou limpar tão cedo, então que diferença vai fazer?
Será que tudo isso é porque eu simplesmente não sou capaz de fazer nada sozinho?
Sim, provavelmente é isso. Jaemin acredita plenamente que eu sou meio inútil sem ele.
Ah, ele está errado mesmo?
- Oi, Renjun! – o beliscão na minha bochecha me acorda rápido demais, me fazendo olhá-lo confuso – Já acabou aí? Você precisa muito de um banho.
- Banho? – olho pras minhas roupas, a camiseta manchada de molho especial, a cueca apertada – Agora?
- Vem, Junnie, a gente pode tomar um juntos – pede, me puxando pelas mãos na direção do banheiro – E depois comemos naquela pizzaria que você sempre vai, no fim da minha rua.
Suas mãos são tão quentinhas e gentis, em um encaixe perfeito demais para ser real, e seus olhos tem um calor ainda mais intenso. Posso senti-lo envovlendo todo o meu corpo na sensação esquisita, me trazendo tão perto que eu acho que vou morrer sufocado.
Sim, muito provavelmente eu vou.
É porque o sorriso de Jaemin é bonito demais e seu rosto tem uma simetria impecável, é por isso que meu coração erra completamente o ritmo e eu tenho absoluta certeza que a falta de sangue nas minhas veias vai me matar ali, no chão do meu banheiro imundo.
Jaemin vai chorar se eu morrer?
Acho que sim, mas ele vai se sentir aliviado no fim.
Isso ia facilitar bem mais pra ele do que tentar terminar com um cara insuportavelmente teimoso igual eu. Ele já deve até ter tentado, eu que não me dei conta.
Espera, ele já tentou?
Quantas vezes Jaemin já tentou terminar comigo e eu nunca percebi isso? Meu Deus, o quanto eu estou forçando ele a um relacionamento que ele não aguenta mais?!
Provavelmente é isso, Jaemin já deve estar mais exausto de mim do que eu estou dessa sensação de sufocamento que nos precede.
- Vamos lá, eu estou com fome! – reclama, me puxando com mais força escada abaixo – E melhora essa cara, Injun, você não está no fundo do poço, a gente vai ficar bem.
Não vamos não.
Eu sei disso antes mesmo dele desviar o olhar pra rua, porque não quer que eu o pegue na mentira quando nossos olhos se encontrarem e eu ver o quanto ele odeia minha autopiedade.
Mas fazer o quê?
Eu já sei que cheguei lá no fundo mesmo sem ninguém precisar me lembrar disso. É ruim, mas eu não posso fazer muita coisa pra melhorar.
Posso só respirar fundo e apertar mais a mão do Na na minha, sentindo de levinho a curvatura dos seus dedos e as digitais marcando por cima das minhas.
Gosto da sensação de eternidade nesse dar de mãos, mesmo sabendo que não tem como ele ser eterno.
Quero decorar cada pequeno detalhe pra quando acabar – eu sei que vai acabar, mesmo sem ter ideia de quando – não esquecer tão fácil assim de como amava Na Jaemin mais do que tudo no mundo.
- Você está muito quietinho hoje, é por causa do Five Guys?
- Acho que não, só estou com sono – e um pouco em pânico, esperando que você diga que precisamos conversar a qualquer momento.
- Acho que posso falar com Jeno sobre você – tem ketchup no cantinho da sua boca e você fica adorável quando começa a tarelar sem prestar atenção – Eles sempre precisam de pessoal novo na agência, sabe? Sei lá, eles são meio rígidos, mas eu sei que você dá conta, né? Você sempre dá conta de tudo, Renjun, é tão incrível. Quando você tenta, eu acho, às vezes você fica meio pra baixo e aí eu não posso fazer nada, acho que é normal. Jeno diz que pessoas que estão juntas há muito tempo podem ler o humor dos namorados e se sentem responsáveis, eu sou responsável pelo seu humor, Renjun? Ou Jeno é estúpido, ele é bem estúpido às vezes, também.
Merda.
Não.
Não.
Você está dizendo justamente o contrário.
Você está falando sobre o que Jeno acha do nosso namoro – Jeno me culpa por você parecer triste? Acho que sim. Eu me culpo, também – mas a sensação crescente no meu peito se torna incômoda a cada sorriso que você solta depois do nome dele.
Não é um ciúme saudável, eu sei disso.
É aquele tipo de ciúmes que surge junto com inseguranças e me faz dizer coisas que não quero. Eu não gosto de nenhuma dessas opções.
Não gosto de como meu rosto fica inexpressivo nesses momentos e de como seus olhos brilham tanto que eu não consigo parar de olhar e como eu quero tanto tocar no seu rosto vermelhinho de frio e te puxar pra perto, tão perto que nem Jeno e nem ninguém vai conseguir tirar você dos meus braços.
Mas aí você sentiria meu coração – ele está bem acelerado agora, quase me matando de medo – e eu não acho que isso funcionaria pra nós, né?
- Renjun, você está me ouvindo?
- Tô.
- Então por que você não diz nada? – suas bochechas estão infladas como uma criança birrenta, eu acho adorável demais – Você nunca diz nada.
- Sinto muito.
O suspiro que deixa seus lábios me destrói, provavelmente mais do que se você dissesse agorinha mesmo que precisamos conversar.
Eu sei o que ele significa, porque já o ouvi algumas milhares de vezes agora.
É aquele suspiro que me diz que sou incapaz de mudar, que sou um pouquinho irritante, e que tenho lapsos de atenção quando se trata de nós dois.
Aquele suspiro que pede um pouquinho mais de cuidado, que eu sorria mais vezes e diga o que se passa na minha cabeça quando passo tempo demais em silêncio nos nossos encontros.
Normalmente depois do seu suspiro eu acabo suspirando também, dizendo pra mim mesmo que vou parar de inventar desculpas e começar a ser um namorado mais legal e te falar tudinho que passa pela minha mente – sobre como seus dentes são tão bonitos ou sobre como eu gosto demais quando seu cabelo fica bagunçado depois do banho ou sobre como seu cheirinho de hortelã é a coisa mais gostosa que eu já senti – mas então a ideia de colocar em palavras o que não passa de uns sentimentos supervalorizados me deixa bem inseguro e eu desisto no meio do caminho.
Ultimamente eu começo a achar que ando supervalorizando coisas demais. E ando desistindo delas também.
O almoço termina em um silêncio muito pesado e eu quero falar alguma coisa. Qualquer coisa.
Talvez eu pudesse dormir um pouco menos, né?
Sim, isso seria bom. Dedicar mais tempo a você, fazer mais tempo pra você.
Eu participaria mais das atividades do seu clube de dança, eu também poderia ir com você ao teatro – tem alguma peça chegando, você me avisou disso, a gente pode ir juntos – e conzinharíamos juntos depois e dormiríamos abraçadinhos.
Eu poderia te dar tudinho o que você precisa – vou me preparar muito melhor pra te amar de agora em diante – e estaria lá em todos os seus momentos, mesmo aqueles em que você dissesse que eu não preciso estar.
Talvez... Talvez...
Talvez eu não seja tão incapaz de mudanças assim, entende?
Talvez se você só me der mais um tempinho – por favor, não diga que precisamos conversar - eu consigo te mostrar que tudo o que eu preciso nesse momento é ser amado por você.
Quero dizer tudo isso a Jaemin, colocar mil sentimentos em mil palavras, quando abro a boca pronto para tentar algumas coisas que eu nunca tento, quando a voz chorosa chega rápido demais para que eu posso evitar.
- Sinto muito!
Acho que você não queria gritar, porque toma um susto com o próprio tom.
É adorável demais e eu quero te abraçar, mas não faço isso porque você provavelmente não gostaria. Seus ombros estão encolhidos e sua cabeça abaixada, a ideia de invadir seu espaço parece muito ruim agora.
- Eu... Não deveria ter dito aquilo, eu sei que você é quietinho e que não expressa muito bem seus sentimentos e que sempre pensa mais do que consegue dizer – o peso daquelas palavras dobram quando chegam no meu coração, fazendo o pouquinho de ar que eu tinha nos meus pulmões sumir completamente – Eu sei de tudo isso e eu sei que é difícil pra você, Renjun, por isso eu te amo, poxa! – mas, de repente, minha morte para um pouquinho para que eu possa continuar ouvindo o que ele tem a dizer – Eu amo como você tá sempre tentando melhorar, mesmo nem se dando conta disso, e que pequenas coisas como guardar uma flor na rua que te fez lembrar de mim ou saber meus pratos favoritos de cor significam tanto pra você. Seu amor é todo cheio de detalhezinhos, porque eu sei que você não consegue colocar ele em um monte de palavras igual eu faço e me torno irritante demais quando cobro de você coisas que é simplesmente impossível que voc-...
A boquinha de Jaemin ainda tem gosto de ketchup e suco de maracujá.
Mas tem gosto de Jaemin no finzinho.
Ele tem bochechas macias, dentes pequenininhos e sorrisos involuntários entre beijinhos cortados.
Seus dedos vão parar no meu pescoço quando os meus seguram seu rosto, apertando as bochechas até que a boca bonita forme um biqinho de peixe onde eu deixo um selinho depois do outro.
É assustador como eu posso ler seu humor, mesmo aquela parte que você não conseguiu colocar em palvras porque roubei seu fôlego, e ele está escrito exatamente igual o meu.
Naquele momento, espero que Jeno esteja certo sobre namorados de longa data saberem ler uma coisinha ou outra que pessoas de fora não conseguem ler, porque tudo o que eu mais quero é que você consiga ouvir o quanto eu te amo mesmo sem essas palavras deixarem a minha boca.
- Eu vou parar de procrastinar e vou encontrar um emprego decente – digo, ainda apertando suas bochechas e encostando minha testa na sua – E vou fazer seu jantar todos os dias e comprar todas as flores do mundo pra você.
- E vai parar de ficar andando de cueca no inverno.
- Vou.
- Nada de continuar dormindo no sofá, você precisa montar sua cama.
- Prometo.
- E vai aprender a limpar a casa direito.
- Nana...
Seu sorriso aperta meu coração de uma forma muito absurda, como se fosse sua própria mão perfurando meu peito.
As lágrimas nos cantinhos dos olhos sumiram também e deram lugar aquele brilhinho que amortece meus nervos. Eu gosto muito mais dele, afinal.
- Tudo bem, eu posso te ajudar a limpar a casa.
Gosto do cheiro do cabelo dele quando nosso abraço se torna mais apertado. Gosto de como faz cosquinhas no meu nariz e de como colore tudinho ao meu redor de rosa. Gosto de como me deixa satisfeito sobre pequenas coisas.
- Por favor, não desiste de mim mesmo eu sendo tão quebrado – peço baixinho, o rosto enterrado contra seu pescoço – Eu juro que eu te amo mais do que tudo.
- Como eu poderia desistir de você, Renjun? – sua voz tem um tom mais sério do que eu já ouvi em todos os nossos três anos de namoro.
Eu gosto dela, porque, mesmo que seja séria assim, ela não está dizendo que precisamos conversar.
E isso já é muito mais do que eu esperaria receber depois de tudo o que sou.
Ele se afasta de mim mais um pouco, voltando a encarar meus olhos com aquela intensidade que arranca meu fôlego e me faz achar que vou morrer de verdade e coloca perguntas demais na minha cabeça e palavras de menos na minha boca.
Aquele Jaemin que me faz esquecer como falar, respirar ou pensar direito.
Esse é o meu Jaemin favorito.
- Não tem problema você ser quieto demais e péssimo em falar sobre o que passa na sua cabeça – sussurra, beijando a pontinha do meu nariz – Porque tudo o que eu preciso é ser amado por você, Huang Renjun.


aNxIeTy; rEnMiNWhere stories live. Discover now