MATERNIDADE

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Os reinos de Kategard e Soryon já guerreavam por mais de oito gerações, contudo, aquele conflito parecia estar longe de acabar. Nobres e fabricantes de armas lucravam cada vez mais com a prolongação da guerra, as grandes cidades também saiam ganhando com isso, afinal, não eram alvo dos ataques e tampouco eram parte do campo de batalha.

É natural que sempre tenha um lado que ganhe e um lado que perde, as coisas são assim, a vida é assim, entretanto, Kategard e Soryon estavam ganhando, cada uma de sua forma. Seja lá os fatores que influenciaram pra isso, ambos os países cresciam e se desenvolviam mais e mais com o passar desse longo combate, com exceção de um grupo de pessoas esquecidos por todos, mesmo sendo maiores em quantidade do que toda a nobreza e exército.

Camponeses. São eles os responsáveis por cuidar das fazendas, plantações, minerações e diversos outros trabalhos braçais, em troca de tentar sobreviver mais um dia com o pouco recurso que tem. Muitos se tornam saqueadores, outros tentam ingressar no exército para ter uma vida mais sustentável, outros abandonam a própria vida, e alguns encontram outras formas de ganhar o seu dinheiro.

Dentro desse contexto, a prostituição acaba se tornando uma das coisas mais comuns, por mais que ainda seja malvista entre os camponeses. Muitos soldados de ambos os reinos visitam os vilarejos em seu território em busca de uma noite de descanso e prazeres, nesse processo, alguns acabam se casando com algumas das prostitutas, seja por amor ou pelo desejo de assumir o filho que foi semeado, mas nem tudo é tão positivo.
Alice passou por um processo difícil de gravidez, foi expulsa de casa quando seus pais descobriram e já não mais conseguia exercer sua profissão, tendo de morar de favor na casa de algumas amigas. Quando finalmente o parto foi realizado, ela já não tinha mais onde viver e como trabalhar, seu corpo estava sem forças e a opção mais válida que ela tinha era tentar encontrar o pai, um soldado de Kategard chamado Richard.

Caminhou com a criança em seus braços durante longas semanas, tentando organizar ao máximo os mantimentos para que a comida não acabasse até o fim da viagem, mas para a infelicidade da moça, seus planos não seguiram da melhor forma. A comida estava prestes a acabar e ela já havia passado dias sem dormir, tentando cuidar e proteger do bebê.

Sabendo que faltava cerca de uma semana para chegar até a capital de Kategard, parou para descansar em uma árvore solitária no meio da estrada, tentando por mais uma vez colocar a criança para dormir. Suas tentativas mais uma vez pareciam ser falhas, a criança chorava mais e mais alto. Era quase como se aqueles sons percorressem os ouvidos dela de dentro pra fora e corroessem tudo no processo, Alice já estava no limite.

— CALA A BOCA, PELO AMOR DE DEUS, CALA A BOCA! — Gritou em fúria, enquanto olhava para o bebê que parecia ter se assustado, mas não poupava tempo e já voltava a chorar. Por consequência, lágrimas também escorriam dos olhos da garota, que agora já nem mais sabia o que fazer naquela situação.

— Eu... Eu só queria que você fosse embora... Por favor... Mesmo que por um dia... Desaparece da minha vida... Eu perdi tudo por sua causa, eu abri mão de todos os meus sonhos por sua causa... Pelo amor de deus, some da minha vida... — Alice disparava aquelas palavras com extrema tristeza e arrependimento presente na voz. Era evidente que desde que se tornou mãe, passou a enxergar a vida de outra forma, por conta disso, ela sabia que naquela noite tinha de tomar alguma decisão.

Se passado mais algum tempo de caminhada, já era possível avistar, ao longe, a torre da capital de Kategard, Alice estava ciente de que já não havia mais comida consigo, mas, se caminhasse mais rápido conseguiria chegar lá antes do sol nascer, e foi isso que ela fez. Caminhava com um semblante cansado, repousando a mão direita em cima da barriga na tentativa de aplacar a fome que sentia.

OblivionWhere stories live. Discover now