Capítulo 1

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Quase quatro anos depois...

Jo

Atravessamos o pequeno jardim descuidado, a mãozinha do Danny na minha e me peguei pensando por que ninguém nunca se deu ao trabalho de plantar umas flores por ali. Está bom, falando assim até parecia que eu já havia plantado alguma coisa em qualquer lugar. Eu vivia com pressa, nunca me demorava, e talvez fosse por isso que nunca tivesse cultivado um jardim: porque nunca ficava em lugar algum por tempo suficiente. Queria acreditar com todas as minhas forças, pelo bem de Danny e pelo meu, que agora seria diferente, mas não tinha muita esperança. Ainda assim, fazia parte da vida manter um certo nível de fé, e parte da maternidade manter altas doses de otimismo.

Com a mão livre, abri e revirei o conteúdo da pequena bolsa azul que trazia trespassada no corpo. Não quis uma bolsa grande, parte do meu grande plano para desapegar, e só consegui que milhares de objetos ficassem espremidos em um espaço minúsculo. Relutantemente, soltei a mão do Danny.

-Não saia daqui, Danny. Mamãe tem de pegar as chaves.

Continuei cavando o interior enquanto não tirava os olhos do Danny, pois uma piscadela era o bastante para que crianças sumissem de vista. Finalmente, toquei em algo metálico e sorri para ele, animada:

-Achei! Vamos entrar?

-Vamos! – Ele deu um pulinho, alegre.

Abri a porta falando "tarã!" e, assim que demos um passo dentro da sala, Danny disse um maravilhado "Uau".

Não era uma maravilha, muito menos um "uau". Era uma sala pequena, relativamente bem iluminada, com um balcão separando-a da cozinha onde eu podia ver um fogão e uma geladeira antigos e nem um pouco bonitos.

-Dá licença, dona – Um dos funcionários da empresa de mudança quase me nocauteou e eu puxei o Danny para o lado bem a tempo de evitar sermos atingidos por uma cadeira.

-E o meu quarto? – Danny perguntou, ainda pulando de excitação e sem se importar a mínima com o acidente que quase sofremos.

-Ah, vamos ver! É um quarto de um príncipe! – Eu lancei um olhar mal-humorado para o funcionário e levei o Danny até uma das portas fechadas. Eu a abri com espetáculo e ele correu para dentro, olhando ao redor com muito menos animação.

-É vazio.

-É vazio agora. Quando colocarmos os móveis, você não vai ter espaço nem para andar – Estava sendo sincera. A casa toda era de dimensões bem menores que a que morávamos em Fallon, e mesmo os nossos poucos móveis dariam uma aparência completamente abarrotada a ela. Mas era o que eu podia pagar e o que eu havia conseguido alugar em tão pouco tempo. Mais uma vez, estávamos com sorte.

Los Angeles foi escolhida da seguinte forma: Eu fechei os olhos, coloquei um dedo sobre o mapa e depois olhei para ver para onde estava apontando. Cinco minutos depois, pesquisava casas e apartamentos no computador do meu antigo trabalho enquanto, pelo celular, entrava em contato com a agência de empregos. Semana passada, vim para fazer entrevistas de empregos dos mais variados tipos, e acabei sendo contratada como recepcionista de uma produtora, um cargo que dependia muito mais de boa aparência que de algum talento. Àquela altura, meu único terninho já estava bastante sujo e havia sido passado um milhão de vezes nos intervalos entre as entrevistas, mas eu estava bem maquiada, havia prendido os cabelos em uma linda trança francesa conforme um tutorial da internet, meus sapatos eram novos e eu aparentava um pouco mais que os meus vinte anos. O emprego era meu, ainda que o salário não fosse lá grandes coisas. Aliás, era bem pequenas coisas. Ainda assim, e mesmo tendo sido totalmente ao acaso, vir para cá havia sido a melhor decisão.

Transformando Você [AMOSTRA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora