Antes que eu pudesse pensar em qualquer resposta, meu celular toca.

—É o Cody. -Suspiro. —Acho que essa é a hora que a gente volta para a realidade fora dos banheiros.

Ela franze as sobrancelhas como se não tivesse entendido e segundos depois faz uma careta um tanto engraçada.

—Eu particularmente gosto muito de banheiros. -A ruivinha diz seria.

—Essa eu não espera. -Rio enquanto me levanto.

—Claro que não, me sai bem? -Ela joga o cabelo pra trás em forma de deboche.

—Falta muita para me superar. - retruco, dando as costas a ela, indo até a porta.

—Um dia eu chego lá.

Meu celular toca de novo.

Claro que sim, a gente se encontra em algum banheiro por aí. -Me despeço e saio antes que ela responda algo.

Atendo o celular antes que o Cody surte.

—Cadê você? Meus planos não deram certo. -Ele diz antes de bufar, fazendo o microfone estourar no meu ouvido. —Mas pelo menos dei uns beijos.

—Lamento por não ter dado outra coisa. -zombo me afastando ainda mais do banheiro, mas o suficiente para perceber que ela ainda não saiu.

—Eu não...esquece, me encontra na escada. -Ele diz assim que eu chego nelas. —Olha você ali.

Cody exclama ao me ver e completa:

—Eu preciso ir pra casa porque acho que exagerei na sopa que minha mãe fez essa noite.

—Aaaah então por isso você não...-Ele me corta antes de eu continuar:

Cala a boca.

—Levanta logo

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—Levanta logo. -Puxo a coberta do meu irmão pela milésima vez.

—O que deu em você hoje? -Ed praticamente pula da cama com seu mau humor de sempre.

—Você tem 10 minutos pra ficar pronto. -Falo me jogando na cama dele, ignorando o olhar que Ed me lançava. Seguro o rosto dele por alguns segundos, vendo ainda uma pequena marca roxa. Os garotos que fizeram isso com ele foram suspensos, isso me deixa 2% mais aliviado.

—Pra que? -Ele pergunta tirando o rosto da minha mão.

—Para ir ao boliche. -Respondo sem o olhar, sentindo o peso de ter madrugado enquanto me aconchego no meio das cobertas do meu irmão.

—SÉRIO? -Ed berra ao meu lado. Balanço a cabeça, confirmando, mas ele já tinha ido correndo em direção ao banheiro.

Abro os olhos e analiso o quarto do meu irmão. Roupas jogadas por todo lado, rabiscos nas paredes que eram supreendentemente bonitos, eu nem sabia que ele tinha feito isso. Minha atenção vai para a foto em cima do cômoda.

Era eu e a mamãe, que estava nitidamente grávida dele. Essa foi uma das únicas fotografia que eu consegui salvar depois dos surtos do meu pai.

Por um lado eu o entendo, mas por outro, eu o abomino. Eu sei como foi a dor que eu senti quando a perdi, mas tive que me obrigar a agir da melhor forma possível. Meu pai até tentou por algumas semanas, ele tinha um recém nascido para cuidar.

Mas tudo que ele sabia fazer era culpar meu irmão pela morte dela e acho que o fato do meu irmão ser uma cópia dela não ajudou muito.

Então meu pai começou a viver como se meu irmão não existisse, Ed não tinha nem um ano.

E eu com meus 14 anos de idade, tive que simplesmente aprender a criar uma bebê, o que obviamente não deu certo no começo.

Eu mal sabia colocar uma fralda, ainda me lembro de quando eu colocava e do mesmo jeito, ele conseguia cagar tudo para fora.

A mãe do Noah me ajudou pra caralho foi graças a ela que eu terminei o colégio.

Definitivamente eu tenho muitas pessoas para agradecer.

—Vamos logo. -Ed aparece enfiando uma camisa pela cabeça.

—Quando eu falei 10 minutos, não foi literal. -Resmungo me levantando.

—Porque você me acordou pra ir ao boliche? -Ed pergunta e eu dou de ombros.

—Porque eu quis.

—Ah...-Ele me olha por alguns segundos. —Estranho.

Completa antes de ir em direção a porta, fico parado observando ele sair.

Na verdade passei a madrugada toda pensando no que a ruivinha disse, de fato eu não sou o melhor irmão do mundo.

Mas fiz tudo o que pude pra ele continuar comigo, porque tiveram várias tentativas de tirá-lo de mim, porque segundos os assistentes sociais, eu era "incapaz de criar e sustentar uma criança", mesmo eu já sendo de maior.

Ele é tudo que eu tenho da minha mãe, ele é o que sobrou da minha família. Ele é o único motivo de eu continuar aqui, de eu continuar tentando.

 Ele é o único motivo de eu continuar aqui, de eu continuar tentando

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Tudo de mimWhere stories live. Discover now