Trinta e Dois: Correção

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— Bem, eu duvido que seu pai pense assim — afirmou dona Socorro com convicção, fazendo-me rir para disfarçar a vergonha de ouvir seus conselhos indo contra os meus. — Sugiro que fale com ele, talvez cheguem a um denominador comum.
 
— Tudo bem, farei isso. Mas não antes de pensar e orar um pouco — declarei e foi engraçado ver a surpresa estampado no rosto da minha senhorinha favorita.Talvez não estivesse acostumada com minha boa disposição para aceitar conselhos. — Já fiquei tempo demais parada. Quero encontrar uma fonte de lucro. De preferência algo que não me roube todo o tempo com minha filha.

— Te ajudaremos a pensar em algo — dispôs-se, Fabiana. — Certamente deve gostar de algo, já que, obviamente, crochê não é sua praia.

Fabi estava correta. Eu não suportava atividades que exigissem muita destreza manual, pois eu era péssima nelas.

— Vou explorar meus talentos, talvez eu encontre algum para lucrar. — Pisquei determinada e dei risada ao perceber quão gananciosa eu pareci. — Dará certo, vocês verão.

As meninas riram e dona Socorro me apressou mais uma vez para me juntar a elas no café. Eu já estava prestes a sentar quando ouvi um barulho de motor de carro chamar minha atenção.

"Deve ser Victor" cconcluí tentando observar de longe o movimento através de uma das janelas no Salão e confirmei as suspeitas quando uma mensagem dele chegou em meu celular.

Até pensei em ir averiguar, mas dona Sô já havia começado a oração, agradecendo pelo alimento, por isso preferi esperar um pouquinho e participar do café antes de sair.

Durante a refeição mantive-me um pouco quieta, e, pensativa, me concentrei em oferecer frutas para a bebê enquanto ouvia as moças relatando como o bazar foi produtivo e como estavam ansiosas para repetir a experiência. Eu, por outro lado, só conseguia me lembrar de como fugi e as implicações disso, certamente não gostaria de viver tudo aquilo novamente.

— Bem, se não se importam, estou indo encontrar o Vic ali fora — informei após me alimentar, já me levantando e seguindo em direção a entrada do lugar. — Depois, se precisarem de mim, estarei no ateliê ajudando Mabel a engatinhar.

— Ok, querida. — Sorriu dona Sô e estava prestes a colocar uma torrada na boca, mas desistiu ao se lembrar de algo. — Se vir Luana por aí, diga a ela que desejo vê-la.

Afirmei com a cabeça e tracei o caminho com minha filha até o lado externo do casarão.

Durante o caminho pensei em Lu. Nós duas não estávamos em bons lençóis e eu buscava o melhor momento para concretizar meu plano de conversar seriamente com ela. Eu queria entender sua situação, dar suporte, se necessário, e não ser uma inimiga, como ela vinha me tratando.

Cheguei à varanda e observei o dia nublado, meio acizentado, prenunciando chuva. Fechei meus olhos por alguns instantes, inspirei todo aquele ar puro e agradeci ao Senhor pela sua bondade em criar todas as coisas de modo tão perfeito. Fui despertada no momento seguinte por Mabel tentando abocanhar minha bochecha.

— Espere um pouquinho e nós já vamos, sua apressadinha! — declarei sorrindo.

Enquanto ainda ria das gracinhas de Mabel, ouvi alguns burburinhos e percebi não muito distante de onde eu estava, Victor apoiado no capô de seu carro, observando alguns papéis em suas mãos, enquanto Luana, de frente para ele, segurava o pequeno Arthur com força e se derramava em um pranto copioso. Vic até tentou consolá-la tocando em seu ombro, mas ela foi rápida em se afastar.

"O que está acontecendo?" questionei mentalmente, sentindo um aperto no coração ao ver a condição desesperada de minha amiga.

Achei prudente esperar um pouco antes de me aproximar e só o fiz depois que vi Luana saindo apressada, voltando pra casa. Ela passou tão aflita que nem me viu ali.

Ensina-me amarWhere stories live. Discover now