Quando decidimos entrar juntas na aula de balé na sexta série, Julie foi três vezes e depois disse que aquilo não a interessava e apenas eu fiquei, todavia acabei descobrindo que fazer balé é a minha vida. É uma das coisas que eu amo de alma e corpo e estar dançando em um palco ou em uma sala rodeada de espelhos é o que me faz feliz.

É a minha válvula de escape.

Minha mãe não teve muita convicção quando disse que iria fazer as aulas, mas quando disse que usar as sapatilhas me levava para outro mundo, os olhos de Meredith brilharam intensamente e então eu soube que estava fazendo o correto. E foi desse mesmo jeito, este mesmo olhar quando ela me viu em cima do palco na minha primeira apresentação.

Foi surreal, como se a magia que as pessoas dizem que tem na Disney estivesse toda concentrada no palco, me fazendo pensar que por um instante, eu estava rodopiando sobre o mundo e que todos estavam ali para ver especialmente a mim. Como uma estrela. E foi ali naquele mesmo dia e hora, que selei o meu destino.

— Bailarina de cristal, está me ouvindo? — Uma voz e após um assobio me faz despertar do meu transe, aperto os olhos e viro em direção a figura parada de Adam John. Um sorriso maroto brinca em seus lábios quando retribuo seu olhar — Sonhando acordada?

Agora é minha vez de sorrir.

— Sonhei que Chris Evans aparecia agora aqui e se declarava para mim — Brinco.

O sorriso de seus lábios murcham e seus ombros se encolhem, cabisbaixo.

Adam não gosta que eu fale do Chris Evans em sua frente pelo simples fato do cara ter sido minha paixonite de infância. Eu falava tanto dele, que as pessoas a minha volta já estavam cansadas do mesmo falatório sobre ficar dizendo que iria casar com Chris e ter lindos filhos louros. Adam John foi uma dessas pessoas, ele simplesmente me ignorava quando abria a boca para falar do fascinante e gostosão Evans.

— Qual é, Adam? Sabe que estou brincando. — Contorno a bancada me pondo em frente ao seu corpo grande e coberto de músculos bem definidos e distribuídos igualmente. Solto um suspiro e jogo minha mão sobre seu ombro — Você vai mesmo ficar assim por causa de uma brincadeira?

Adam John não responde.

— Adam, não vai me responder? — Espero, mais uma vez nada. Apenas o som de sua respiração é minha única resposta — Não me ama mais? É isso?

Sua cabeça se ergue e seus olhos procuram pelos meus.

— Sabe que nem em um milhão de anos isso poderá acontecer.

Comprimo os lábios e deixo minha mão cair de seu ombro, viro meu rosto para a porta e solto um suspiro.

— Você é tão bobinho Adam e, é bom e ruim ao mesmo tempo. — Volto a olhar-lo — Seu garotinho perfeito e chato — Aperto suas bochechas rosadas, Adam segura minhas mãos e tira de sua face, as segurando entre os dedos.

— Você é minha mãe, por acaso? — Pergunta erguendo a sobrancelha.

— Eu não precisaria agir como a sua mãe se você soubesse dizer um simples não. — Indago e dou uma revirada de olhos, desvencilhando de suas mãos e voltando para trás do balcão.

Uma coisa sobre o A. J que sempre me irritou: ele não saber dizer não. Literalmente ele não consegue dizer essa palavra para qualquer pessoa que peça algo a ele, até mesmo as coisas mais inusitadas e sem noção. Adam faz sem questionar, apenas dizendo que está ajudando a pessoa e que é um ato de bondade, mas para mim tá mais para idiotice do que uma ação humanitária.

É o que temo também.

Quantos mais pessoas sabem sobre esse defeito de Adam, mais se aproveitarão dele e ver alguém fazer algum tipo de brincadeira com ele ou com Julie, me tira realmente do sério. Como Aquiles e seu calcanhar, Adam e Julie são o meu digamos assim, ponto fraco.

20 Segundos para o clichêWhere stories live. Discover now