Desde que Mauro, meu marido faleceu, minha vida virou de cabeça para baixo e tudo o que me restou foram dívidas gigantescas e, claro, Leo, o nosso único filho.

A família dele nunca fez questão de nos ajudar, nem mesmo sabendo o quanto Mauro havia se esforçado para o bem da nossa família. Mas, se tem algo que tudo isso me ensinou, foi que quando a vida nos dá uma rasteira, podemos ficar no chão ou fazemos um passo de dança elaborado como se a queda fosse proposital.

Juntos, Mauro e eu decidimos que eu ficaria em casa para cuidar do Leo. Eu havia deixado a faculdade para isso: para cuidar da nossa família. Ele nunca pediu, mas quando falei sobre essa possibilidade, ele também não discordou. Uma vez li em algum lugar que "[...] sua carreira jamais acordará de manhã e dirá que não te ama mais.", Mauro e eu não chegamos a esse ponto, mas a morte tomou essa decisão por nós dois.

Por mais que meu relacionamento com a família Peres não fosse dos melhores, quando tudo aconteceu, achei que em meio a dor e o caos, nos apoiaríamos. Mauro amava nossa família. Jamais nos deixaria se tivesse a opção. Infelizmente sua partida precoce e repentina não lhe deu chance.

Resignada, engoli meu orgulho e pedi ajuda a amigos que Mauro e eu mantivemos durante nossa história. Não lhes pedi dinheiro, pedi emprego e, depois de se dispuserem a saldar as dívidas com as quais fiquei, em troca do meu trabalho como governanta em sua casa, fizeram questão de rir na minha cara.

Em pouco tempo perdi minha casa, minha vida e mudei-me para um bairro mais modesto, descobri que as portas do mercado de trabalho estavam fechadas para uma mãe solo, principalmente para mãe de uma criança tão pequena quanto Leo e acabei aceitando tornar-me faxineira pela flexibilidade. Acima de tudo, mantive minha dignidade intacta. Isso e meu filho, ninguém pode tirar de mim. Por mais que tenham tentado.

— Não quero que me interprete mal, Helena. — Victoria avisa. — O trabalho é pouco quando se leva em consideração tudo o que lhe está sendo oferecido. São poucas horas por dia, você não vai ter gastos de moradia ou alimentação. E, acredito que se você está aqui é porque precisa ou estaríamos apenas desperdiçando tempo. Eu gostei de você e gostaria que começasse o quanto antes, mas eu tenho uma pergunta — fala calmamente e de forma gentil. — Você tem filhos? Você compreende que, como deve morar na casa, não seria viável uma criança.

— Eu... eu... — gaguejo.

— Sei que pode parecer assustador tamanha responsabilidade, principalmente quando você precisa se mudar para cá, mas...

— Eu... Eu realmente tenho de me mudar?

Conseguir mentir sobre ter o Leo não é o problema. No melhor dos casos, com o salário, sou capaz de pagar a filha da vizinha, para cuidar dele durante o dia, assim como fiz hoje tão logo saí do escritório da Carina. Mas ficar sem o meu filho não há a mínima chance.

— Sim, para este trabalho você precisará dormir na casa durante a semana pelo menos. Não explicaram na agência? — questiona pacientemente.

Essa mulher só pode fumar camomila para ser tão calma e serena.

— É claro, a agência — falo nervosa.

Por que Carina não me disse isso?

— Como já expliquei, você cuidará apenas da limpeza diária do andar inferior que, como pode notar, é extenso.

— Mas... Bem, eu... Eu realmente gosto da minha casa. — minto.

— Você compreende que o salário é muito bom, certo? Desculpe falar, mas não encontrará valor melhor. Além de que há todos os benefícios de acordo com a lei e ainda mais.

— Eu gosto de tudo o que está sendo oferecido, mas, sendo sincera com a senhora, eu sou mãe — admito nervosa. — Além disso, sou viúva.

— Mas... Como isso aconteceu? — Parece falar consigo mesma enquanto olha fixamente para a tela de um tablet de última geração. — Tenho certeza de que avisei a agência, que... — Ela continua calma, mas claramente frustrada. — Isso é um erro. Sinto muito termos perdido tempo, Helena. Gostei muito de você, mas Hugo não... Bom, não posso contratá-la.

— Por favor, leve em consideração o fato de que estou sendo sincera. — será que se eu me ajoelhar ela me contrata?

— Se dependesse apenas de mim, hoje mesmo você estaria de mudança para cá. Você é inteligente, engraçada e não parece ter medo de trabalho, mas não depende só de mim. Hugo é um homem difícil... Olha, sou praticamente a única pessoa que ele trata como um ser humano.

— Ele não precisa saber sobre o Leo. Espera, retiro o que eu disse. — Me retrato rapidamente. Não posso começar com uma mentira. Ou será que posso? — Quer saber? Não retiro não. Ele não precisa saber. Eu realmente preciso desse emprego.

— Você precisaria se mudar para cá, Helena. Como faria com seu filho? Você mesma me disse ser viúva. — por mais que eu sinta que ela realmente esteja disposta a ajudar, sei que não está totalmente errada. — Sinto muito, mas não é possível.

— Podemos colocar um macacão nele e fingir que ele é o novo jardineiro. Seria falta de educação o patrão questionar por que o funcionário é tão pequeno — falo rapidamente e ela solta uma risada. — Seria... seria... é... Discriminação com anões. Ai meu Deus. O que eu estou dizendo? Me desculpe. Por tudo. Eu realmente preciso desse emprego, mas eu entendo... Muito obrigada. — Levanto-me derrotada sem conseguir respirar direito.

—Helena, sinto muito. — Diz com um suspiro. — Eu gostei de você. De verdade. — meneio com a cabeça. — Espera... Seu filho estuda?

— É o melhor da turma. — comento orgulhosa, apesar do momento ruim. — Ele estuda durante a tarde no nosso bairro.

— E se ele estudasse em período integral?

Meu Viúvo - (COMPLETO)Where stories live. Discover now