Capítulo 3

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Fui muito bem-recebido pelos meus pais naquele sábado. Parecia que tinha saído de casa há meses! Cheguei por volta da hora do almoço e tinha sido preparado o meu prato preferido: lasanha à bolonhesa. Enquanto comíamos a sobremesa e ouvíamos Ana falar sobre uma colega de classe que não havia gostado dela, percebi, no canto da sala de estar, Musa deitada em sua caminha me olhando, ou melhor, parecia estar me monitorando. Não tinha ficado perto dela nenhuma vez ainda desde que cheguei. Como se tivesse percebido que estava pensando nela, Musa levantou e subiu as escadas em direção aos quartos. Suei frio. Será que novamente aquela cena aconteceria? Entraria no meu quarto e ela estaria em pé segurando algo meu? Como se meu corpo se movesse sozinho, levantei-me da mesa e segui para o meu quarto. Todos me olharam com uma cara de curiosidade, porém nem tive tempo de dizer nada a eles, precisava ir ao segundo andar da casa.

Parei em frente à minha porta. Minha respiração estava tensa, minhas mãos suavam, mas eu precisava entrar. Abri a porta lentamente, entretanto, para a minha surpresa, tinha ninguém. Musa não estava em lugar algum. Procurei dentro do guarda-roupa, embaixo da cama, até em lugares improváveis, como atrás dos meus bonecos de ação na prateleira, e nada. Não sabia se ficava aliviado ou preocupado. Resolvi sair do quarto para procurá-la nos outros cômodos. Abri a porta e mal coloquei o corpo para fora quando dei de cara com ela.

— Procurando alguma coisa? — perguntou Musa, visivelmente segurando o riso da minha cara de espanto.

— AH! — gritei levando a mão rapidamente a boca e prossegui em tom de cochicho. — Quer me matar do coração?! Que você...

— Entre. — ordenou Musa me interrompendo.

— Quê?

— Se quiser que eu fique aqui, tudo bem!

Recuei para dentro do quarto e abri passagem para que ela entrasse também. Nesse momento, reparei que sou alguns centímetros mais alto. Apesar de ser um gato, não cheirava como um. Quer dizer, eu não fazia ideia se gatos tinham cheiro. De qualquer forma, o dela era doce e suave, não consegui pensar em perfume nenhum que se comparasse com aquele. Não podia negar, ela era a garota mais cheirosa que já havia encontrado. Não que eu já tivesse cheirado muitas garotas, nenhuma por sinal, mas eu tinha acabado de completar 15 anos. Deixando isso de lado, fechei a porta e virei para olhá-la. Estava sentada na minha cama, encarando-me. A princípio, não consegui dizer nada. Fazia alguns dias que eu não a via e sua beleza peculiar ainda me deixava completamente sem jeito. Ela agia como se eu não estivesse ali, distraindo-se com a minha cortina. Reuni coragem e perguntei:

— Que fazia no meu quarto aquele dia?

— Não é da sua conta.

— C-claro que é! É o meu quarto!

— Desde o momento que fui adotada por sua família, esta casa passou a ser minha também, incluindo todos os cômodos. Ana não deixou claro que eu possuo essa liberdade?

— Ana... — pensei. — Você se transformou para ela também?

— Não. Disse que guardo segredos muito bem, não disse?

Ela me deixava maluco. O modo que respondia e o jeito que me olhava com certo desprezo. Tinha tantas perguntas, mas não conseguia organizá-las na minha mente.

— Que você é exatamente? Por que a minha casa? — perguntei tremendo.

— Não escolhi vir parar aqui. Henri me trouxe para cá.

— Meu pai? Onde ele achou você?

— Na rua.

Sempre essas respostas que me deixavam cada vez com mais perguntas na cabeça. Parecia que ela queria que eu soubesse sobre ela, mas ao mesmo tempo, que tudo permanecesse oculto.

Musa (Em Revisão)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora