Ligados por um olhar

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Quando acordou, Feng Gu não sabia dizer o que era sonho ou o que era realidade. Tudo parecia um pouco confuso em sua mente ainda sonolenta. Era estranho que por um instante ela não se lembrasse de nada que havia acontecido no dia anterior. Mas ao se lembrar de tudo, uma grande alegria a invadiu e ela não pode evitar sorrir.

Ao se levantar, alongou-se e foi escovar os dentes. Voltando do banheiro, percebeu o pen-drive em cima do livro de Xeng. Eles haviam combinado de se encontrar na mesma cafeteria onde Gu havia passado no dia anterior, para conversar e entregar o trabalho.

Ela não sabia o que esperar da sua nova vida que estava por vir, nunca havia saído de Yunnan, talvez fosse se sentir um peixe fora d'água ou poderia acabar gostando dessa mudança. Feng Gu também estava triste por ter que sair de perto da sua família, de seus amigos e principalmente de Xiao Jun. Será que ele sentiria falta dela?

Feng Gu olhou para o seu quarto, lembrando de tudo que já havia passado ali. Todas as madrugadas que ela e suas amigas passaram assistindo filmes e doramas enquanto tomavam chocolate quente, todas as vezes que havia ficado doente e passava o dia inteiro na cama. Seria difícil mudar de casa, de cidade. Mas ela estava disposta a tudo para realizar seu sonho.

Ao sair do cômodo, pegou o pen-drive e o livro de Xeng e foi até a cozinha, onde seus pais tomavam o café da manhã enquanto assistiam o tele-jornal. Ela pegou uma fatia de pão e foi até o sofá para assistir o noticiário também.

As noticias eram sempre as mesmas, poluição, acidentes e novas tecnologias. Uma vez ou outra algo de interessante acontecia. Como o dia em que uma criança havia deixado todos preocupados, pensando que ela havia sumido, mas na verdade estava na casa da avó, comendo bolo. Problemas de uma cidade pequena.

Seus pais, mais uma vez, a parabenizaram por ter conseguido a bolsa de estudos. E preparam um dia especial para ela. Nada para fazer. Nenhuma obrigação. Ela não teria que ir plantar arroz com os dois e teria o dia livre para sair com Lin para se divertir. Ao saber de tudo, ela se sentiu privilegiada, pois sairia daquela mesma rotina entediante que ela e os pais repetiam todos os dias desde que se conhecia por gente.

Após terminar seu café da manhã, a nova universitária foi ao seu quarto para trocar de roupa. Para um dia quente como aquele ela resolveu usar sua saia branca com uma blusa ombro-á-ombro azul e seu tênis branco. Olhou-se no espelho mais uma vez e ajeitou seu cabelo rebelde (quem sabe quando ela encontraria Xiao Jun andando pelas ruas, não é mesmo?) e saiu de casa com o livro e o pen-drive de Xeng em mãos, pulando nas poças de chuva que haviam se formado durante a madrugada. Durante o percurso a garota cumprimentava todos que passavam por ela. Desde que era criança Gu adorava passear pelas ruas de sua pequena cidade, olhando o movimento das pessoas. Sempre que podia, comprava comidas de rua e andava com suas amigas, conversando sobre coisas mundanas. Sentindo a brisa do vento no seu rosto e sorrindo aproveitando a inocência da juventude.

Subitamente lembrou-se de um dia fresco de primavera há três anos. Ela e as amigas andavam perto do centro da cidade, falando sobre o conteúdo das provas, quando começou uma forte chuva. A precipitação estava tão forte e as gotas de chuva tão grossas que Feng Gu não conseguia abrir os olhos. Chamou por suas amigas, porém elas já haviam se retirado do local, deixando a amiga no meio da confusão, perdida. Então, lá estava a pobre Xiao Feng Gu sentido as gotas pesadas acertarem seu couro cabeludo, como se fossem pedras de ponta afiada, e suas roupas encharcarem a cada segundo que se passava. Gu não sabia o porquê de não se mover. Ela poderia ter, mesmo se conseguir abrir os olhos, ido embora andando, entretanto algo a impedia de mexer os pés, como se os mesmos possuíssem as mais fortes raízes encravadas na terra abaixo de si. Talvez fosse o medo ao saber que estava sozinha, não podia escutar nada além da chuva e aquilo a assustava.