- Rose, por favor, deixa-me contar-te tudo o que aconteceu. – Pediu ele, tentando agarrar-me o braço sem sucesso.

- Devias ter pensado nisso antes. – Respondi bruscamente, afastando-me. Sei que se continuar aqui vou fraquejar por isso preciso de ir para casa. Casa? Pois. Tenho passado tanto tempo em casa dele que quase já sentia aquele lugar como meu também. Vai ser difícil brincar ao “recuperei a minha vida antes-do-Zayn”, muito mais do que eu julgava. Talvez venha a acordar mais tarde e tudo isto não tenha passado de um pesadelo horrível.

 – Nunca deverias ter-me ensinado a construir pontes quando o teu propósito era destruí-las. – Sussurrei de forma quase inaudível, sabendo que ele ouviria. Dito isto virei costas e ignorando os seus protestos caminhei até ao carro, seguida pela Tris, pelo Louis e pela Tinna, onde me afundei no banco de trás a chorar compulsivamente.

*

- Ok. Chega!

Interrompi o meu movimento e olhei para eles, com uma colher de nutella pendurada a meio do caminho da boca.

- Que se passa? - Perguntei, indiferente, dando continuidade à minha deliciosa tarefa.

- Rose, isto é uma intervenção. - Informou o Harry com solenidade.

- Uma quê?

- Uma intervenção. - Repetiu, visivelmente aborrecido por eu estar a quebrar o momento sério na coisa. - Fracamente, já passou uma semana, tu vais ter de sair de casa algum dia!

- Eu saí. - Protestei, ligeiramente chateada. - Ontem fui comprar pão.

Eles trocaram olhares e a Tinna falou:

- Rose, não quero ser má, mas...

- Tu queres. - Sussurrou a Tris, irritada.

Ao que parece a Tinna e o Louis namoram oficialmente e ela passa a vida metida aqui em casa. Apesar de não a odiarmos a ponto de a pôr fora da porta, coisa que até há uns meses atrás era bem possível, é uma espécie de ódio respeitável: ela pode respirar o mesmo ar que nós desde que não nos dirija a palavra a não ser em casos de extrema (mesmo muito extrema) necessidade.

- Estava eu a dizer que não queria ser má mas... - Continuou ela, ignorando a Tris. - Tu estás com um aspeto medonho.

Ela estendeu-me um pequeno espelho e pela primeira vez numa semana eu vi o meu reflexo. A minha cara está bolachuda e avermelhada devido às lágrimas constantes, os meus olhos têm marcas escuras típicas de quem pouco ou nada tem dormido, o meu cabelo, que sempre tratei com cuidado redobrado, está feito em novelos secos e erriçados. Imagens da pessoa que era antes de tudo isto acontecer vieram à minha mente e instintivamente afastei o espelho, sentindo a ameaça, agora recorrente, das lágrimas.

- Deixem-me em paz. - Pedi, focando a minha atenção na televisão onde passava pela terceira vez nessa semana o musical do fantasma da ópera.

- Rose, estamos preocupados contigo. - Confessou o Louis, sentando-se ao meu lado. - Desde que aconteceu...aquilo... tu és uma pessoa completamente diferente. Não te queremos forçar a nada, mas tu tens de fazer algo para sair deste estado.

- Como o quê? Ir trabalhar? Para me esbarrar com ele a todo o momento? - A minha voz está rouca devido ao choro e ao pouco uso que lhe tenho dado ultimamente. Agora que penso nisso, acho que esta é a conversa mais longa que tive desde aquele dia. Tenho acordado todas as noites com pesadelos horríveis, que envolvem na sua maioria o Zayn a tentar matar-me, ou sonhos demasiado bons que são dolorosos de esquecer quando confrontados com a realidade.

- Vais ter de tomar uma decisão, ou ficas lá e lidas com isso, ou tens de te demitir. - Explicou a Laureen calmamente.

Ficar lá seria ridiculamente duro para mim. Eles continuam a dizer que a vida anda para a frente, e que tenho de ultrapassar isto, mas não é justo. Não é justo que eu tenha de avançar com a vida para a frente quando eu sinto que a deixei algures atrás de mim.

Love WingsWhere stories live. Discover now