Prólogo

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Vamos começar mais uma jornada! 🥰🥰🎉🎈🍾

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Anne

De olhos fechados, sorvo uma lufada de ar em uma profunda respiração diafragmática que aprendi nas aulas de yoga ainda na época de solteira, sempre me acalma em momentos de ansiedade. Já tomei água com açúcar, lavei o rosto pelo menos duas vezas e nada do frio na minha barriga passar. Só aumenta conforme os minutos passam. Eu não fiquei nervosa assim nem na primeira vez em que me apresentei e isso já faz muitos anos, na verdade, não me lembro de ter ficado tão agitada assim nem do dia do meu casamento.

— Tudo pronto, filha? – Pergunta padre Valentim me entregando o microfone, seus olhos de imediato descem para mim mão tremula alisando o tecido  da minha túnica.

— Mais que pronto, padre. – Forço um sorriso amarelo, nada convincente diga se de passagem.

Mas estando no meio da missa, ele não tem muito o que argumentar. Não lhe resta alternativa a não ser confiar em mim.

— Só um minuto Anne, o microfone está desligado. – Uma das meninas do nosso coral da igreja, o qual sou coordenadora e vocalista, me dá uma assistência técnica.

— Muito obrigada Vera, você é um amor. – Sorrio para ela a mulher de cabelos louros claro curto e olhar cheio de ternura, além de grande amiga tem um filho lindo especial que é meu aluno de catecismo.

Só alguém tão doce como a Vera, para criar um anjo como o Joãozinho. Especial e inteligente demais para a sua idade.

— Agora meu filhos, chegou a hora da apresentação do Coral das Carmelitas da nossa paroquia. – Anuncia Padre Valentim, sou obrigada a deixar o nervosismo para o lado e assumir o meu lugar no altar a frente das meninas.

De onde eu estou tenho uma ampla visão de todo o salão da igreja, até que não está muito lotada. Os bancos de trás praticamente vazios, não sei por que o motivo de todo esse nervosismo. Meu marido o Tenente Marcos Vargas, homem muito respeitado aqui em Mato Grosso. Está sentado no banco da frente de olho em mim, aceno para ele sorrindo. Ele não sorri de volta. Apenas acena. É um homem digamos que... reservado.

— Boa noite a todos, o louvor que escolhi para hoje é "Ressuscita-me" da cantora Aline Barros. – Com o dedo polegar, faço sinal para a banda começar a tocar.

Fecho os olhos e começo a cantar, sou tocada de uma maneira forte como se iniciasse uma conversar com Deus através da letra. Tem coisas sobre minha vida que só ele sabe, não tenho intimidade para conversar com mais ninguém.

"Mestre, eu preciso de um milagre

Transforma minha vida, meu estado

Faz tempo que eu não vejo a luz do dia

Estão tentando sepultar minha alegria

Tentando ver meus sonhos cancelados

Lázaro ouviu a Sua voz

Quando aquela pedra removeu

Depois de quatro dias ele reviveu...

Mestre, não há outro que possa fazer

Aquilo que só o Teu nome tem todo poder

Eu preciso tanto de um milagre..."

Paro de cantar bem na hora do refrão, sinto uma presença forte se aproximando, e não é divina. Ao ponto de me deixar sem voz. A banda continua tocando, contudo, por mais que eu mexo os lábios não sai uma palavra. Abro os olhos e minha atenção é toda roubada por um estranho parado no meio da porta da igreja, um homem gigante de postura marcante com as mãos fechadas em punho rente ao corpo cheirando a perigo.

É evidente que esse lugar não combina com esse cara, parece ter sido atraído aqui pela mesma força que me consome desde que pisei nesse altar. Apesar do capuz do seu moletom cinza cobrir sua identidade, sinto que seus olhos também me avaliam. Minuciosamente.

— O que foi, filha? Parou de cantar no meio do louvor. – Padre Valentim toca meu braço e eu tiro o olhar da porta por um segundo, quando retorno o homem havia desaparecido como se nunca estivesse estado ali.

Prefiro acreditar que tudo não passou de fruto da minha imaginação, porque caso esse homem volte a aparecer na minha vida trazendo toda essa energia que senti na sua presença hoje. Não vai terminar em boa coisa.

— Eu só senti um mal-estar padre, podemos começar de novo? Me desculpe! – Minto.

Se tem uma coisa que sou ótima, é fingir. Fingir que tudo está bem quando de fato, beira a tragédia.

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E aí meninas, qual é a opinião de vocês logo de cara com esse prólogo? 😜

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