Café, tulipa e teologia

🌷 A depravação do homem

Rafaela nunca havia imaginado que aquele cantinho afastado da cafeteria, onde outrora ela havia julgado ser um espaço desperdiçado, seria o palco de pequenas, mas entusiasmadas reuniões. E quando as três jovens amigas adentraram no estabelecimento acenando timidamente para ela antes de assumirem o lugar cuidadosamente escolhido, a dona do espaço sorriu contente por constatar que seu negócio fornecia comida para o corpo, mas também era lugar de compartilhar um alimento muito mais importante: o espiritual.

- Eu estou chocada, meninas! Cada vez mais aprofundando na teologia, vejo quão raso era meu conhecimento. - Eliza, a jovem dos cabelos longos e da cor de caramelo, deixou o livro intitulado "Os atributos de Deus", de A. W. Pink, na mesa ao lado da sua xícara de café. A leitura da obra fora sugestão de Gisele, para complementar o estudo do encontro anterior das três amigas. - Estudar as escrituras é incrível. Eu só posso agradecer a vocês pela oportunidade.

Gisele e Joana compartilhavam do mesmo sentimento, embora o contato com a teologia não fosse de todo novo para elas.

- É uma maravilha mesmo! Principalmente porque através do estudo dos atributos, tanto os incomunicáveis e os comunicáveis a nós, podemos conhecer as características do Senhor - disse Gisele repousando as mãos sobre a mesa.

- Concordo. - Joana suspirou e tirou de sua bolsa uma pilha de materiais que usariam para o estudo daquele dia. - Aonde paramos? Vejamos... - Ela folheou o livro usado como base para os encontros e chegou à página desejada. - Aqui está! Vamos repassar novamente um pouco sobre imagem de Deus refletida no homem?

- Acho perfeito! Preciso fixar melhor os pontos. - Eliza sorriu satisfeita pelas três estarem na mesma sintonia.

- Também havia pensado nisso - concordou Gisele. Ela abriu sua bíblia e retirou lá de dentro algumas folhas dobradas, esclarecendo para as companheiras do que se tratava. - Eu trouxe um artigo muito bom do Gildásio Reis chamado de "A imagem de Deus" para complementar o que vimos. Ele explica que a humanidade apresenta a imagem de Deus com tendo uma tríplice relação: com Deus, com o próximo e com a criação. E podemos pontuar algumas qualidades que demonstram essa semelhança. - A jovem abriu o papel e leu. - Um: o ser humano reflete a imagem de Deus como ser que é relacional. - Gisele deixou o papel sobre a mesa e comeu um pedaço de sua torta de nozes. Engoliu e prosseguiu: - Podemos perceber isto pela forma como Deus criou a família e dispôs o homem em uma condição que pudesse exercer as suas características. - Olhou para as meninas e perguntou: - Quais os outros vocês diriam?

- A espiritualidade? - Eliza arriscou um pouco receosa de sua resposta. - O Senhor é espírito e o homem também. - Ela mordeu os lábios e encarou as amigas. - Estou certa?

- Sim, Eliza - afirmou Joana e refletiu alguma maneira de contribuir com o estudo. -Podemos acrescentar o poder intelectual, pois o homem é capaz de raciocinar e ser inteligente como Deus. As feições naturais, que capacitam o homem a ligar-se com outros seres e coisas e, claro, também há a liberdade moral onde o homem pode fazer coisas obedecendo a princípios morais.

Eliza ouvia atentamente e, provando refletir a imagem de Deus sendo um ser racional, logo algumas questões surgiram dentro de seus pensamentos.

- Uma dúvida - Eliza interrompeu Joana. - Essa imagem de Deus no homem, no caso, não é refletida completamente, não é? Digo, nós não conseguimos ser exatamente igual a Deus, não perfeitamente. Pelo que eu compreendi, o processo de santificação é o trabalho do Senhor para aperfeiçoar a imagem de Cristo em nós, mas ele nunca será completo, não aqui...

- Correto. E essa obra há de durar até alcançarmos a imagem completa e sermos como Cristo. Mas isso será apenas na Eternidade, onde haveremos de receber um corpo incorruptível, assim como diz em 1 Co.15. 52-53. - Joana abriu sua bíblia e leu: - "Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados." - Suspirou diante de tão belas palavras. - Uma pena que até lá precisemos conviver com o pecado.