Pesadelo

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A primeira coisa que teve consciência foi do fato de estar presa em uma cela, as barras de ferro que a cercavam parecendo maciças. Passado esse choque inicial, a segunda coisa que inundou a sua mente era que não estava sozinha, nem na cela e nem no aposento.

Posicionada ao fundo do espaço restrito, Diana olhou ao redor. Estava em um amplo salão redondo de teto abobadado iluminado pela luz bruxuleante das velas, as pilastras de sustentação imitando com perfeição a arquitetura grega. No alto das paredes, símbolos estranhos pareciam contar uma história de terror antiga que lhe despertava aflição. Voltou seus olhos para as estruturas feitas de gesso sólido tão semelhantes a arquibancadas que contrastava com o ar vitoriano do local. Em cada fileira, dezenas de pessoas com máscaras e mantos escuros olhavam com excitação e expectativa para um ponto no centro daquele local.

Antes de voltar seus olhos para o que atraía tanta atenção, observou seu colega de cela. Era um menino, uma criança de não mais que 10 anos que agarrava com desespero as barras que os prendiam. Os cabelos eram de uma coloração escura que beirava ao azul, a estrutura esguia do pequeno corpo sendo coberta pelo short marrom e por uma camisa quase totalmente arruinada que carregava manchas de sujeira e sangue; no delicado tornozelo, um pesado grilhão prendia o garoto e limitava seus movimentos.

Observou com horror os cortes profundos nas costas do menor, o pano rasgado mal cobrindo a carne exposta. Ao lado direito próximo às costelas, um círculo com detalhes intrigados foi feito a ferro quente, os detalhes da horrível marca ainda indistinguíveis na pele machucada.

Tentou se mover para mais próximo do menino, desejava verificar se havia ferimentos mais graves no corpo frágil, mas não saiu do lugar. Tentou chamá-lo, porém, seus lábios não se abriam e sua garganta não emitia som.

Sentiu o desespero se infiltrar em seu corpo enquanto olhava novamente ao redor em busca de qualquer coisa que pudesse ajudá-la a chegar ao garoto ou sair dali e buscar ajuda, porém, seus olhos arregalados com o crescente medo se fixaram na cena a sua frente.

No centro do salão, havia um altar de gesso tão sólido quanto as estruturas que rodeavam o local, no chão um círculo foi desenhado com os símbolos das paredes e em seu interior frases foram escritas em uma língua desconhecida, correntes grossas se despontavam das laterais da mesa mantendo preso outro corpo infantil idêntico ao da criança com quem dividia a cela.

Seu irmão gêmeo.

Os finos pulsos restritos estavam em carne viva, gotas de sangue tingiam o piso de vermelho formando uma pequena poça que crescia cada vez mais, estranhamente seguindo as marcas e desenhos no chão. No corpo pequeno, vários cortes vertiam o líquido carmesim tingindo as roupas, idênticas ao do irmão, da cor púrpura. Observou, em um misto de desespero e horror, a criança mexer-se quase inerte, sem forças para continuar a lutar contra as correntes. Tentou novamente se mover redobrando sua ânsia em sair do lugar. Tinha que ajudar aquelas crianças, tinha que tirá-las daquele local... Tinha que fazer alguma coisa!

Diana se sobressaltou quando dezenas de vozes iniciaram em coro um cântico sinistro cantado em uma língua estranha, a qual suspeitava ser latim. Uma pesada porta se abriu no outro lado do aposento por onde um homem de máscara entrou, seu corpo coberto por mais um daqueles mantos escuros, em sua mão carregava uma adaga com sucos que formavam os mesmos símbolos que ornamentavam as paredes e o chão ao redor do altar.

Era uma adaga cerimonial.

Percebeu, em pânico, que estava presenciando um culto pagão no qual ambas crianças eram o sacrifício que invocaria a entidade que aqueles monstros buscavam. O medo tomou seu peito ao mesmo tempo em que observava aquele homem se aproximar do garoto preso ao altar e suas tentativas de se mover serem infrutíferas. Sentiu seus olhos arderem e as lágrimas molharem seu rosto enquanto tentava, em vão, gritar que parassem, que alguém ajudasse o menino.

Potentia Regere (Imaginary 2)Où les histoires vivent. Découvrez maintenant