Assim que entro no quarto me deparo com Vanessa convulsionando em meio aos brinquedos.

— Chama uma ambulância, rápido. — Exijo indo a seu encontro.

******************************************

Durante dois dias Vanessa ficou internada no hospital. Uma overdose de todos os remédios que eu tinha para tratar a dor na perna. Ela tomara todos. Era um milagre que eu ainda estivesse viva.

Não saí do seu lado um minuto que seja. Eu a vi entubarem, fazerem a limpeza de todas as drogas de seu organismo. Estava ali quando ela vomitava um líquido preto, de acordo com os médicos e enfermeiras aquilo era normal, era o corpo expelindo tudo para fora por causa do carvão ativado que ela estava tomando.

Quando Vanessa recobrou a consciência eu estava ali. De pé ao lado do seu leito.

Eu estava furioso com ela. Vanessa preferia a morte a estar comigo. Ela já não sabia mais como viver sem nossa filha. Eu também não, mesmo assim ainda queria estar perto de minha mulher. Eu ainda a amava, mesmo que em seus olhos eu já não tinha mais certeza se ela sentia o mesmo por mim.

Ela fez uma careta como se sentisse dor para engolir.

— Bebe um pouco de água. — Eu servi da jarra recém colocada ali por uma enfermeira e com o auxílio de um canudo ela bebeu apenas um pouco.

— Minha garganta está doendo. — Sua voz sai fraca.

— Tiveram que te entubar para a lavagem estomacal. Você vomitou bastante também.

Tentei segurar em sua mão, mas ela se esquivou e cobriu os braços com o lençol.

No terceiro dia após a primeira tentativa nós voltamos para casa.

Vanessa entrou em silêncio, um ar de derrota e vergonha estava estampado nela. Quando começou a subir as escadas logo vi que ela se encaminhava para o quarto de Emi. Eu a segurei pelo pulso e com a firmeza que eu jamais usava com ela me impus.

— Não. Você não vai entrar lá.

Vanessa puxou braço e desceu os degraus sem dizer nada. Foi até o sofá e se encolheu ali do mesmo modo que ficava no quarto de nossa filha.

Eu me sentei na poltrona próximo ao sofá onde ela estava.

— Seus pais me cobraram uma posição sobre sua tentativa de suicídio.

Ela continuou calada.

— Eu não internar você Vanessa, mas você ao menos tem que me dar uma luz, me dar algum sinal. Eu preciso de você ao meu lado amor. Se abre comigo. Está tão difícil conviver comigo que você prefere se ... — Nem consigo terminar de dizer.

Ela começou a chorar.

—Eu sinto tanta falta dela. — Ela desmoronou agarrada a uma almofada. — Eu não aguento mais tanta dor. Eu preciso de ajuda, Pedro. Porque essa tristeza parece não ter mais fim.

Eu levanto e me aproximo dela.

— Ei .. ei ... ei — afasto seus cabelos vermelhos do rosto molhado pelas lágrimas. — estou aqui amor. — Pego suas mãos trêmulas e as beijo. — Eu estou aqui para você.

*****************************************

Aceitar que precisávamos de terapia não foi a parte mais complicada desse problema. Difícil foi engolir que o único com que Vanessa sentia-se a vontade e segura para as sessões era o seu ex, o doutor Otávio.

Eu não deixaria que meu ciúme atrapalhasse as melhoras lentas de Vanessa. Era difícil engolir as visitas diárias dele.

A amargura que eu sentia por não ser capaz de ser o homem a quem ela contava suas angústias me deixava louco, eu não conseguia me concentrar nas aulas.

Gêmeos Where stories live. Discover now