XXII - Descubro o amor

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— Não há muita coisa nesse meio profissional que eu não saiba — garantiu, orgulhoso, sem a menor modéstia.

— Eh bien, monsieur Aarons, desejo encontrar uma jovem chamada Bella Duveen.

— Bella Duveen? Não me é estranho, mas no momento não estou conseguindo associar o nome à pessoa. Sabe me dizer em que tipo de show ela trabalha?

— Isso eu não sei, mas trago comigo esta fotografia.

Mr. Aarons estudou a imagem por algum tempo. De repente, seu rosto se iluminou.

— Já sei! — e deu um tapa na coxa. — Por Deus, são as Irmãs Dulcibella!

— Irmãs Dulcibella?

— Exatamente. São acrobatas, dançarinas e cantoras. São uma boa atração. Devem estar em turnê, em algum lugar por aí, creio eu... isso se não estiverem em férias. Estiveram uma temporada em Paris nas últimas duas ou três semanas.

— O senhor não consegue descobrir exatamente onde elas estão agora?

— Fácil, fácil. Recomendo irem para casa e até amanhã enviarei notícias.

Assim, nos despedimos dele. Ele cumpriu a promessa direitinho. Por volta das onze horas do dia seguinte, ele nos enviou um bilhete, no qual se lia: "As Irmãs Dulcibella estão no Palace, em Coventry. Boa sorte para vocês!"

Sem mais delongas, rumamos para Coventry. Poirot não investigou nada no teatro, apenas comprou entradas para o show de variedades daquela noite.

O show não tinha a menor graça — ou talvez fosse meu estado de humor que fizesse as coisas parecerem entediantes. Uma família de japoneses fazendo uma sofrível apresentação de equilibrismo, um grupo de dançarinos fora de moda trajados em costumes verdes e usando gel no cabelo, girando freneticamente e sapateando pelo palco, sem falar nos cantores líricos de voz mal ensaiada soltando gritos estridentes, um comediante tentando imitar mr. George Robey sem o menor talento para isso.

Finalmente, anunciaram o número das Irmãs Dulcibella. Meu coração disparou. Lá estava ela, ou melhor, lá estavam as duas, uma loura, outra morena, as duas mais ou menos da mesma altura, vestindo saias curtas e bufantes e laçarotes no melhor estilo Buster Brown. Pareciam duas crianças extremamente levadas e provocativas. Começaram a cantar. Possuíam vozes límpidas e com personalidade, porém às vezes um tanto finas e pouco confiantes, mas atraentes, no conjunto.

A apresentação da dupla foi muito interessante. Iniciaram com um ótimo número de dança e evoluíram para ousadas acrobacias. As letras de suas músicas eram provocantes e maliciosas. Quando a cortina desceu, foram muito aplaudidas. Evidentemente, as Irmãs Dulcibella eram um sucesso.

Subitamente, tive desejo de ir embora. Queria tomar um ar fresco lá fora. Perguntei a Poirot se gostaria de vir comigo.

— Pode ir, mon ami. Estou me divertindo, pretendo ficar até o final. Mais tarde nos veremos.

Apenas alguns passos separavam o teatro do hotel. Subi para o salão e pedi um uísque com soda. Fiquei ali sentado, apreciando meu drinque e meditando sobre o nada. Foi quando ouvi a porta se abrindo. Voltei-me para ver quem era, acreditando que fosse Poirot. Pus-me de pé num salto. Era Cinderela, de pé, diante de mim. Ela falou com voz agitada, meio sem fôlego.

— Vi você logo de cara. Você e seu amigo. Quando você se levantou para sair, eu já estava esperando do lado de fora. Segui você. O que está fazendo aqui em Coventry? Por que foi ao teatro esta noite? Aquele homem que estava com você é o... detetive?

Ficou ali parada, com a capa que havia colocado para esconder seu traje artístico escorregando-lhe sobre os ombros. Pude notar a palidez de seu rosto por baixo do ruge e ouvir certa expressão de terror que vinha das profundezas de sua voz. E, naquele momento, entendi tudo: por que Poirot estava procurando por ela, por que ela estava com medo, além da própria palpitação em meu peito...

O assassinato no campo de golfe (1923)Where stories live. Discover now