IX - Monsieur Giraud descobre novas pistas

Começar do início
                                    

Sem se deixar abater por essa ironia, Giraud respondeu:

— Ao menos sei de onde vêm.

Giraud retirou dois objetos pequenos do bolso e os depositou sobre a mesa. Todos se aglutinaram ao redor. Os objetos nada tinham de extraordinário: uma guimba de cigarro e um palito de fósforo não riscado. O detetive acercou-se de Poirot.

— O que vê aqui? — perguntou.

Seu tom de voz tinha algo de brutalidade. Isso me fez corar. Poirot, no entanto, permaneceu imperturbável e deu de ombros.

— Uma ponta de cigarro e um fósforo.

— E o que isso lhe diz?

Poirot esticou as mãos.

— Absolutamente nada.

— Ah! — disse Giraud, cheio de satisfação. — O senhor não examinou estes objetos. Não se trata de um palito de fósforo comum. Pelo menos não neste país. Este fósforo é bastante popular na América do Sul. Por sorte, não foi riscado. Do contrário, eu não o teria reconhecido. Evidentemente, um dos criminosos jogou no chão um cigarro fumado e, ao acender outro, deixou cair da caixa um palito não riscado.

— E o outro palito? — perguntou Poirot.

— Que outro palito?

— O que ele realmente usou para acender o cigarro. O senhor também o encontrou?

— Não.

— É possível que não tenha procurado direito.

— Procurado direito? — Por um instante, pensei que o detetive iria explodir de raiva, mas, com esforço, acabou se contendo. — Vejo que gosta de uma piadinha, monsieur Poirot. Mas, de qualquer modo, com ou sem fósforos, a guimba do cigarro sozinha nos diz o suficiente. É um cigarro sul-americano confeccionado num papel especial.

Poirot fez um gesto de reverência. O comissário falou:

— Tanto a guimba do cigarro como o fósforo podiam pertencer a monsieur Renauld. Lembrem-se de que faz apenas dois anos que ele retornou da América do Sul.

— Não — protestou o outro, confiante. — Já procurei entre as coisas de monsieur Renauld. Os cigarros que fumava e os fósforos que usava são totalmente diferentes.

— Não considera estranho — perguntou Poirot — que esses forasteiros tenham vindo para cá sem arma, sem luvas, sem pá e que tenham encontrado todos esses objetos ali, como se estivessem à espera deles?

Giraud sorriu demonstrando um ar de grande superioridade.

— É estranho, sem dúvida. De fato, sem a teoria que defendo, não haveria explicação para isso.

— Ah! — falou monsieur Hautet. — Havia um cúmplice na casa!

— Ou fora dela — completou Giraud, com um sorrisinho peculiar.

— Mas alguém permitiu a entrada deles. Não podemos aceitar que, simplesmente por um inesperado golpe de sorte, eles tivessem encontrado a porta da frente totalmente escancarada.

— A porta foi aberta para que entrassem, mas isso bem pode ter sido feito pelo lado de fora por alguém que tivesse a chave.

— Mas quem teria a chave?

Giraud sacudiu os ombros.

— Quanto a isso, quem possuir a chave não será tolo de admiti-lo. Porém, muitas pessoas podem ter essa chave. O filho, monsieur Jack Renauld, por exemplo. É verdade que ele está viajando para a América do Sul neste momento, mas poderia ter perdido a chave ou alguém pode tê-la furtado dele. Tem também o jardineiro, que está aqui há muitos anos. Uma das criadas mais jovens bem pode ter um amante. É muito fácil tirar o molde de uma chave e mandar fazer uma cópia. Há muitas possibilidades. Sem falar numa pessoa que, segundo minha opinião, tem grande possibilidade de estar de posse dessa chave.

O assassinato no campo de golfe (1923)Onde histórias criam vida. Descubra agora