III - Na Villa Geneviève

Start from the beginning
                                    

— É extraordinário — comentou monsieur Hautet quando o comissário terminou de falar. — O senhor trouxe a carta consigo, monsieur?

Poirot a entregou ao delegado, que se pôs a ler seu conteúdo.

— Hum... Ele fala de um segredo, mas é lamentável que não tenha sido mais explícito. Estamos muito agradecidos ao senhor, monsieur Poirot. Espero que nos dê a honra de nos auxiliar nas investigações. Ou será que precisa retornar a Londres?

— Bem, delegado, pretendo ficar. Não cheguei a tempo para evitar a morte de meu cliente, mas agora sinto que tenho o dever de descobrir o assassino.

O delegado concordou, baixando a cabeça ligeiramente.

— É um sentimento digno de honra. E, sem dúvida, madame Renauld ficará interessada em contar com seus serviços. Estamos aguardando monsieur Giraud, da Sûreté de Paris, a qualquer momento, e estou certo de que os senhores serão capazes de prestar assistência um ao outro nas investigações. Enquanto isso, gostaria que o senhor me desse o prazer de me acompanhar em meus interrogatórios. Nem preciso dizer que, se houver alguma coisa em que eu possa ajudá-lo, estarei à sua disposição.

— Agradeço muito, monsieur. Mas o senhor deve compreender que até o momento encontro-me totalmente no escuro. Não tenho nenhuma informação sobre nada que aconteceu.

Monsieur Hautet acenou para o comissário, que contou como tudo aconteceu:

— Hoje, pela manhã, a velha criada Françoise, ao descer para começar seu serviço, encontrou a porta da frente escancarada. Sentindo-se momentaneamente alarmada, com medo de ladrões, observou a sala de jantar. Vendo que a prataria continuava intacta, abandonou essa ideia, concluindo que seu patrão acordara mais cedo, com certeza, e tinha saído para caminhar.

— Perdão pela interrupção, monsieur, mas ele costumava fazer caminhadas matinais?

— Não, mas a velha Françoise sempre considerou os ingleses loucos, capazes de tomar as iniciativas mais estapafúrdias quando menos se espera! Indo despertar a patroa, como de costume, outra empregada mais jovem, Léonie, ficou aterrorizada ao descobri-la amarrada e amordaçada. Quase no mesmo instante, chegaram notícias de que o cadáver de monsieur Renauld havia sido encontrado, já duro feito pedra, com um punhal cravado nas costas.

— Onde foi isso?

— Este é um dos aspectos mais extraordinários do caso. Monsieur Poirot, o corpo se encontrava deitado, de bruços, numa cova recém-aberta.

— O quê?

— Sim. O buraco tinha sido escavado recentemente, num local próximo à divisa desta propriedade com a outra.

— E estava morto havia quanto tempo?

Desta vez, o Dr. Durand respondeu.

— Examinei o cadáver hoje, às dez da manhã. A morte ocorreu ao menos sete, possivelmente dez horas antes.

— Hum... Então o crime ocorreu entre meia-noite e três da madrugada.

— Exatamente e, segundo as primeiras declarações de mrs. Renauld, o fato ocorreu depois das duas horas, o que limita ainda mais essa margem de erro. A morte foi instantânea, com certeza, e naturalmente não se pode falar em suicídio.

Poirot assentiu e o comissário retomou sua fala:

— Horrorizadas, as criadas de madame Renauld a libertaram rapidamente das cordas. Ela apresentava um notável estado de fraqueza, quase inconsciente, em virtude das dores sofridas por ter ficado amarrada. Parece que dois mascarados invadiram o quarto, amarraram e amordaçaram a senhora e mantiveram seu marido sob ameaça. Disso sabemos pelo relato das empregadas. Ao tomar conhecimento da morte trágica do marido, madame Renauld entrou em um estado de incontrolável agitação. Ao chegar, o Dr. Durand imediatamente prescreveu-lhe um sedativo, de modo que ainda não tivemos a oportunidade de conversar com ela. Mas sem dúvida ela acordará mais calma e poderá enfrentar melhor o estresse de um interrogatório.

O assassinato no campo de golfe (1923)Where stories live. Discover now