"Lágrimas de chuva molham o vidro da janela mais ninguém me vê..." (Kid Abelha)

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Era uma noite escura, havia sido um dia muito muito triste mas não muito diferente de outros que já vive. Meus pensamentos estavam absorvendo o som que era projetado em meus ouvidos através dos fones, eu crio melodias novas, dançantes, alegres, sou DJ e meu objetivo é conseguir através da música fazer pessoas sorrirem, se jogarem na "night" mas agora nesse momento eu tenho meus olhos úmidos e inchados de tanto chorar, o motivo das minhas lágrimas tem nome. Adam.

Durante os cinco últimos anos ele foi com quem dividi minha vida, ele foi meu companheiro, um bom homem, trabalhador, honesto, gostava muito do que fazia afinal o meu amor pela música veio a partir dele que era músico já bem mais conhecido e a principal virtude desse homem era o seu romantismo, Adam era galanteador, de fala doce e mansa, tinha bons argumentos e era muito sociável mas completamente diferente de mim, ele gostava de bossa nova, curtia ficar em casa com um bom vinho e uma tigela de queijo enquanto desenhava a próxima melodia que faria as pessoas amarem umas as outras, ele tinha um dom incrível. Tinha.

Naquela noite já haviam se passado 30 dias que Adam havia falecido. Ele se foi. Ele morreu. Um acidente de carro na volta de mais um trabalho realizado, estávamos tão felizes com o que a vida estava nos dando, eramos muito bons juntos mas de repente algo foi arrancado de mim de uma maneira cruel e irresponsável, um homem bêbado atravessou o cruzamento e bateu de maneira fatal no carro de Adam. Foi tudo muito rápido. Tudo muito trágico. Muito traumático. Foi demais pra mim. E em um pequeno apto de Londres estava uma mulher triste e sozinha, buscando na música um alívio para sua dor. Era eu. Rose, a Rose do Adam.

A única coisa que se ouvia dentro de casa era meu choro contido um soluço cansado e uma dor no peito que não parava de gritar mas se ouvia também um bater na porta incansável, que devido aos meus fones eu não conseguia ouvir nada no mundo lá fora. 

Uma batida. Duas batidas. Três. Quatro. Enfim somente a dor poderia ser ouvido novamente. Alguém desistiu, eu também poderia desistir. Será?

Alguns minutos, quem sabe uma hora, haviam se passado e enquanto as lágrimas escorriam em meu rosto em um fechar e abrir de olhos me deparei com uma cena que fez meu corpo acender de um descarga elétrica muito forte que variou entre um susto de ser puxada pra realidade e a sensação de invalides por não ter tido a chance de me esconder de seja lá quem for ali parado na minha frente.

- Dona Rose, pode tirar seus fones? Desculpa ter entrado assim... eu...

Era o porteiro que estava ao meu lado com uma cara de pânico, tentando entender a cena, mas eu mantinha meus olhos fixos no homem a minha frente de pele branca, muito branca parecia mesmo um fantasma, olhos e cabelos escuros que tinham o mesmo tom preto. Escuro. Escuridão. 

Ele era alto e esguio, com aparência oriental. Ele me fazia sentir estranha. Eu estava ali parada, era uma pedra de gelo olhando fixamente para aquele rosto.

Um toque em meu ombro me arrancou desse congelamento em que eu estava e um grito de pavor ecoou por todo o apartamento.

- Ahhhhhhhhhhhhh!!!

Gritei e me escondi debaixo da mesa de som.

- Calma Dona Rose, sou eu o Fran. Calma!

Se justificava o coitado do porteiro que deveria está pensando que a inquilina viúva deve ter ficado louca.

Encolhida, ali em baixo da mesa fui me sentido quente, tranquila ai fui me acalmando e me senti fraca, impotente, e adormeci nos braços de alguém.

Encolhida, ali em baixo da mesa fui me sentido quente, tranquila ai fui me acalmando e me senti fraca, impotente, e adormeci nos braços de alguém

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Foto: Google - 271002334016201


Som do CoraçãoWhere stories live. Discover now