6. Os senhores

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 Acordei naquela manhã em meio a cobertores de seda tão macios quanto nunca tinha visto antes. Os aposentos que tinham me oferecido no dia anterior era pelo menos cinco vezes maior do que o que eu estava acomodada. 

Assim que entrei no lugar, guiada por Helgan no dia anterior, tive que conter minha expressão de surpresa. Uma sala de estar própria, com mobílias luxuosas, era o anuncio do que ainda iria encontrar. Eu explorei o local discretamente com o olhar. E duas portas de madeira me chamaram atenção, uma maior, que levava a onde estava agora, um quarto gigante com uma cama macia e um banheiro exclusivo, e uma menor, que levava a um escritório particular, com paredes abarrotadas de livros, sobre política, história e economia do reino de Rubi.

Me virei na cama, e observei a luz do sol entrar pelas enormes janelas com vidros coloridos, deixando o quarto ainda mais bonito do que me lembrava da noite anterior. 

— Acordou bem na hora, senhora. — Ouvi a voz de Helgan. Eu sabia que ela estava lá, seus passos furtivos tinham sido os responsáveis por me acordar em primeiro lugar, mas mesmo assim sua voz firme e intrusa me fez sobressaltar.

— O que quer Helgan? — Perguntei, minha voz ainda rouca pelo sono.

— Você deve se aprontar. — Ela falou. — Seus compromisos começam em duas horas.

— Compromissos? — Perguntei, me sentando no colchão. — Me disse apenas que tinha que comparecer à reunião importante, e ficar quieta até que a tortura terminasse.

Helgan franziu o cenho, e balançou a cabeça, olhando para o grande diário de capa negra que trazia consigo.

— Não me lembro de ter dito nada disso. — Ela disse somente. A expressão exausta que tinha visto em sua face na noite anterior, tinha se agravado ligeiramente. — A convesão funciona da seguinte forma. Pela manhã ocorre a reunião de regiões, os senhores da região noroeste se reunem de forma separada aos senhores da região suldeste, e ai discutem alternativas para o desenvolvimento da região. Depois vem o almoço, e na parte da tarde acontecem as reuniões individuais, por sorte a porção das ilhas leste apenas foi convidada para participar de uma.

Levantei a sobrancelha. Aquilo ia ser mais do que desastroso. Eu estava ali para caçar um assassino, apesar de reconhecer a ocasião perfeita para observar os herdeiros, eu não sabia nada sobre a terra que era responsável, muito menos sobre sua economia ou política. 

— Uma? Avise que não vou, tudo bem participar de reuniões onde posso apenas uma observadora, e onde não ligam o suficiente para a senhora de uma terra sem prestigio e sem influência, mas uma reunião individual é completamente diferente.

— Não podemos recusar. — Helgan falou, seu olhar saindo do livro que carregava para encarar meu olhar diretamente, e de forma dura. 

— Então vou apenas não comparecer.  — Rebati.

— Não tem esse direito. — Ela disse com o tom mais mais seco, e eu bufei. — Há mais de cinquenta anos a porção das ilhas leste é deixada de lado para escolher seu futuro, há mais de cinquenta anos, não temos sucessor ou senhor e por esse mesmo tempo não podiamos fazer acordos de comércio, não podíamos mudar as leis, não podíamos usar nossos impostos em melhorias para nossa terra. É algo incrível que tenhamos sido convidados para uma reunião individual tão cedo, então você vai.

Cautelosamente me levantei da cama desarrumada, e meu olhar encontrou o da assistente, bem mais baixa que eu. Me aproximei, e me diverti quando meu pequeno sorriso frio a deixou desconfortável o suficiente para recuar.

— Não respondo à você. 

Ela assentiu, mas  seu olhar não saiu do meu.

— Não mesmo, vi bem quando desafiou a própria rainha e jamais ousaria te dizer o que fazer. Você não responde a mim ou à qualquer outro, e isso não é de forma alguma o importante aqui. — Ela começou, sua voz firme e um pouco mais rouca do que o normal. — Você vai naquela reunião por que milhares de vidas dependem disso, você vai na reunião pelas milhares de pessoas que choraram de alegria ao saber que uma senhora finalmente tinha sido escolhida, e que finalmente eles poderiam se dar o direito de sonhar, e ter esperança de uma vida melhor do que a que tem agora, vivendo em casas precárias sobre as águas, quase sem curandeiros, ou educação.

A Herdeira de RubiOnde as histórias ganham vida. Descobre agora