Eu queria escrever hoje
mas escrever para as pessoas certas
aquelas que me machucaram
e que me machucam, aindaEu queria recitar hoje
para os meus agressores
amigos
mentores
às pessoas que eu amo
e aos estranhos da vidaEu queria chorar hoje
pelos meus problemas
os problemas do mundo
os seus problemas
já perdi a conta por quantos problemas eu choro todo ano
mas sei que não vai parar
tão cedoEu queria me libertar hoje
da minha rotina
os conhecidos
e desconhecidos
das construções da minha cabeça, e da sua
de todas as responsabilidades e
preocupações
de todo o sentimento ruim que me assola diariamente
semanalmente
mensalmente
anualmente
vidalmente
prasempramenteVocê não queria ter que me machucar hoje
e ontem
e em outras vidas
mas o machucado que você deixa é tão íntimo
e tão cruel
que não me permite querer nada
não me faz nem ter vontade de querer algo
É só dor,
angústia e tristeza
condensados em mim como um microcosmos de sofrimento
criado pela divindade mais penosa
o ser humanoVocê quer me abandonar
e eu sei que você pode
só não sei se eu posso
ou quero
porque querer já não está ao meu alcance
e se uma vez já esteve
me foi arrancado
esquartejado
extinguido
assassinadoVocê quer me matar
hoje?
Amanhã?
Faz diferença?
Você e eu ou você ou eu?
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As margaridas do parque e outros poemas
PoetryUm livro que demorou quatro anos para ser finalizado. Começou em 2016 com os poemas de uma jovem Letícia e seus questionamentos sobre a essência da vida e lentamente tornou-se no diário de uma adulta transtornada. Tudo aqui é parte de um processo de...