Encontre o seu lugar

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No ônibus lotado, vagou um assento.

Duas senhoras de pé, se recusam a interromper a ruidosa conversa para que uma delas se sente. Ou apenas fogem da desconfortável dança das cadeiras sobre rodas.

Um rapaz, do alto de seus vinte e poucos anos e sem nenhum tempo a perder, aproveita a oportunidade. Ele se senta, tenso.

- Moça, posso perguntar o seu nome? Talvez tivesse ensaiado a viagem toda para isso.

Ela retira um dos lados do fone de ouvido e afasta o livro do rosto:

- Err...Marcela.

Se o moço fosse um pouco mais inteligente, teria entendido nesse resmungo, que daquele mato não sairia coelho. Mas, convenhamos que para quem já está no inferno, resta abraçar o capeta. Ou, pelo menos, morrer de vergonha tentando.

- E seu telefone? Disse ele.

Pronto, o mal estava feito. Dali em diante, era ladeira abaixo. Ou vai ou racha. Ou caga ou sai da moita. Ou paga ou sai da fila.

E eis que de todas as respostas possíveis, deu-se a indesejada. Não é que faltasse tempo ou que a mãe não deixasse.

- É que eu tenho namorado.

Todo o constrangimento do mundo caberia naquele intervalo entre a igreja e a escola municipal. Mil tombos em praça pública não teriam o mesmo efeito. Ele sentia que se a próxima parada não viesse rápido, era o coração que lhe saltaria pela boca.

- Ah, tá. Desculpa.

E fim de conversa. No próximo ponto, o rapaz se levantou e foi para o fundo do veículo, proteger sua dignidade entre os ombros dos desconhecidos. Enquanto isso, a garota escondia um meio sorriso entre as páginas do livro no qual passava os olhos, sem nada ler.

O ônibus seguiu, porque é isso que os ônibus fazem e porque o tempo não desacelera para curar desilusões. Em cada parada, o coletivo deixa uma história e acolhe uma nova.

- Posso sentar do seu lado?

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⏰ Last updated: Oct 01, 2019 ⏰

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A vida entre as barras amarelasWhere stories live. Discover now