Fogo

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Na região da Nova Inglaterra, no século XV, diversas mulheres foram executadas sob o pretexto de caça às bruxas. A pena, muitas vezes, era ser queimada na fogueira. Não sabiam os algozes, porém, que o fogo capaz de dizimar uma vida, é o mesmo é capaz de gerar uma nova.

Gracia Duncan foi alvo da paixão arrebatadora de um dos princípios ingleses, já prometido a uma duquesa. Eles se conheceram em um baile, o qual família Ducan foi chamada por ser considerada influente na capital e endinheirada, apesar de não fazer parte da nobreza. O príncipe se encantou pela beleza, juventude e modos da menina, a ponto de conversar com ela algumas vezes, além de dançarem juntos as últimas duas músicas.

Com o intuito de aproximação, a família Ducan foi chamada mais de duas vezes, no mesmo mês, para passar a tarde no palácio, onde poderiam ouvir o príncipe tocar piano e onde ele poderia conversar com Gracia para descobrir mais sobre seus gostos e planos. A jovem não parecia muito interessada, mas a família jamais poderia recusar tal manifestação honrosa.

Os pais da garota, percebendo as intenções da alteza, tentaram mostrar à menina teimosa quais eram as grandes vantagens do casamento para a família - seria a melhor e mais rápida forma de ascensão social, que não poderia ser obtida de nenhuma outra maneira.

A menina, entretanto, não via beleza, tampouco inteligência no rapaz. Sua atenção já havia sido conquistada pelo seu primo, que crescera ao seu lado e, com a maturidade, começou a agir com gentileza e cortejo para conquistá-la. Era um casamento desejável pela família, que manteria as casas, fazendas e outras posses, nas mãos dos Ducan.

O príncipe, por sua vez, resolveu conversar com o rei e a rainha para propor Grécia em casamento, acreditando ser correspondido. Até porque, que plebeia, em sã consciência, recusaria entrar  para a monarquia inglesa? Provavelmente nenhuma. Ao explicar suas razões para as majestades, e todos os motivos para se casar por amor, gerou uma crise na família.

Um escândalo como esse não acontecia há mais de três gerações! Essa relação seria desvantajosa para a política e para os ânimos dos camponeses que começariam a acreditar na possibilidade de entrar para uma família real. O rei ficou perturbado, distribuindo ordens incabíveis e a rainha passou dois dias sem sair da cama.

Em pouco tempo, chegaram à conclusão do problema. Gracia deveria ser punida por feitiçaria e por sedução. Era plausível, sim, visando que não existiam motivos para um príncipe se apaixonar por alguém que sequer pertencia à nobreza.

No outro dia, houve a acusação, o julgamento e a suspeita foi presa e submetida ao escárnio público. Esperaram o pôr do sol, amarram-na em um tronco, acima de um amontoado de palha e atearam fogo na feiticeira. Os pais de Gracia nunca tiveram oportunidade de defendê-la, ameaçados de serem presos também. Sem direito a defesa, a menina sentiu a dor consumindo seu corpo e alma. Em minutos, ela perdeu também o direito à vida.

À meia-noite, a tia de graça saiu de casa em direção ao tronco onde sua sobrinha fora incendiada. A palha estava quente e as cinzas estavam aglomeradas. A mulher se ajoelhou e varreu as cinzas com as mãos, tirando também as palhas que escondiam um bebê recém-nascido.

"O mesmo fogo que queima, é o mesmo que provê", disse a Ducan, enquanto cobria a criança. Ela entendeu que o destino de sua sobrinha fora interrompido e sua morte deveria ser vingada.

O bebê cresceu e, aos treze anos, armou uma emboscada para uma família real. O jovem e mais seis comparsas, que também vieram do fogo,  interceptaram a carruagem dos monarcas e a carruagem com seus três filhos. As vítimas foram amarradas, em troncos de árvores, como Grécia, e foram todos assassinos, inclusive o príncipe que havia sido "encantado" pela Ducan, anos antes. O garoto teve a oportunidade de explicar, enquanto se preparava para atear o fogo: "exatamente da mesma forma que você tirou uma vida inocente, será a forma como a vida de vocês será tirada".  

  

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