A garota se preparou para começar. Se concentrou, encaixou seus pézinhos nos pedais e olhou para o seu pai.
- O que foi, filha, está com medo? - perguntou o homem
- E se eu cair, papai?
- Eu te levanto!
- E se eu me machucar?
- Eu trato dos ferimentos
- E se...
- Ei! Está tudo bem! O papai nunca vai deixar você.
A garota o contemplou com medo. Era mais uma de suas tentativas de aprender à andar de bicicleta, nas outras ela não teve muito sucesso. Não estava pronta para mais uma queda.
- Bem, vamos lá! - disse o homem - no três! Um, dois, três!
E lá se foram, a menininha fazendo esforço para pedalar o mais rápido que pode, e o seu pai ao lado, a segurando e acompanhando.
- Não olhe para trás, filha! Se concentre no caminho à frente! Deixe para trás todos os seus medos e inseguranças!
Já estavam muito longe, o homem lutava para estar ao lado da filha e ajuda-lá à enfrentar esse momento complicado para ela, com sua mente ainda ingênua.
- Continue filha! Olhe como está longe! Papai está orgulhoso de você!
A menina agora não fazia tanto esforço, agora estava fácil, mais do que quando iniciaram. O homem ainda tentava acompanha-lá, mas estava fraco demais, agora. Suas pernas envelhecidas, não aguentavam mais correr.
- Pode ir, filha - disse o homem - Não importa onde estiver, papai sempre estará com você.
- Mas, papai, eu não sei se estou pronta para isso sozinha.
- Um homem que não prepara seus filhos para sua ausência, falhou como pai. Eu sei que não falhei com você porque agora te olho e só sinto orgulho de você. Agora vá, filha! estou com você!
A mulher sentiu seu pai soltar o banco da bicicleta, e ouvindo gritos de comemoração do seu pai ela rumou ao fim da estrada, sozinha.
- Consegui, papai! - a mulher freiou e olhou para trás. Procurou e procurou, mas não o achou - papai?
Ergueu a cabeça, o último pedido de seu pai foi que não olhasse mais para trás, não iria faze-lo de novo. Triste, porém determinada, a mulher voltou a pedalar. Voltou ao seu curso, voltou a pedalar em direção ao fim da estrada.
